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domingo, novembro 11, 2007

Trânsito e letras




Trânsito e letras


É mesmo revoltante o que se vê, às noites, na Alameda Ricardo Paranhos. Meia-dúzia de “mauricinhos” e “patricinhas” invadem as pistas de automóveis; nas ilhas, não mais as barracas, mas mesas de plásticos e alguns prováveis professores acompanham os atletas noturnos. A imprensa já constatou que tais professores são de academias luxuosas e os atletas, parte da clientela pagante que, ao que tudo indica, não quer se misturar aos usuários da pista do Parque Areião, a poucos metros dali.


Pois bem: a imprensa já observou, identificou, mostrou e cobrou das autoridades. A Superintendência Municipal de Trânsito, parece-me, está acima do bem e do mal: não dá satisfações à sociedade. Faz ouvidos moucos, não age, não atua, não impede. A qualquer momento, já que a SMT não controla também a velocidade naquela região, uma tragédia vai acontecer. E aí, coronel-diretor, como é que fica?

Fica pintando a pista nas imediações da rótula da Avenida 85 com a Avenida T-63. Trabalho desnecessário, já que anunciam para breve o início das obras de mais um viaduto. E deixa-se de instalar sinais luminosos nos cruzamentos da Avenida 136 com a 145; e na Avenida Quarta Radial com a Rua 1037 – esquinas que vêm exigindo providências há tempos.


Enquanto isso, Batista Custódio sacode os brios de todos os governos de Goiás, desde Pedro Ludovico: é que o Palácio das Esmeraldas, em cujos aposentos e salas o Poder goiano instalou-se em 1937, completou 70 anos sem que disponha, até hoje, de uma biblioteca.


Incrível! Nós, escribas teimosos, frutos não da escolaridade, mas de nossas próprias vocações, criamos lastros pelos nossos esforços. O vetusto Liceu de Goiás, em sua unidade goianiense, completa também 70 anos agora (o Liceu transferiu-se da antiga capital para cá em 22 de novembro de 1937), que gerou alguns governadores (entre eles, Alcides Rodrigues, Íris Rezende e Irapuan Costa Júnior; Irapuan é, dentre todos os alunos do Liceu em Goiânia, o que detém as melhores notas dentre todos nós). Nem mesmo o Liceu, tradicional colégio, o segundo mais antigo do Brasil e, por muitas décadas, o padrão de ensino do Estado, detém uma biblioteca digna, pois algum(ns) diretor(es) de passado recente deram sumiço a livros raros e obras de arte de inestimável valor.


Uma amiga leitora indaga-me, estendendo a questão aventada pelo editor-geral do DM: “E o Paço Municipal? Tem biblioteca?”. Excelente e oportuna indagação! Não tem; o novo Paço Municipal não tem biblioteca, a sede da Prefeitura jamais a teve, em Goiânia. E, entre os secretários de governos, de qualquer nível (em Goiás) e em qualquer tempo, é comum encontrarmos secretários totalmente avessos à política dos livros. Se me cutucarem, cito nomes.


Aliás, e a bem da verdade, já tivemos aqui um prefeito a quem eu quis outorgar o título de “Inimigo Número Um da Literatura”. Não o fiz porque o meu amigo Ubirajara Galli me convenceu do contrário: o prefeito em questão receberia o título como honraria... É nisso que dá elegermos forasteiros para cargos tão importantes.


Em Anápolis, um prefeito construiu um Centro Cultural. Seu sucessor entendeu que a cidade não precisava de cultura e, sim, de um novo Paço. Expulsou a cultura e fez de lá um palácio. Que se danem livros e artes...


Olho os desmandos dos condutores no trânsito; vejo os abusos da Classe AA do Marista nas noites da Ricardo Paranhos; relembro o despreparo de alguns para cargos importantes e concluo: realmente, há que se fazer muito pela qualidade do ser humano em Goiás. As bibliotecas têm de existir, sim, nos palácios e nas escolas, para não dizer em cada lar. Um pé-rapado, como eu, tem em casa muito mais livros que as sedes dos Poderes Públicos goianos.


Se a nossa gente lesse mais, certamente não teríamos “homens públicos” tão despreparados.

5 comentários:

Mara Narciso disse...

" Uma nação é feita de homens e de livros", já dizia Monteiro Lobato. Tive a sorte de ler muitos livros e se mais não aprendi é indesculpável.

Sou apaixonada pelas letras e sempre estarei ao seu lado Luiz, quando a ordem for estimular a leitura e a escola.

A nefasta proliferação de faculdades Brasil afora tem seu lado menos ruim: a divulgação da importância dos livros. Vamos aplaudir a defesa da escolaridade, das letras e da educação--sempre!

Deolinda disse...

Aleluia, Poeta!
Finalmente chegou ao cerne do problema. Sem cultura e educação os nossos políticos tornaram-se miseros dizimistas.
Parabéns!

Madalena Barranco disse...

Luiz, às vezes endurecer, mas com ternura (hehehe) é uma boa solução! Os livros são a ternura perdida e se todos lessem mais e valorizassem as bibliotecas, com certeza as patricinhas & cia. e os políticos seriam bem melhores. Hum, os políticos? Não sei não... O certo seria que eles começassem bem cedo a amar os livros. Beijos e parabéns pela "bronca":)

Anônimo disse...

Oi, amigo!
Sempre fico a favor de quem briga por bibliotecas. Um amigo meu, aqui em Santa Catarina, salvou a Biblioteca do Estado - o governador queria sucateá-la, e ele tanto escreveu contra a idéia que a salvou. Mas recebeu um troco: um processo onde tem que pagar 15.000,00 reais, etc. Apelou, claro, e muitos de nós,outros escritores, saímos em defesa dele. Continua falando no assunto, que acabam surgindo as bibliotecas por aí. Para qualquer emergência, avisa-me que saio emtua defesa.
Urda.

Saramar disse...

Luiz, creio que vou enviar a crônica para cada um dos prefeitos deste Estado.

O descaso com os livros demonstra m uito bem o nível paupérrimo dos nossos governantes. Mostra também que, além de serem ignorantes, espalham sua ignorância entre os iguais, com tal exemplo.


Ifelizmente.

beijos, boa semana para você.