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segunda-feira, junho 30, 2008

"A praça! A praça é do povo... "

“Como o céu é do condor”



O homem saiu de casa, nas proximidades do Parque Areião, de carro, a passear com a filha de três anos. Percorreu a Avenida Edmo Pinheiro (que o poder público municipal teima em chamar de Quinta Radial, esquecendo-se que a Quinta Radial desapareceu para se chamar Xavier Júnior, que foi absorvida pela denominação de T-63). Tomou a Primeira Radial, a Praça Izidória (que virou uma estação de ônibus), alcançou a Quarta Radial. Do Setor Pedro Ludovico, chegou ao Bela Vista, contornou a obra do viaduto no cruzamento da T-63 com a Avenida 85/S-1, desceu a T-4 (continuação da T-1; nunca entendi porque muda de nome) e virou à direita na T-62. Chegou à Praça da T-25.

Não há uma razão lógica para que as vias do Setor Bueno sejam nominadas pela letra T e uma numeração de 1 até... até... Até T-65. Não me lembro da seqüência lógica continuada. Como também não entendo o porquê de as praças de Goiânia, em sua quase totalidade, não terem nomes. Essa, a citada, é “praça da T-25”.

Diz a lenda que aquela praça é a “mais bela da cidade”. Permito-me discordar: a Praça Universitária (esta tem nome; como a Praça Izidória, que virou estação) é a mais bela, sem dúvida nenhuma. Nem mesmo traficantes e drogados conseguiram acabar com ela. É bela desde a inauguração, em 1969, e as estátuas fizeram-na mais bela, ainda.

Mas eu falava do homem com a filha de três anos. Bem, ele chegou à “praça da T-25” que, diz a lenda divulgada na imprensa, à época, foi construída com dinheiro da prefeitura e dos moradores vizinhos. Não sei se era Páscoa ou Natal, mas a nossa ingenuidade acreditou nisso. E o homem com a filha parou o carro na “praça da T-25” e levou a menina para correr e curtir os jardins e sorrir como sorriem sempre as crianças nas praças.

Sorria também o pai da menininha: se a filha estava feliz, mais feliz estava o pai. De repente, derrepentemente, o pai sentiu um peso estranho sobre seus ombros e nuca. Olhou em torno, virou-se e viu que era alvo de olhares de rapina de um tantão de mães de outras crianças. Concluiu: eram as mães da praça em junho, ou seja, nada a ver com as Mães da Praça de Maio que marcaram a história de Buenos Aires após a ditadura, num tempo em que o “irmão-do-norte” bancou ditaduras em toda a América Latina. Eram olhares das mães da vaquinha, certamente. E assim como as Mães da Praça de Maio não gostavam dos ditadores argentinos e seus paus-mandados, as mães da T-25 não gostam que “pessoas de fora” levem crianças para brincar “na sua praça”. Sim: elas acham que a praça é delas.

Talvez seja, não é? Não creio que aquela gente tenha ajudado a fazer a praça, não. Ninguém gosta de contribuir extra-impostos com o poder público; muito menos os ricos (os pobres ainda vão a mutirões e dão de seu suor). Mas eles têm a praça como sua. E alguns da prefeitura concordam (parece, ao menos).

Duvidam? Confiram: a obra do viaduto, a poucas quadras da praça, exigiu mudanças no tráfego; mas a Superintendência Municipal de Trânsito montou um quebra-cabeças complicadíssimo para não perturbar a tal praça. E já zelava por isso bem antes: a Rua T-62 tem fluxo no sentido oeste-leste, mas é bruscamente interrompida ao cruzar a T-4, evitando veículos na praça. Agora, a razão mandaria dar fluxo contrário na T-62, invertendo também o sentido da T-64, mas a SMT preferiu poupar, mesmo, o sossego dos “donos” da praça, sobrecarregando os demais moradores.

Foi por isso, meu caro senhor pai da menina, que as aves de rap... Desculpe! “as mães da praça da T-25” olharam para você com carga de rejeição e ódio. Você não respeitou os sinais discretos para não “invadir” o reinado delas.

E pensar que Castro Alves escreveu: “A praça! A praça é do povo...”.

terça-feira, junho 24, 2008

Um cheiro de mar, talvez

Em 29 de abril, postei o poema "Um cheiro de mar, talvez" - mas o programa corrompeu a configuração, mudando tipo e corpo das fontes.

E aí, reproduzo agora o poema, com fundo musical e tudo mais... Confiram!

Obrigado,

Luiz de Aquino

sexta-feira, junho 20, 2008

A fotografia na História


A fotografia na História


O jornalista Edmar Oliveira envia-me, pelo correio eletrônico, uma série de fotos históricas: começa com a primeira fotografia, de Nicéphore Niépce, obtida após oito horas e vinte minutos, e se fecha com uma pr... (quase escrevo “prosaica”; mas seria uma prosa poética, certamente); corrijo: uma poética orquídea com a legenda “Lilith 2007”.

Habituamo-nos, ao menos os da minha geração e a dos meus filhos mais velhos, na casa dos 35/40 anos, às figuras desenhadas dos ícones da História, desde a antiguidade clássica da Grécia, dos medas e persas, dos mesopotâmios, antigos egípcios, romanos etc. até os meados do Século XIX. Platão é uma figura concebida por algum artista (em que época? Certamente, quando a indústria gráfica ganhou avanços, justamente no Século XIX), tal como as figuras bíblicas foram idealizadas pelos pintores da Renascença italiana, de modo a dar tipos romanos a mouros e judeus.

A fotografia, porém, é uma técnica estática; em poucas décadas, os mesmos fotógrafos buscavam captar os movimentos e inventaram o cinema (forma abreviada de “cinemática”, a parte da mecânica que estuda o movimento dos corpos). Desde então, fotografia e cinema andam muito próximos e, muitas vezes, de mãos dadas. Para nós, jornalistas, ambas as atividades atrelam-se ao processo de documentários, servindo para a comunicação e para o arquivo; portanto, ferramentas indispensáveis a um sem-número de profissões e fundamentais a todo ser humano, que é curioso, além de vaidoso. A vaidade liga-se ao tema pelo prazer que tem a arrasadora maioria dos humanos de ver-se em fotografias e filmes.

De instrumento de documentação, a fotografia e o cinema não demoraram a tornar-se arte. Primeiro, pelo que se pode fazer com o uso da técnica, criando tons e circunstâncias que resultem em visuais inusitados ou agradáveis, coisas essas que se aproximam da alma poética das artes. Em segundo lugar, pela “roupagem” dada à “fotografia em movimento”, associando-a à prática teatral. Em poucas décadas, o cinema tornou-se título pra o que se conceitua com “a sétima arte”.

Entende-se, pois, que muita coisa aconteceu nos últimos sessenta anos, ou seja, desde o término da II Guerra Mundial. As guerras sempre ensejam um aceleramento surpreendente no campo das invenções e adaptações, tanto no campo da engenharia quanto no da medicina. No após-guerra, e valendo-se dos inventos daquele período bélico, acelerou-se o conjunto de pesquisas no plano da aeronáutica, da física nuclear e, paralelamente, em todos os segmentos das atividades científicas (do Oriente, a miniaturização viria a auxiliar bastante os esforços da conquista do espaço sideral, por exemplo). Vai daí, aquele tal de “cérebro eletrônico” que ocupava um prédio de cinco ou seis andares, compacta-se, hoje, num “palm”, um minúsculo aparelho de bolso, com potência milhares de vezes maior.

Todas essas conjecturas (e muito mais; o espaço, aqui, é limitado) vêm-me por conta das fotos que me traz o Edmar. Entre elas, duas antológicas fotos: a do Che Guevara que, hoje, ilustra milhões de camisetas mundo afora e a do jovem estudante chinês que, com uma coragem incomparável, fez pararem os tanques na Praça Vermelha.

Para mim, aquele moço, sim, e não o Che, devia ser o ícone da juventude estudante de todo o mundo após 1990. Sem demérito para o guerrilheiro cubano que libertou Cuba (libertou? Ou trocou o dono do chicote?) e foi assassinado na Bolívia. É que o moço chinês foi além. Ele sabia que não tinha escolha: morreria sob o tanque ou seria fuzilado. Foi fuzilado.

Ele é o meu símbolo de resistência e coragem.

Leia também em http://www.vaniadiniz.pro.br/luiz_de_aquino/cronica_a_fotografia_na_historia.htm

sexta-feira, junho 13, 2008

Impostos em excesso e respondabilidade em falta

CSS e estagiários

Seis meses depois da queda (dizem que histórica) da CPMF, lá vêm os deputados da situação com uma nova versão da malfadada contribuição. Contribuição, no jargão “governês”, quer dizer imposto que a União não divide com Estados e Municípios. Ou seja... já nasce malfadado. A CPMF foi criada por sugestão, no começo, do ministro Adib Jatene, da Saúde.

Pois bem! O ministro caiu. Ele nasceu para cientista, e não para ministro. E foi seu sucessor, menina-dos-olhos do chefão, quem herdou a gorda verba e tornou-se personagem coadjuvante (dizem) no escândalo das ambulâncias superfaturadas etc. e tal e coisa.

O resto da história todos sabemos. Corta! Cai o pano. Nova cena.

A proliferação das profissões de nível superior e das faculdades particulares é tão diversificada quanto o elevadíssimo volume de automóveis nas ruas das cidades. Vemos aí um sem-número de advogados e médicos (principalmente estes dois segmentos) a proclamar pela não abertura de novas faculdades e até mesmo pelo fechamento de algumas. Eles têm razão: estão zelando pela qualidade dos profissionais.

Curiosamente, os cursos de Direito não foram prejudicados quanto os demais na malfadada (de novo) reforma do ensino da Lei 5.692, há quase quarenta anos. Ninguém mexeu nas faculdades de Direito, nem nas academias militares. Anatole Ramos chamou atenção para isso. Disse ele: “Se essa reforma fosse boa, os militares começariam reformando suas academias; mas só querem reformar as civis”. Os nichos do Direito, ao que parece, não ofereciam preocupação aos militares; os de Direito sempre foram mais para a direita, dizia o bom-humor dos estudantes (apesar de tudo).

Saltemos para hoje, novamente. O que mais se vê por aí, nas empresas e instituições, são estagiários universitários em lugar de trabalhadores. Mão-de-obra barata, disfarçada em aprendizado que não acontece. Infelizmente, isso não se dá apenas em balcões de atendimento, não... A área de saúde está infestada deles, e, o que é triste, sem supervisão adequada. Não que os supervisores sejam displicentes, é que estes são também vítimas.

Numa clínica de tratamento de pessoas carentes, portadoras de necessidades especiais, ou seja, aleijados e deficientes físicos, auditivos e mentais, algumas estudantes atuam como “estagiárias”. Deveriam cuidar dessas pessoas (inclusive crianças) especiais, mas as tratam de modo tal que não se compara ao carinho que seus colegas da Veterinária oferecem a porcos, cabras e vacas.

Esse grupo de jovens estagiárias vem de importante estabelecimento de ensino universitário; e já se indispôs com uma colega porque esta, zelosa e interessada, estuda noutra escola, de menor renome que o das moças displicentes. O resultado é uma gama de hematomas, dentes quebrados, cortes em testas e cotovelos de seres humanos que não têm como se expressar sequer para denunciar os culpados.

A moça da escola menos colunável questionou com seu supervisor, que se mostrou um tanto impotente: seu antecessor foi demitido justamente porque denunciou à “famosa escola” o mau desempenho das alunas dondocas (sim: são filhas da classe A). E o atual supervisor tenta resolver problemas sem perder o emprego.

Imagino: em poucos meses, essas moças desinteressadas estarão em festa, de beca e capelo, entornando uísque e espumante na formatura. E nós, desavisados, vamos pagar caro por seus serviços mal-aprendidos.

Parece-me que o ministro Temporão espera os recursos da nova contribuição para erradicar essa gente. Ou estarei mais ingênuo do que me supõe a Leda(ê) Selma?

Ah, leitores... Enquanto nada se resolve, visitem meu blog: http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com e opinem. E, também, escrevam para a redação. Vamos tentar, é o que nos cabe.

terça-feira, junho 10, 2008

Crítica do Prof. e Acadêmico José Fernandes

Poesia de amor e natureza

Por José Fernandes (*)

Publicado no Diário da Manhã, edição de 10/06/08, página 13 - http://www2.dm.com.br/digital/index2.php?edicao=7522&contpag=13&posjornal=1616

A poesia moderna exige do poeta criatividade e cinzelamento do discurso, para que o poético se instale e se tenha um texto diverso daquele utilizado para a prosa. A capacidade de criar uma linguagem inteiramente nova, mesmo que seja atualização de temas, formas de textos antigos, constituirá a marca, o signo, a poética de cada poeta, como se verifica na realização do moderno de Bandeira, Mário, Cassiano, Oswald, Quintana, Manoel de Barros, Gilberto Mendonça Teles... e, hoje, em Poemas de amor e terra, de Luiz de Aquino, inserido na Coleção Goiânia em prosa e verso. O poema Som e alvorada é um exemplo dessa modernidade, vista na visualização dos versos, a fim de enfatizar determinadas palavras colocadas em posições estratégicas dentro da estrofe. Na primeira, o vocábulo morena, ao conformar um verso, praticamente sozinho, uma vez que o outro é apenas um conectivo, confere um tom semântico inusitado ao ser dotado de pele azeitonada. Não é sem motivo que ela se coloca em uma posição que ultrapassa as expectativas do sujeito lírico.

O mesmo recurso do encadeamento se nota na terceira estrofe, em que o pronome minha assume um tom de posse total, uma vez que a alma, consoante a metafísica oriental, é estritamente individual, porquanto confere identidade ao ser que a encarna. Na última estrofe, os três vocábulos posicionados ao final dos versos têm a sua semântica avultada, agora em decorrência apenas do encadeamento, pois se desconectam de seus respectivos aditivos oracionais. Recursos ligados à visualização dos versos fazem parte da poética aquineana, à medida que joga com eles em quase todos os poemas, como se vê no haicai Impressão com a palavra beija-me, formando verso, entre dois versos maiores.

O imperativo beija-me materializa a tônica do lirismo que perpassa o discurso de Poemas de amor e terra, percebido sob aquela ótica de George Bataille, como um processo metafísico de complementação do sujeito. O sujeito, para incorporar esta qualidade essencial ao humano, necessita do objeto; não naquele sentido de coisa, mas no sentido de interação, de realização ontológica. Não é sem razão que, em termos estilísticos, o poeta utiliza, consciente ou inconscientemente, em quase todos os poemas o conetivo aditivo [e], para substantivar esta soma imprescindível à plenificação do ser lírico: eu + tu. Este procedimento é verificado tanto sob a ótica do lirismo confessional, em que o sujeito dialoga com a amada, quanto sob a do lirismo passional, em que o sujeito dialoga, ou monologa, consigo mesmo.

Do sentimento e da emoção do lírico nasce, quase como uma decorrência lógica, na atualidade, o espírito de natureza, impresso na palavra Terra, explícita no título do livro. Se o amor é uma conseqüência física e metafísica de se ser humano, a preocupação com a natureza advém também desse mesmo sentido ontológico, pois ser humano em plenitude implica estar e ser em natureza. A conseqüência desse estado de ser natureza é uma poesia plena de luz, em que os vocábulos sol, luz, estrelas, tal como eram usados durante o maneirismo, marcam os tons dos dias e, como efeito, do ser do sujeito lírico.

Resultante da luminescência, surgem os outros elementos responsáveis pela vida nesse planeta. Assim, a definição de vida como lago, numa imagem em que o poético se instala de forma nítida, pois, assim como no lago se escondem formas biológicas, como um mistério, também na vida eles estão sempre presentes; ainda mais quando esta vida provém de alguma manifestação do ser lírico.

Valorizar o escritor goiano é imprescindível à formação do sentimento de goianidade. Sejamos goianos! Deo gratias!

(*) José Fernandes é membro da Academia Goiana de Letras.

A seguir, o poema:


Som e alvorada

Isso de ser assim
e morena
é algo além do que vejo e almejo.

É jeito de voz, movimento,
música e dança: espaço
ocupado com graça. E reverbera.

Presença e toque que prendem
e encontram. Alma que aquece
a minha.

Feito luz
que vem do mar
e vira dia.


domingo, junho 08, 2008

O que é meu e velho. E o futuro!


O que é meu e velho. E o futuro!


Há alguns anos, pouco tempo depois de adotar o computador como instrumento de pesquisa, comunicação e escrita, dei-me conta de que vivemos, eu e todos os que desfrutamos, conscientes, da segunda metade do Século XX, a fase mais intensa de transformações tecnológicas de toda a Humanidade. A dita Segunda Guerra Mundial exigiu uma aceleração no processo das invenções e dos aperfeiçoamentos, e com ela vieram coisas incríveis, como a concepção do “cérebro eletrônico” (o nosso computador) até as conquistas aeroespaciais.

Os anos de 1950 foram marcados não só pelo “roquenrou” e a bossa-nova, mas pelos pequenos rádios a pilha, substitutos dos receptores que tomavam um tempo entre ligar e fazer som, pois as válvulas precisavam “esquentar”. E os chiados? Os novos rádios, no formato original de um tijolo e revestidos por um estojo em couro grosso, não tinham disso. Também os televisores, pouco depois, teriam as válvulas substituídas pelos transistores.

Dizia eu, nas primeiras linhas, do tempo em que comecei a usar o computador, em que me dei conta dessas transformações. Citei rádios e tevê como símbolos; poderia ter citado os automóveis ou os instrumentais domésticos e de trabalho em escritório, artifícios que tornaram a vida mais simples. Ou não.

Li, há alguns anos, uma crônica em Seleções (aquela revista de textos selecionados que simbolizam a leitura inútil, se é possível qualificarmos alguma leitura como inútil) em que um casal de velhos nos Estados Unidos juntou na calçada um monte de coisas eletroeletrônicas como barbeadores, descascadores de legumes, multiprocessador, aparador de pelinhos do nariz e orelhas, arqueador de cílios, removedor de bolinhas de tecidos, abridor de envelopes, apontador de lápis et cétera e tal, molhou tudo com algum inflamável e pôs fogo; logo parou um carro de polícia, certamente acionado por algum vizinho enxerido, e o fardado quis saber o que faziam.

Foi a velha (não tenho preconceito com certas palavras; para mim, velho é velho, gordo é gordo, preto é preto... Detesto a palavra detestar, mas gosto menos ainda dessas expressões que a moderníssima esquerda nacional qualifica como “politicamente corretas”); então, foi a velha quem respondeu: “Estamos nos livrando dessas coisas todas que compramos para simplificar nossa vida”. Ao que o velho, sorridente e feliz, acrescentou explicando: “Agora, sim, estamos mesmo simplificando nossa vida”.

Pois é! Ainda não me conscientizei (e estou consciente de ainda não estar conscientizado disso) de que seria muito melhor não juntar velharias; quando vi o que o computador fazia, permitindo-me revisar e manter limpo o escrito, mesmo que ainda rascunho, com aparência de texto final, entendi que eu próprio atravessava um período muito rico de novidades. Então, cuidei de amealhar coisas que contam a minha história de vida. Resultado: tenho máquina de cortar cabelo (manual), duas máquinas de escrever antigas, uma máquina de costura “de mão”... Coisas comuns da Caldas Novas de minha infância. E penas de escrever e seus indispensáveis tinteiros, um berço de mata-borrão, ferro de engomar (a brasa), um prego de ferreiro achado nos escombros da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Pirenópolis, após o incêndio duvidoso de 2002...

Não tenho um rádio de válvulas; nem um rádio a pilha dos anos 50. Meu apartamento, que é pequeno, não comporta mais coisas da minha coleção de lembranças da própria vida. Entre as relíquias, o mobiliário de quarto de José J. Veiga, que me foi presenteado por Dona Clérida, sua esposa. Mania de homem velho, talvez; porém, com a lucidez de que, a cada filho e a cada novo livro, sente a vida renovar-se.

Agora, imaginem como rejuvenesço ao nascer mais um neto! (Na foto, o Gabriel, nascido no dia 2 de junho, entre a mãe, Ethel, e o pai, meu filho Léo).