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domingo, agosto 31, 2008

Dorival e Stella Caymmi

Assim que soube, pela tevê, que Dorival Caymmi se mudara de endereço e de matéria, escrevi (e publiquei no meu blog: http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com/) uma pequenina crônica, com o título “De amor ao mar e a Caymmi” e que ficou assim:
“Dia que segue pacato, preguiçoso... Que bobagem! A preguiça é minha, porque o dia é sábado, as horas têm métrica rígida e o sol, seu maestro, é intransigente.
Melhor, pois, recomeçar.
Sábado, agosto, 16, e o ano é 2008. Ora, se o mês é oito, e o dia me dá o duplo, o ano contém dois e oito... Que os numerólogos decifrem! Não há de ser este um dia aziago, pois! Mas foi neste sábado, quando o dia nascia em Copacabana, que Dorival Caymmi saudou os orixás que fizeram corte para recebê-lo do lado de lá da alvorada.
Era infante, eu, quando ouvi pela primeira vez suas canções, e hoje sou um homem recém chegado à faixa dos velhos homens. Deliciei-me a infância, a adolescência, a juventude e os anos ditos da razão com suas canções de amor e Bahia, de mar e alegria.
A preguiça minha neste sábado prendeu-me a curtir as horas. E curti-as vendo os jogos de Pequim, em regozijo com os resultados brasileiros. É, sou desses que se empolgam com as coisas brasis, sejam elas do espírito ou da carne. É que o que faz bem à carne alegra o espírito, e penso também que o caminho de volta é verdadeiro. Por isso, já morria a tarde quando vi a notícia. Preferi me aquietar em mim, agradecendo a Deus por nos ter dado um artista de tanto poder! Sim... Deus é brasileiro e deve ter nascido na Bahia. Ou beijou as terras de São Salvador para acolher gente como Dorival.
Escalei meu domingo, então: vou ouvir tudo o que tenho em casa, em CD ou em vinil, da lavra de Caymmi. É que músicas dele têm poesia-de-lei e melodia dos deuses. Ou dos santos daquela boa Bahia. E se vier na voz encorpada dele próprio, melhor ainda!
Assim, será esse o meu domingo, dia em que Dorival Caymmi, que já se mudou para o céu dos bons, muda também de endereço na terra. Ele deixa o Posto Seis de Copacabana e vai morar em Botafogo, no imenso quadrante de São João Batista.
Do lado de lá do mundo, onde o sol nasce primeiro, os moços atletas continuam seus jogos. Há brasileiros a disputar medalhas, e muito especialmente os que correm no mar. Certamente, Caymmi torce por eles.
Eles, pois, que reverenciem também o nosso poeta das canções praieiras. Afinal, ele fez o mar ficar mais bonito”.
Por ser sábado, a crônica de domingo (17 de agosto), o DMRevista já estaria impresso àquela hora. Por isso a publicação ficou restrita ao blog em que divulgo escritos para amigos leitores eletrônicos. Mas eis que vem a notícia: faleceu a mulher de Dorival Caymmi, Adelaide Tostes... Melhor dizendo, Stella Maris Caymmi. Sim: a mocinha cantora que o baiano genial conheceu num programa de calouros da Rádio Nacional, no final da década de 1930, tinha esse nome artístico: Stella Maris (que, em latim, que dizer “Estrela do Mar”). Só podia ser! Não dá para imaginar Dorival Caymmi, o autor das incomparáveis canções praieiras, casado com alguém cujo nome não o ligasse ao mar. Afinal, “Marina” é uma de suas músicas mais cantadas e decantadas.
Pois bem, amigos meus! Dona Stella estava hospitalizada desde abril. E os dois se casaram em 1940! A morte do baiano mais carioca do Brasil (ou do carioca mais baiano; aqui, a ordem não altera o resultado) marcou-se pelo regozijo: Deus nos deu um homem daquela envergadura e permitiu que dele desfrutássemos por mais de noventa anos. O lado triste, porém, ficava dentro da família, mais precisamente na solidão que condenaria sua companheira à tristeza. Pensando assim, visualizei o velho cantor não com seus 94 anos completos, mas moço quarentão, tal como o vi, pela primeira vez, em programa de tevê de 1956: cabelos brancos e bigode preto, a declamar musicalmente, com voz densa e doce: “O mar / quando quebra na praia / é bonito, é bonito...”. Na minha imagem, lá vinha ele, de calça clara e camiseta de listras horizontais, violão na mão; invadia o quarto onde Dona Stella era assistida, tomava-a pela mão e dizia, do seu jeito: “Tá na hora, minha velha moça! Fizemos o tínhamos de fazer... Vem!”. E, de mãos dadas, estiraram uma caminhada sem pressa pela areia de Copacabana, estranhamente vazia neste teórico inverno tropical.

quarta-feira, agosto 27, 2008

Os tons das lágrimas

Os tons das lágrimas

Nos idos tempos de cada um de nós, plantamos lembranças que determinam grande parte dos rumos dos nossos destinos. Essas lembranças referem-se a conceitos que absorvemos com a convicção de que tudo o que se entender fora deles não tem validade; ou não rendem coisas para nosso proveito. Com isso, passamos a crer que somos frutos de verdades (nem sempre verdadeiras) sobre as quais fincamos nossos pontos de apoio (ou princípios).
A partir dessas "verdades", criamos outras no decorrer da vida. Quase sempre, as novas verdades dizem respeito às nossas alegrias e frustrações. Por exemplo: constatei que existe uma grande alegria na realização do trabalho. Dar-lhe andamento é algo que nos ocupa, muitas vezes, todo o tempo e até mesmo nossos sonhos oníricos ficam marcados, mormente quando nos dedicamos por demais na consecução desses propósitos. E então, vêm os resultados: e isso é o que nos dá alegria. É o momento em que o trabalho deixa de ser obrigação, torna-se o lado lúdico da vida.
O mesmo se dá com quem vive (e sobrevive) do que é lúdico, ou seja, os que trabalham justamente para produzir lazer e entretenimento, como atletas e artistas. Para os menos informados, pode parecer injusto: uns trabalham quebrando pedras; outros, fazendo ou executando música, poesia, quadros pictóricos, cestas e gols. O espectador pode pensar que fazer poesia ou marcar pontos de bloqueio e saque são tarefas fáceis; que tentem, pois.
Uma coisa, apenas, é certa: mesmo aquilo que se mostra muito prazeroso exige muito esforço, seja físico ou mental (muitas vezes, físico e mental). Esportes exigem muito, muito mesmo de treinos, de preparação; arte exige pesquisa, estudos e, quase sempre, muito de criação. Mas somos humanos e, para cada um de nós, galinha gorda é a do vizinho, não é? Parece fácil receber uma bola no peito na intermediária, amortecê-la e ao mesmo tempo girar 180° para, ainda no ar, emendar um sem-pulo, com o peito do pé, consagrando um legítimo gol de placa. Sim, é fácil para quem é craque. Ou produzir um verso que atravesse décadas e séculos e que poderia ser criado na mente de qualquer um de nós, mas porque mesmo não o criamos?
Pelo sim, pelo não, sei que todos nós sorrimos e choramos com os atletas brasucas em Pequim (alguns teimam em dizer Beijing). Com eles, nós caímos e choramos, perdemos uma luta e choramos, perdemos gols e choramos, quebramos récordes (com acento, por favor) e choramos, ganhamos bronze, ouro e prata e choramos. Somos uma nação chorona, sim, e choramos por tudo. E viva a lágrima! Principalmente se verde-amarela!
Entre sorrisos e gargalhadas, com a têmpera das inevitáveis lágrimas, é que me regozijo com Maurren Maggi, César Cielo, Eduardo Santos, Diego Hipólito e as meninas ginastas, as gurias do vôlei, as craques do futebol feminino (ainda que com a prata, as melhores do mundo, sem dúvida nenhuma; isso vale também para os garotos do vôlei de quadra), as duplas masculinas e femininas do vôlei de praia, inclusive os brasileiros da Geórgia. Com medalhas ou sem elas, esses moços nos trouxeram alegrias mil, investiram-se do propalado espírito olímpico. Lamento que não se possa dizer o mesmo dos que foram lá jurando trazer o ouro que nos falta. Aquela seleção não merece crédito. Não por ter perdido para a Argentina: todos nós, brasileiros e argentinos, sabemos que o mundo nos olha como capazes de oferecer o melhor dos clássicos do futebol em todo o mundo. Mas o que os meninos de Dunga fizeram foi vergonha pura. Não jogaram bola, mas deram pancada; não fizeram gols, perderam-se em campo como se estivessem numa sala de cristais; e se não bastasse isso... Bem, fico com a frase de Don Diego: "Nunca vi um Brasil tão covarde". Maradona tem muita razão e autoridade para dizer isso. Tanto quanto teve classe e autoridade para beijar a mão de Ronaldinho Gaúcho (este, parece-me, foi dos poucos a continuar merecendo respeito).
É, pois é, então... Daqui a quatro anos, em Londres (espero que a TV Record não diga London), vou torcer de novo pelos nossos times de vôlei, de basquete, de futebol feminino, de atletismo em suas várias modalidades, natação, tênis de mesa, tênis, artes marciais... Mas não perderei tempo ante a telinha por conta do futebol dos astros sem brilho, não. Usarei essas horas em algo mais proveitoso, como ler bons poemas e contos e ouvir boa música. Ou escrever. De fato, foi muito doloroso aprender a ler e a formar frases; mas juntar tudo isso me faz tão feliz quanto, quando menino, festejava um gol com bola de meia no meio da rua.

Caos na Serrinha

Caos na Serrinha

Menos de duas décadas após a derrota total ante as tropas norte-americanas, o Japão emergia do caos como um ícone de superação de um povo, despontando como a promissora potência econômica em que se transformou. Na década de 1970, alguns países como a Espanha e os que hoje chamamos de “tigres asiáticos” decidiram investir maciçamente em educação e adquiriram estrutura e outras condições para florescer suas economias e seu desenvolvimento social.
Há mais de vinte anos, livramo-nos da ditadura; isso plantou em nós um desejo ardente de apego à dignidade pessoal, mas falta-nos a base de educação para que esse êmulo fizesse de nós, efetivamente, um povo capaz de dizer, pedir, aguardar, exigir e cobrar. Sabemos que dispomos de alguns avanços no processo da cidadania, mas ainda aceitamos imposições truculentas de uns poucos, temporariamente investidos de poder. E, estranhamente, essa truculência não vem dos que se investem de poder pelo voto, mas por seus adjacentes autocráticos.
Pois bem, esses ajudantes que se sentem autoridades precisam compreender que a autoridade é constituída de conhecimento e representatividade, não apenas de um cargo em que é empoleirado. Falo das obras do viaduto no cruzamento das avenidas 85 e T-63; para poupar o sossego de uma minoria abastada, o manda-chuva da SMT transferiu todo o volume de tráfego da T-63 para o trecho entre a obra e a Serrinha.
Na última segunda-feira, sem qualquer aviso prévio, sem sinalizar as vias afetadas e sem qualquer outro nível de satisfação ao povo morador e transeunte, o Dermu/Compav abriu uma extensa vala para implantar tubos no subsolo da Avenida 85, afetando o tráfego na T-64 e na T-65 (esta, sem nenhuma placa, sem nenhum agente orientando, foi interrompida no cruzamento com a 85).
Como era esperando, na quarta-feira, um carro caiu na vala. O condutor e seu pai nada sofreram, mas o carro deve ter se perdido totalmente. Como sempre, o fato atraiu curiosos que, estupefatos, viram um funcionário chegar, rápida e cinicamente, com uma placa, tentando mascarar a realidade. Pois bem: nós, que moramos na zona afetada; nós, condutores de veículos e trabalhadores que transitamos pela zona afetada; nós, povo de Goiânia, exigimos uma atitude. Se os dirigentes do Dermu/Compav e da SMT não se dignam a nos respeitar, que o prefeito Iris Rezende assim o determine: queremos saber 1) quem não sinalizou devidamente; 2) quem mandou e quem foi lá colocar a placa depois do acidente.
Queremos saber também as razões que levam as “autoridades” setoriais do município a adotar medidas de proteção a moradores de uns poucos quarteirões que, como nós outros, deviam também ser prejudicados no período da duração da obra.
Já escrevi neste espaço sobre a atitude dos vizinhos da praça da T-25, que só faltam instigar seus cães contra os que eles próprios consideram invasores, como se as praças, em Goiânia, escapassem dos versos de Castro Alves: “A praça! A praça é do povo / como o céu é do condor”.
Não sou versado em práticas burocráticas, mas penso que o Ministério Público está a dever ao povo de Goiânia uma atitude: cobrar dessas autoridades municipais esclarecimentos e, principalmente, atitude de respeito a quem paga por tais obras. Ou o povo terá de voltar às ruas, em manifestações sempre reprimidas com rigor pela polícia, sempre muito eficaz quando se trata de agredir quem lhes paga o salário. Aliás, e é bom que eu diga, os sindicalistas locais precisam rever os trajetos de suas passeatas. Conduzir trabalhadores com suas reivindicações à Praça Cívica não resulta em nada, como se sabe. Mas se os levarem à Praça da T-25, aí, sim! Aposto que a pressão dos poderosos moradores sensibilizaria as autoridades.
Enquanto isso, e em plena campanha pela reeleição, Iris Rezende situa-se, realmente, no seio do povo da cidade. Mas, infelizmente para ele, na condição de mais uma vítima de sua mal-montada SMT, ante a qual ficamos todos sem “sanches”, quero dizer, chances de receber do poder público o serviço pelo qual pagamos tão caro.

segunda-feira, agosto 18, 2008

Artigo no DM de 18/08/2008...

Luiz de Aquino:
O poeta

José Luiz Bittencourt (*)

Referindo-se ao poeta Dante Milano, que fez parte do movimento modernista, com seus amigos, Manuel Bandeira, Annibal Machado, Vilas-Lobos, Portinari e Celso Antônio, escreveu o mestre Sérgio Buarque de Holanda que o carioca nascido de uma família de músicos está longe de ser, como se diria, um poeta de idéias, posto que suas “idéias” não sobrevivem impunemente a qualquer espécie de paráfrase em prosa. Em outras palavras, seu pensamento é de fato sua forma. Pura verdade!

De certo modo, Luiz de Aquino, pirenopolino de Caldas Novas, estudante do Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro, estabelecimento de ensino que também tive a honra de freqüentar, é dono da arte poética que descreve não apenas o sentido das palavras, mas o pensamento que nele se quer representar. Tem a visão do mundo, do realismo, da emoção relembrada na tranqüilidade, o verdadeiro ritmo semântico, “guiado não apenas pelo ouvido, mas também, e principalmente, pelo sentido”. É o que, no caso, não parece excessivo falar-se, como já se tem falado, de um Rilke e no de um Hopkins. Toda a sua obra revela um poeta dotado de alta sensibilidade lírica e tem a singularidade de uma poesia de tonalidade própria do universo de sua imaginação.

Poeta, certamente. Entretanto, Luiz de Aquino é ainda contista de primeiro plano. Apareceu em 1978 com o livro O cerco e outros casos. E cronista também, faceta demonstrada a partir da publicação de um volume resumindo a história de nossa gente, uma pesquisa documental memorialística. Nesses dois gêneros, consagrou-se como um dos nossos melhores artífices da palavra, militante na atividade cultural em Goiás e que lhe tem valido prêmios de conceituadas instituições. Aliás, é de se dizer que ele integra o grupo de Lêda Selma, Helvécio Goulart e outros tantos de sua geração: Lêda jorra lirismo em catadupas de cânticos, Helvécio é o franciscano que se inspira na humildade do Santo de Assis e se torna por vezes um místico muito próximo de Juan de la Cruz e Theresa DAvila.

O certo é que Luiz de Aquino encarna a sua poesia, feita de tempestade e bonança, no infindável caminho de quem tenta penetrar na solidão do mundo interior. Basta ler os poemas de Cantos de Amar, que veio a lume em 1986, aqueles que estão em Meninas dos Olhos, nos acolhidos em Razões da Semente e nos recentes Sarau e As uvas, teus mamilos tenros. Ele faz a sua confissão de amor à poesia, como se estivesse ao lado de Dante Milano: “Sou um poeta. Percebo o que é ser poeta ao ver na noite quieta a estrela inquieta: significação grande, mas secreta.”

Contista, memorialista, cronista e, sobretudo, um poeta para os que o lêem, revela os seus sentimentos amorosos e violentos, suas metamorfoses e suas canções, os sonhos, as ilusões, as emoções, o orgulho de não ser humilhado porque não persegue a glória. Esta chegou cedo e muito cedo, deu-lhe o lugar merecido, sai na frente de todos e continua a fazer sua poesia como um verdadeiro peregrino do céu na terra dos homens. Lembra o aviador Saint-Exupery, ao desenhar a figura do “pequeno príncipe”, poesia de incomum pureza e invulgar compreensão de tudo desde o princípio do mundo.

Quando estudou no Colégio Pedro II, aprendeu Luiz de Aquino as lições magistrais de eminentes mestres, mas não se tornou latinista nem greco-romano. Viu-se inspirado para fazer da vida um valor constante no suave caminho da poesia, na exaltação do belo e da grandeza de sua existência. Ele conheceu mestres como Libânio Guedes, Joaquim Ribeiro, Raja Gabaglia, Antenor Nascentes, José Oiticica e Clóvis Monteiro, gente de excepcional cultura que está hoje na galeria dos ilustres letrados deste País. O poeta da coletânea Meus poemas do Século XX não desmerece a tradição goiana de Cora Coralina, Leodegária de Jesus e nem a de vates como Léo Lynce, Felix de Bulhões, Vasco dos Reis e Xavier Junior e quantos estão na memória goiana.

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José Luiz Bittencourt
é membro da Academia Goiana de Letras, foi vice-governador de Goiás e escreve às segundas-feiras neste espaço. bitt85@gmail.com

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domingo, agosto 17, 2008

De amor ao mar e a Caymmihttp://www.youtube.com/watch?v=xRx0GooZdpc

Dia que segue pacato, preguiçoso... Que bobagem! A preguiça é minha, porque o dia é sábado, as horas têm métrica rígida e o sol, seu maestro, é intransigente.

Melhor, pois, recomeçar.

Sábado, agosto, 16, e o ano é 2008. Ora, se o mês é oito, e o dia me dá o duplo, o ano contém dois e oito... Que os numerólogos decifrem! Não há de ser este um dia aziago, pois! Mas foi neste sábado, quando o dia nascia em Copacabana, que Dorival Caymmi saudou os orixás que fizeram corte para recebê-lo do lado de lá da alvorada.

Era infante, eu, quando ouvi pela primeira vez suas canções, e hoje sou um homem recém chegado à faixa dos velhos homens. Deliciei-me a infância, a adolescência, a juventude e os anos ditos da razão com suas canções de amor e Bahia, de mar e alegria.

A preguiça minha neste sábado prendeu-me a curtir as horas. E curti-as vendo os jogos de Pequim, em regozijo com os resultados brasileiros. É, sou desses que se empolgam com as coisas brasis, sejam elas do espírito ou da carne. É que o que faz bem à carne alegra o espírito, e penso também que o caminho de volta é verdadeiro. Por isso, já morria a tarde quando vi a notícia. Preferi me aquietar em mim, agradecendo a Deus por nos ter dado um artista de tanto poder! Sim... Deus é brasileiro e deve ter nascido na Bahia. Ou beijou as terras de São Salvador para acolher gente como Dorival.

Escalei meu domingo, então: vou ouvir tudo o que tenho em casa, em CD ou em vinil, da lavra de Caymmi. É que músicas dele têm poesia-de-lei e melodia dos deuses. Ou dos santos daquela boa Bahia. E se vier na voz encorpada dele próprio, melhor ainda!

Assim, será esse o meu domingo, dia em que Dorival Caymmi, que já se mudou para o céu dos bons, muda também de endereço na terra. Ele deixa o Posto Seis de Copacabana e vai morar em Botafogo, no imenso quadrante de São João Batista.

Do lado de lá do mundo, onde o sol nasce primeiro, os moços atletas continuam seus jogos. Há brasileiros a disputar medalhas, e muito especialmente os que correm no mar. Certamente, Caymmi torce por eles.

Eles, pois, que reverenciem também o nosso poeta das canções praieiras. Afinal, ele fez o mar ficar mais bonito.

sábado, agosto 16, 2008


Visita ao velho mestre

Era 1968, o célebre ano em que o comportamento jovem rebuliçava o mundo. Era a geração do após-guerra se tornando adulta e querendo mudar as práticas adultas, pois a infância e a adolescência já não eram as mesmas dos nossos pais. Muito se fala do agito de Paris, mas é preciso lembrar que o glamour da Cidade-Luz a punha em evidência: o mundo se agitava nas cidades dos Estados Unidos, do México, do Brasil, da Argentina... E em Londres e Praga, em Tóquio e Seul, etc. e tal.

Em Goiânia, os grêmios do Liceu, do Instituto de Educação e do Colégio Pedro Gomes vinham promovendo ações de contestação ao regime militar desde as primeiras informações de abusos, como a tortura instituída nos quartéis e nas delegacias policiais desde abril de 1964. Os centros e diretórios acadêmicos, também. No Rio, a morte do estudante Edson Luiz provocou ações em série por todo o país. Elegeu-se, por orientação da União Brasileira dos Estudantes, uma série de ações em todo o país e, aqui, paramos as aulas para lotar a Catedral Metropolitana numa missa pela alma do rapaz. A missa não terminou até hoje (afinal, era 1968; nem tudo, naquele ano, acabou ainda). Não terminou porque a Polícia Militar, com sua cavalaria e os gritos dos oficiais entrou na igreja, atirando. E alguns estudantes foram atingidos, sem riso de suas vidas (se eu fosse televisivo, talvez dissesse “risco de morte”; não o faço).

. Levávamos faixas, gritávamos frases de efeito e palavras de ordem, buscando despertar a população para o cerceamento das liberdades, todas elas. Não eram estudantes, apenas, os que passeatavam em reação à ditadura. Trabalhadores também o faziam, e era comum alinharem-se professores nas nossas fileiras

Poderia listar vários professores, mas vou sintetizar: J. G. de Araújo Jorge, o poeta, em 1961, no Rio de Janeiro, dizia-nos que, em qualquer momento político, era bastante ver “qual o lado dos estudantes? Esse é o lado certo”. Em 68, eles caminhavam conosco. Lembro-me de uma frase de Geraldo Alemão, que, na época, lecionava Cultura Religiosa: “Vamos de braços dados, formando uma corrente sólida; sentimo-nos mais fortes”. Apesar do título da disciplina, e numa universidade católica, a matéria não era doutrinária. Tinha, sim, o propósito de desenvolver o sendo crítico.

Recordo tudo isso enquanto vou ao encontro de Conceição Matos, professora de Português e Literatura e musicoterapeuta. Ela marcou uma visita nossa ao professor Geraldo. Em mim, a emoção diante da casa de pé-direito baixo, tal como são as construções pioneiras da Vila Nova. Menos de dois minutos de ansiedade, e lá vem o velho mestre.

Velho? Que nada! Nem mesmo as cãs lhe determinam a idade! A voz é a mesma; as idéias, tão novas quanto antes, quero dizer, sempre renovadas ante o mundo que não pára. E já se vão uns quarenta anos! Falamos pouco de passado, mas muito de Educação, Literatura, História, Comportamento, Índios, Quotas... Sociedade, enfim! Meu velho mestre não é apenas o lente de muitas luzes nas lides das letras, mas um Educador por excelência! Penso que posso cobrar-lhe os escritos, em montagem de livro, para orientar os mestres do futuro. Não exagero ao dizer que ele trás atrás dos olhos meio século de ensinamento. Um Professor com P maiúsculo, um homem digno do título, e não um mero ensinante repetidor de frases mornas (ou mortas), como a maioria.

E então, parafraseando Gonçalves Dias, posso dizer: “Meninos, eu vi!”, e vi o passado sem dor nostálgica, sem saudade triste. E é este o melhor modo de ver o passado: com a alegria de sentir que os grandes não envelhecem para adormecer, mas para lembrar que tudo se renova a cada dia.

Um beijo, mestre Geraldo! A única forma de lhe pagar esta dívida é oferecer aos pósteros os valores de vida que você ensinou.


domingo, agosto 10, 2008

O duro ofício da notícia

Amanheci à cata de doce. Não, Leda(ê) Selma, não é doce de açúcar, guloseima, caqui ou rapadura, não... Doce para a mente e o espírito, que as notícias já não são sequer azedas, mas amargas, tristes, sementes de ansiedade e outros que-tais revoltantes. Não sei, sinceramente, o que pensar do estripador da inglesinha, tão “arrependido” do feito de que se orgulhou antes de ser preso (a ponto de exibir a telinha do telefone celular com imagens das partes seccionadas de sua vítima). Não sabe (o Brasil todo) o que houve nos últimos dias em torno do assassinato, por um policial americano do imigrante brasileiro.

Vi na tevê que uma brasileira em Londres, amiga do monstrinho Mohamed, que está envergonhada: “O que Londres vai pensar do Brasil?”. Poxa! Fiquei também sensibilizado: essa moça não se manifestou quando a Scoltlan Yard assassinou, com ênfase cinematográfica, um trabalhador brasileiro na mesma Londres. Certamente, dirá ela, Londres não tomou conhecimento, aquilo foi algo banal; sim: tão banal que a própria polícia inglesa entendeu que ninguém devia ser punido.

Pois é! Parece que nós, goianos, estamos mais civilizados: o caso foi tratado sem paixões bairristas ou nacionalistas e em tempo mínimo se fechou tudo: investigações, prisões e o inquérito.

E aí, leitor, vem de novo a minha ansiedade por doce. Não desses que elevam a glicemia, mas doces novas, quero dizer, boas notícias. E não é tão boa notícia a seleção masculina de futebol vencer a da Bélgica por um a zero. Boa notícia é Leda(ê) Selma lançar seu livro “Eu, hem?!” na Paulicéia (dia 15, no Magnólia Villa Bar, que fica na Rua Marco Aurélio, 884 – Vila Romana/Lapa). Boa notícia é a saída de três milhões de brasileiros da faixa de miséria (mas seria boa notícia também a redução do IR sobre os salários da classe média, que já caminha para a fixa de pobreza).

Mas enquanto não me chega o doce, outras coisas amargas são ditas nas tevês, nas rádios e nas linhas impressas dos jornais. Como os locutores esportivos violentando a Língua, estuprando-a com regências mal feitas ou mesmo com um desnecessário e injustificado inglesismo. Como aquilo que sugere importante apresentador no vídeo: por não gostar da palavra monólogo (que ele acha monótono, imagine!), sugere que os diretores teatrais apelidem a modalidade de “one man show”. É... Tem muita gente precisando voltar à escola; mas a maioria não deve, seria perda de tempo, pois, já dizia meu tio Aníbal Pereira, “papagaio velho não aprende a falar”.

E aí, novas colheradas de puro fel saem da telinha colorida para os hormônios da gente. Um agente de segurança privada, a serviço de um colégio católico, dispara contra um jovem que distribuía panfletos publicitários de uma festa. Tentou matar o jovem (claro: ou não teria atirado) e fugiu. Sim, o valente armado fugiu, como, aliás, costuma acontecer com todo valente armado, ainda que fardado (mormente quando a farda não é bem de Estado). E o moço, socorrido, “não corre risco de morte”, arrematou a solene apresentadora de tevê, mudando totalmente a expressão idiomática consagrada porque, entendem os “gramáticos” televisivos, a vida não é risco. Ah, tá! Gente, gente! Jamais se chame alguém de pão-duro: o que tem o pão dormido a ver com o dinheiro do usurário? Pelo visto, redatores de tevê aprendem Português com a Raquelly da novela global Beleza Pura.

E, para arrematar a série jiló, guariroba e jurubeba, no mesmo Colégio Santo Agostinho alguém da portaria bate a porta na cara da equipe da TV Record. Ainda bem que o cinegrafista pegou bem a cara do mal-educado. Se ele faz isso em plena democracia, imagino aquele sujeito no tempo da ditadura!

Acho que repórter, em Goiânia, vai ter de trabalhar escoltado pela Polícia Militar. Mas não vai adiantar: dia desses, a viúva de um sargento espancou uma repórter que cobria o velório.


terça-feira, agosto 05, 2008

Crônica intertextualizada de GISELE BADENES


Amendoeiras


Eu juro!! A foto fiz da minha varanda ontem, segunda-feira. Comprovem pela rua molhada, hoje o dia já amanheceu lindo novamente. Dia de preguiça, início de mês e inúmeras contas a pagar no banco me fizeram adiar o texto sobre as amendoeiras. Ancelmo Góis foi mais rápido no teclado e publicou em sua coluna de hoje fotos lindas da árvore que enfeita a cidade, criando um ar outonal europeu em pleno inverno carioca. Citou Rubem Braga que fez da amendoeira uma de suas musas inspiradoras e dizia que elas são "árvores desentoadas":

“Nunca estão de acordo entre si. Não se vestem nem se despem por igual. A da esquina ainda está frondosa, cheia de viço, mas a sua vizinha parece uma decoração de Copa do Mundo: há tantas folhas verdes quanto amarelas”
E eu, que estava pensando em escrever algo, que pelo menos chegasse perto do poético, inspirada na minha árvore preferida (ao lado do flamboyant), fiquei entre sem graça e intimidada.

Li em algum lugar que hoje é proibido plantar amendoeiras em zonas urbanas. De folhas caducas, são as vilãs dos bueiros e suas raízes podem estragar as calçadas.
Fico feliz que ainda há quem se encante com a árvore que generosamente se desnuda para cobrir o asfalto de vermelho, não de sangue, como estamos habituados a ver nos noticiários, mas de folhas que caem lentamente, riscando o ar num balé que só as folhas sabem fazer.
Quem sou eu pra ser poética depois de ler a crônica de Carlos Drummond de Andrade “Fala, amendoeira”. Hoje o espaço é dele. Fala, Drummond:

«Esse ofício de rabiscar sobre as coisas do tempo exige que prestemos alguma atenção à natureza - essa natureza que não presta atenção em nós. Abrindo a janela matinal, o cronista reparou no firmamento, que seria de uma safira impecável se não houvesse a longa barra de névoa a toldar a linha entre o céu e o chão - névoa baixa e seca, hostil aos aviões. Pousou a vista, depois, nas árvores que algum remoto prefeito deu à rua, e que ainda ninguém se lembrou de arrancar, talvez porque haja outras destruições mais urgentes. Estavam todas verdes, menos uma. Uma que, precisamente, lá está plantada em frente à porta, companheira mais chegada de um homem e sua vida, espécie de anjo vegetal proposto ao seu destino.

Essa árvore de certo modo incorporada aos bens pessoais, alguns fios eléctricos lhe atravessam a fronde, sem que a molestem, e a luz crua do projetor, a dois passos, a impediria talvez de dormir, se ela fosse mais nova. Às terças, pela manhã, o feirante nela encosta sua barraca, e ao entardecer, cada dia, garotos procuram subir-lhe o tronco. Nenhum desses incómodos lhe afeta a placidez de árvore madura e magra, que já viu muita chuva, muito cortejo de casamento, muitos enterros, e serve há longos anos à necessidade de sombra que têm os amantes de rua, e mesmo a outras precisões mais humildes de cãezinhos transeuntes.

Todas estavam ainda verdes, mas essa ostentava algumas folhas amarelas e outras já estriadas de vermelho, gradação fantasista que chegava mesmo até o marrom - cor final de decomposição, depois a qual as folhas caem. Pequenas amêndoas atestavam o seu esforço, e também elas se preparavam para ganhar coloração dourada e, por sua vez, completado o ciclo, tombar sobre o meio-fio, se não as colhe algum moleque apreciador do seu azedinho. E como o cronista lhe perguntasse - fala, amendoeira - por que fugia ao rito de suas irmãs, adotando vestes assim particulares, a árvore pareceu explicar-lhe:

– Não vês? Começo a outonear. É 21 de Março, data em que as folhinhas assinalam o equinócio do outono.Cumpro meu dever de árvore, embora minhas irmãs não respeitem as estações.

– E vais outoneando sozinha?

– Na medida do possível. Anda tudo muito desorganizado, e, como deves notar, trago comigo um resto de verão, uma antecipação de primavera e mesmo, se reparares bem neste ventinho que me fustiga pela madrugada, uma suspeita de inverno.

Somos todos assim.

– Os homens, não. Em ti, por exemplo, o outono é manifesto e exclusivo. Acho-te bem outonal, meu filho, e teu trabalho é exactamente o que os autores chamam de outonada: são frutos colhidos numa hora da vida que já não é clara, mas ainda não se dilui em treva. Repara que o outono é mais estação da alma que da natureza.

Não me entristeças.

– Não, querido, sou tua árvore-da-guarda e simbolizo teu outono pessoal. Quero apenas que te outonizes com paciência e doçura. O dardo de luz fere menos, a chuva dá às frutas seu definitivo sabor. As folhas caem, é certo, e os cabelos também, mas há alguma coisa de gracioso em tudo isso: parábolas, ritmos, tons suaves... Outoniza-te com dignidade, meu velho.»

Carlos Drummond de Andrade - Fala, amendoeira (1957)

sábado, agosto 02, 2008

Ainda existe coronelismo... Agora é urbano!

Manda quem tem valete

Lá pelos idos de 1968, quando o Brasil vivia o segundo dos plantonistas da ditadura militar, aprendi, na Universidade Católica de Goiás, que “autoridade é conhecimento”. Lindo, isso, hem? Muito a propósito de se aprender numa Faculdade de Filosofia, escola que, antes da malfadada reforma de 1971, formava professor para o Ensino Secundário. Vale lembrar que Ensino Secundário englobava o Ginasial e o Colegial (as quatro séries da segunda fase do Fundamental de hoje e o Ensino Médio atual).

Imagine, leitor, a confusão na cabeça de calouros universitários naqueles meses agitados de 1968. O ano letivo começou com a morte, por militares da Aeronáutica (ou da PM carioca; as fardas eram muito parecidas), do estudante Edson Luiz; em dezembro, o comando militar do País editaria o AI-5, o famigerado Ato Institucional que cerceou de vez as liberdades e impôs o toque da humilhação sobre todo o povo. Em sua sombra viria a censura à imprensa, a infiltração de pessoas nas salas de aula e nos ambientes de trabalho para a missão “superior” de delatar quem se manifestasse contrário ao “regime”.

Em pouco tempo, uma frase costumeira caiu em desuso: “Você sabe com quem está falando?”. Sim: detentores de uma “autoridade” transitória, como ocupantes de cargos eletivos de deputado e vereador, bem como chefes temporários em repartições públicas, usuários contumazes do “slogan” perceberam que não mandavam nada. A ordem, então, vinha em escalas crescentes; começava nas três divisas dos sargentos neófitos e aumentava de arrogância à medida que eram mais os “macarrões” nos braços; subiam aos ombros e cresciam de poder conforme se aumentavam as estrelas. Estrelas douradas de coronéis refletiam o supra-sumo do mandonismo totalitário, mas tudo era atribuído aos generais. E só generais da mais alta dignidade chegavam ao Palácio do Planalto.

Interessante como a palavra coronel, tão corriqueira nos sertões do Centro-Oeste e do Nordeste, perdeu sua ambigüidade. Os grandes fazendeiros donos de canaviais e de gado não discutiram a honraria: abriram mão da “nomeada” e deixaram aos milicos o título das estrelas gemadas. Mas não perderam a pose. Nem a suposta autoridade.

Na minha minúscula Caldas Novas surgiu pouco tempo após a instalação poder dos militares, uma empresa de porte. Desde seu surgimento, o dinheiro começou a correr fácil, engordando as contas bancárias. Em poucos anos, eram seus donos os principais empregadores em todo o sul de Goiás. E dinheiro, para os que não alisaram bancos nas faculdades de filosofia, dá autoridade, sim. Um dia, ouvi de um dos donos da portentosa empresa: “O prefeito vai ser o Fulano; tenho oitocentos empregados, são oitocentos votos que eu determino”. Foi então que o entusiasmado e ideológico estudante contestou: “Não, senhor! Você não é dono das vontades deles”, argumentei. Mas o homem não se dava por vencido: “Se dou emprego, digo em quem votar”.

Continuei contestando e nossa briga verbal adentrou madrugada. A certo momento, percebendo que o uísque já engrossava a voz do homem, perguntei se ele era senhor de escravos; ele não se abalou e me respondeu que a diferença era mínima: “Se não fosse a minha empresa, essa gente estava passando fome; e se hoje eles têm o que comer, têm de comer na minha mão”.

Muita água se passou na cabeça daquele homem antes que se desencarnasse; e ele se foi com a consciência de que era, mesmo, um coronel de envelope, ou seja, desses que não têm a patente, mas tem a palavra como vocativo. Também muita água termal desapareceu do lençol freático de Caldas Novas desde então, mas as mentalidades, lá como aqui, como no litoral ou na Amazônia, nas várzeas desmatadas de Mato Grosso ou na escarpas das serras sulinas e em todo o Nordeste, agreste ou não, o coronelismo perdura. O sujeito pode até não dizer “Você sabe com quem está falando?”, mas sente-se cheio de autoridade para mandar, ou impor arrogância.

Pode mandar, coronel! Há aí esses que já comeram em sua mão e hoje a beijam com a mesma subserviência. Só não espere de todos essa postura; alguns trocam o alpiste fácil de sua palma pelos frutos doces das grimpas.

Sou destes, viu?

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