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sexta-feira, outubro 24, 2008

Família fazendo falta

Família fazendo falta

Um motorista foi alvo de cinco tiros desferidos por um sujeito numa motocicleta. Destes, o mau atirador acertou um, outros três pegaram o corpo do moço tangencialmente e o profissional só está vivo porque o atirador é péssimo de mira, graças a Deus. Péssimo de mira, de humor e de conduta. É que a causa, ao que tudo indica, foi uma tola discussão de trânsito, na véspera.
A propósito, existe discussão de trânsito que não seja tola?
Peraí, gente! Que ninguém se ofenda... Eu também não sou santo e não sei quantas vezes discuti no trânsito. É ruim: a gente cai no ridículo e, obviamente, corre o risco de levar um tiro, também. E tudo a troco de quase nada. Vou contar, já, já, a última em que me meti, envolvendo uma moça. Mas, antes, tenho outras considerações.
As coisas andam erradas; muito erradas. E não é só no trânsito. Nesse segmento, os erros não são apenas de condutores e andantes, mas também de autoridades. Notem: de tudo o que o Código de Trânsito Brasileiro exige, os poderes públicos são os que menos cumpriram sua parte. Cidadão de bem que pretende agir dentro da lei é impedido pelas circunstâncias várias, inclusive pela falta de providências que as autoridades deveriam ter tomado.
Esta semana, Raquel Azeredo mostrou matéria sobre a morte de um estudante de 17 anos, com um tiro desferido por um colega de escola. Um colega de classe, se é que o assassino teve alguma classe em sua ação covarde e irracional. Raquel enfatizou que as escolas não oferecem segurança e os professores ficam limitados, porque a família não faz a sua parte no que se refere à educação. Concordo plenamente com Raquel.
Percebo, nos noticiários da tevê, que a imprensa eletrônica (ao menos ela) parecer querer inculpar totalmente a PM de São Paulo (no caso, o GAT) pela morte de Eloá, assassinada pelo ex-namorado. Os repórteres e apresentadores insistem em demonstrar que não houve um tiro que a PM diz ter ouvido e que motivou a invasão do apartamento, mas várias testemunhas dizem ter ouvido um estampido, ou algo parecido com um tiro. E o promotor de Justiça que acompanha o caso deixa claro: o importante é que o moço Lindemberg agiu premeditadamente, muniu-se de armas e munição bastante para manter seu plano por longo tempo e ficou nada menos que cem horas aterrorizando todo mundo. Não sei, mas parece-me que parte da imprensa quer inocentar o maluco e incriminar a polícia.
Certo: a polícia errou, sim. Já ouvi de muitos especialistas que o prazo máximo de tolerância não deveria ir além de vinte e quatro horas. Mas pouca gente chegou perto do que me pareceu mais racional – somente Arnaldo Jabor criticou o fato de a PM não dispor de micro-câmeras e outros equipamentos indispensáveis em ações do tipo. Deu para concluir: o pessoal do GAT é bem preparado, mas muito mal equipado. E, de novo, vejo falhas na família: que mãe e que pai, em sã consciência, permitem o namoro de uma menina de 12 anos com um homem de 19? Pois eram essas as idades de Eloá e Lindemberg, no começo da história.
Mas fiquei de contar minha mais recente discussão no trânsito. Eu vinha numa rua transversal e, ao cruzar a preferencial onde pretendia entrar à esquerda, fui forçado a avançar uns metros mais, pois um sujeito parou uma Kombi bem na curvatura do meio-fio, na esquina. Na preferencial vinha um Peugeot bem mais novo que o meu velho carrinho. A moça ao volante conseguiu brecar, depois de uma longa nota aguda proveniente do atrito dos pneus travados com o asfalto. Abaixei o vidro e lhe pedi desculpas, mas a loira ficou paralisada, como que em choque. Uns três minutos após, ela religou o motor, engatou a marcha (com alguma dificuldade) e, antes de arrancar, pronunciou uma frase longa e ininteligível. A musicalidade da fala deixou ver que não se tratava de alguém com boa base cultural ou social. Só entendi as últimas sílabas, algo parecido com "udê". Nesse momento, respondi-lhe no mesmo tom, mas na minha pronúncia peculiar. Só que a minha resposta não rimou com a dela. Preferi terminar em U.

3 comentários:

Anônimo disse...

Caro Luiz, tenho lido suas cronicas, que por sinal são minhas leituras favoritas...Família, impressionante como o conceito de familia ficou modificado com o passar dos anos. É muito claro, pelo menos aos meus olhos, que o grande problema atual fica resumido a falta do convivio familiar - almoços de domingo, conversas a noite durante o jantar, a espera dos filhos quando saem a noite e principalmente o conselho, a opinião e o carinho, a demonstração de que eles podem contar com voce incondicionalmente, em qualquer momento e situação. Com certeza, falta hoje um certo limite, um certo respeito e um certo amor...criar filhos prateia os cabelos e enruga a face, com certeza mas vale a pena!!!
Carmem Amelia

Anônimo disse...

Educar filho na atual conjuntura não está fácil,mesmo que os pais se disponham de tempo para o diálogo. Nem todos os filhos querem papo com os "velhos".Esse mundo cão está cheio de atrativos muito melhores que intermináveis dialogos sem nexo.Assistimos de camarote a degenaração da familia.
Como estamos em um processo de busca das nossas origens, creio que a familia tambem entrará neste ciclo e voltará a ser o lugar onde jovens e crianças buscarão apoio, aconchego, carinho...Assim como o as abelhas são responsáveis pela continuidade do homem na terra, a familia é sustentáculo para este mesmo homem. É ela que norteia e nos dá suporte.

Mara Narciso disse...

Que coisa feia Luiz!Sei que reconhece, e assim deve ser. É preciso dirigir sem ódio, embora seja alguma vezes impossível.Numa dessas podemos matar ou morrer. E cadê a graça? Vamos nos acalmar que será melhor para todos.