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quarta-feira, outubro 22, 2008

Sarau no Goiânia Ouro

Goiânia já teve um ambiente mais propício aos poetas. Éramos ativos, inquietos, cobradores. Éramos presença sempre. E aí, alguns se mudaram, outros faleceram e nós, os sobreviventes, parece que esmorecemos, morremos em vida, fechamo-nos em nosso mundinho doméstico sem mais ousar. Mas já fomos muito ousados, sim, antes de envelhecermos. Além disso, a sociedade mudou e o nosso modo de contestar pode ser, hoje, “démodé”. Mas ainda existem jovens. E muitos poetas entre os jovens. Lamento não vê-los em bandos inquietos e, ao seu modo, ativos e felizes. Poetas têm a missão intransferível de transformar o mundo. Poeta omisso não existe.
Um moço de Brasília, o poeta Roberley Antônio, lidera um site na Internet e um movimento poético: “Memento Mori”. Ele costuma promover saraus poéticos no Distrito Federal e, instigado pela musicista e poetisa (e ativista cultural incansável) Fátima Paraguassu, resolveu cutucar Goiânia. Ele veio, no último sábado, realizar um primeiro encontro de Poesia Goiânia – Brasília. Pedimos espaço e Carlos Brandão nos atendeu, aprovado pelo secretário Doracino Naves e secundado pelo competente Itamar Teixeira. Usamos o espaço do bar do centro cultural Goiânia Ouro.
Infelizmente, e a despeito das realizações da administração municipal, um funcionário da casa ameaçou pôr tudo a perder. O moço, Rafael, pareceu não querer seguir a linha que começa em Iris Rezende, passando por Kleber Adorno e Doracino Naves e chega a Carlos Brandão o grande realizador, decidiu, em dado momento, avisar a coordenação do sarau: “Às nove horas (da noite) vou cortar o som de vocês para não atrapalhar o teatro”.
Fiquei sabendo. E algum hormônio em mim se agitou, primeiro induzindo-me a abandonar o local. Mas não podia... Fátima e Roberley contavam comigo; poetas locais e visitantes, dentre estes a humanista Vânia Moreira Diniz, que é referência em todo o país, não deviam ser abandonados por mim. Decidi, numa segunda opção, apenas dizer que não mostraria nada de meu em favor do tempo que o moço da portaria do teatro queria impor. Mas ao subir ao palco, escolhi a terceira decisão: li um poema de Cora Coralina, a homenageada; mostrei quatro poemas meus; e arrematei contando um caso da vida de Cora – tudo isso precedido por um desabafo nervoso, contestador e desafiador: na minha presença, ninguém cala a poesia; e as artes, entre si, sempre foram solidárias. Duvido que teatrólogos, atores e cineastas tivessem qualquer interesse em boicotar um evento de música e poesia.
Ao contrário do que pretendia o desavisado funcionário do Goiânia Ouro, os poetas brasilienses e goianienses apegaram-se ainda mais ao seu sarau. E o esticamos até um pouco além das 23 horas. Lamentei algumas ausências: Leda Selma, Delermando Vieira e Maria Helena Chein. Mas os presentes fizeram bonito.
Para mim e para os demais de Goiânia, nós que conhecemos o trabalho que se faz na esfera da cultura no município, ficou patente que a falha, lamentável, ficou por conta exclusiva desse moço, Rafael. Roberley sentiu: o sarau, em Goiânia,custou-lhe o dobro dos gastos, pois houve esse deslocamento; o custo adicional era previsto, mas o desgaste poderia ter sido evitado. Disse-me ele: “Senti-me tratado como representante de uma arte de segundo plano”.
Não é bem assim, Roberley. O moço que nos incomodou é, certamente, alguém distante do ofício das letras. Na ausência de seus chefes, ele decidiu exercer uma autoridade que não possui, porque autoridade é conhecimento; quem não conhece, não tem autoridade. Ele é, possivelmente, um desses que não consegue ler além de três linhas. Mas continuaremos, sim. Faremos outros saraus, em Brasília e aqui, impondo nossa ação e mostrando do que somos capazes.
Afinal, a poesia nunca esmorece.




8 comentários:

Anônimo disse...

Bravo Luiz!Viva a poesia! como disse Roberley: "Luiz ganhou um fã brasiliense"eu também sou sua fã e agora muito mais, pela sua atitude corajosa de impedir que calassem a voz de tantos poetas que ali estavam, vivendo um momento ímpar, desligados das atrocidades da vida.Se tivéssemos atitudes assim, diante da corrupção, diante do jogo de interesse que destroi cada dia mais nossas esperanças, o mundo seria melhor.Obrigada por ser poeta, obrigada por ser um grande amigo.

Roberley Antonio disse...

Prezado Poeta Luiz de Aquino,

Momentaneamente, um sentimento de frustração tomou conta de mim ao ver o tratamento dado os artistas de casa e até mesmo aos visitantes de Brasília.

Mas, este sentimento em nada se comparou ao orgulho e admiração que tive e tenho por todos os que participaram deste evento. Não só pelo talento individual de todos que se apresentaram, mas também pela perseverança e amor às letras que pude ver nos olhos de cada um dos que lá estiveram.

Aplaudo, mas aplaudo em pé, homenageando todo este talento goiano e brasiliense que prestigiei e sinto-me envaidecido por fazer parte deste presente que demos à poetisa maior, Cora Coralina e até mesmo à literatura brasileira, que tão carece de incentivo.

Os meus parabéns e votos de agradecimentos especiais a você, por conseguir que o evento chegasse ao seu final, e à Fátima Paraguassú, pelo empenho em nos ajudar na organização desta noite maravilhosa.

E que venham novos eventos e, com eles, tribulações, que serão vencidas pelo amor à arte e à vida.


Saudações Literárias,

Roberley Antonio
www.mementomori.com.br
www.noitedepoesia.com.br

Anônimo disse...

Vocês pensam que são o centro do mundo mesmo, né? Todo esse discurso de "você sabe com quem está falando, quanta gente importante está aqui?" é realmente rídiculo - e não combina nem um pouco com a aura provocadora dos poetas (Verdadeiros poetas que importam de fato), evocada no início do texto. Quanta bobagem escreve esse Luiz de Aquino. E como os goianos são tolos em dar crédito ao que este senhor pensa e faz. Que atraso de vida. Grande coisa toda essa hierarquia (Iris, Doracino, Brandão, etc) - esse puxa-saquismo característico desses pseudo-escritores, que precisam mamar nas tetas públicas pra sobreviver - e tudo isso apenas pra ficar crucificando o pobre do moço que trabalho no Goiânia Ouro (com certeza ele estava com a razão, de fato a acústica dos espaços no Goiânia Ouro é péssima, exigindo tolerância mútua e colaboração entre os artistas que lá se apresentam). E crucificam o moço como se ele fosse perfeito bode expiatório para um evento chinfrin como o que foi organizado por vocês, evento que realmente só atraiu os velhos (de espírito), porque não há nada de novo ali, nenhuma idéia sequer. Só o mesmo de sempre, mas mal feito. Parecia jograuzinho do maternal. Aquilo realmente, foi vexaminoso. Por que não foram fazer sarau no Paço Municipal, já que você é tão importante assim e parece ser amigo e conhecido de tanta gente importante? Vá sussurrar suas poesias no ouvido do prefeito, e aproveita pra pedir a ele que melhore os problemas acústicos daquele espaço cultural! E já que são tão amigos assim, pra você ter conseguido aquele espaço no Ouro - que nem era apropriado para tal evento, posto que é um espaço de circulação e convivência dos diferentes públicos que ali frequentam - aprenda pelo menos a ser mais humilde e a saber conviver em harmonia com outras manifestações artísticas que ali se apresentam.

Se exige respeito, aprenda a respeitar, sem se achar o centro do mundo, meu caro.

Anônimo disse...

Olá, poeta Luiz de Aquino!
Em comum, temos a poetice e a intolerância às pessoas insensíveis e insensatas, tipo
Rafael do Goiânia ouro. Conheço gente assim e também abomino "todas as excelências
de araque" sejam elas de qualquer escalão.Em geral, esse tipo de gente é ignóbil e com
plexada, razão pela qual quer impor sua "autoridade" a pulso. É o povo do "não pode porque vai contra o regulamento", mesmo em caso de incêndio...rs..rs
Mas a gente tem que conviver com essas pessoas, espalhadas por aí, felizes da vida até
com um cargo de Superintendente da Segunda Via do Memorando Interno...
Minha solidariedade pelo que aconteceu. Se tivesse sabido desse evento a tempo, teria
estado lá, com certeza bem disposta a dar um chega- pra- lá nessa figura. Coisa feia!
Sou sua leitora, gosto dos seus escritos e me sensibilizei muito, sobretudo com o texto
que você publicou para meu pequeno sobrinho Rafael, filho do Célio e da Rossana. Meu ma-
rido é irmão da Laís, mãe do Célio.
Gostaria de participar do próximo sarau, desde que possa preencher os requisitos para
tanto. Não sei nada desse projeto ainda. Caso possa me informar a respeito, agradeceria
imensamente.
Bom dia e bom feriado!
Sônia Marise

Anônimo disse...

Luiz, tem toda razão de puxar nossa orelha, merecemos. Felizmente o seu ardor, talento e perseverança não se esvaem. Você continua firme no seu trabalho artístico-cultural e o aplaudo, e o cumprimento pela crônica (também desabafo), bastante objetiva, clara, de leitura agradável.
Grande abraço.
Maria Helena.

Anônimo disse...

Luiz, tem toda razão de puxar nossa orelha, merecemos. Felizmente o seu ardor, talento e perseverança não se esvaem. Você continua firme no seu trabalho artístico-cultural e o aplaudo, e o cumprimento pela crônica (também desabafo), bastante objetiva, clara, de leitura agradável.
Grande abraço.
Maria Helena.

Anônimo disse...

Porque será que os covardes nunca assinam o nome heim??

Marley

Deolinda disse...

Prezado Luiz,
Será que o moço em questão não agiu assim pela péssima qualidade dos equipamentos no local? Ao que se sabe, quem está no cinema ouve o que se passa no teatro e assim como quem está no teatro "escuta" o filme ao lado. Que o local é um improviso todo mundo sabe. Com tanto espaço bacana em Goiânia, escolher o Cine Ouro para um evento assim, é pedir para levar pedrada. Não pela qualidade da proposta, mas pelo público habitual do local.
Em todo caso parabéns pela realização do evento e todo sucesso.