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sábado, janeiro 31, 2009




Carta ao tempo

Luiz de Aquino

 

Leitores amigos, já notaram como as pessoas se dividem pelo modo como olham as coisas e a vida? Sim, há os que vêem passado em tudo, enquanto outros enxergam o futuro até mesmo nos desenhos rupestres. Alguém, mais bem dotado que os comuns, disse que o fundamental é vivermos o presente, mas quase todos agem apenas em função do passado e (ou) do futuro; assim, deixam de se ocupar do presente, de viver o momento.

Conhecemos, ainda, muitas senhoras que, enviuvadas ainda nos verdes anos, enclausuraram-se em vestes escuras e sóbrias e escolheram envelhecer antes que lhe chegasse sequer a idade adulta em sua plenitude. Vejam aí, entre as amigas e parentes de suas mães e avós, e verão que não exagero. E mesmo entre os moços e adolescentes ainda vemos os que cobram de pais e mães viúvos uma castidade desumana.

Convenhamos: viver o presente nos dá mais chances de felicidade, e esta não é um ponto de chegada, mas uma viagem (mais coisas ditas por algum outro pensador, talvez anônimo; mas conheço bem uns dois ou três escribas famosos que não têm escrúpulos em se apoderar das falas alheias). Sofremos muito pelas dores do passado ou pela ansiedade ante o futuro. Enquanto isso, a vida passa, a fila anda e o dia amanhece outra vez, e outra, e outra...

Ao contrário dos que se vem nos jovens, olho-os e enxergo o futuro. Não quereria, para mim, a viagem de volta, pois sei que cometeria os mesmos erros, sofreria as mesmas dores e as angústias se repetiriam. O mesmo se dá em

 mim quando perambulo nas ruas de ontem, como as do centro de Goiânia, que aos poucos vai se tornando História. Aquelas ruas de comércio pouco e variado e moradias várias tornaram-se um bazar oriental, com as calçadas entupidas de produtos e transeuntes anônimos.

O centro, hoje, é ponto essencial de passeio para os que já atingiram os cinqüent’anos. Nada de criticar a mudança dos hábitos, mas de curtir saudade com a convicção de que, para os moços, as lembranças se formam agora. Na Rua 4, a poucos passos da Avenida Goiás, encontrei Martônio, velho amigo dos nossos tempos moços nas Ruas 96 e 97, quando até o quintal do Palácio das Esmeraldas parecia-nos vulnerável, especialmente em tempo de jabuticaba. Vinha de par com o pai, Antônio Pereira, a quem fiz uma cobrança sincera: “Siô Antônio, que desaforo! O senhor não vai envelhecer?”. Não, não vai... Ele prefere transformar as lembranças em escritos que, brevemente, vai virar livro.


Cinco minutos de prosa boa, saudade e esperanças renovadas. Dá-me vontade de falar ao tempo, escrevo, então, esta carta ao tempo... Ou melhor, um poema à mulher de amanhã, escrito num tempo que também já vai longe. Só que, de novo, faço o passado viajar ao futuro, num jogo de ir-e-vir como passos de dança. Algo assim:


Se eu voltar a viver nos teus sonhos

 

Se eu voltar a viver nos teus sonhos, 

é certo que chegarei sem pedir licença. 

Será um chegar na noite, 

sem silêncio e sem luar 

porque nada mais senão nós dois 

deve existir.


Será um sonho em que a dor 

há de valer 

na suprema intensidade 

do calor que brotar dos corações. 

E será um sonho 

que nos fará acordar suarentos, 

porque estaremos juntos 

antes que o galo anuncie a madrugada.


Se eu voltar a viver nos teus sonhos 

vou sentir a mudança no cheiro das manhãs, 

lembrando o tempo das flores 

nas mãos que me afagavam. 

Será o tempo de rever noites 

tão nossas 

e recordar teu cheiro em mim — 

o cheiro único 

da única mulher em minha cama.


(A mulher na minha cama, 

de cheiro exclusivo 

e carinhos só dela, 

não trazia o feitio 

das noites vazias: era a essência 

da minha carência 

e promete outra vez 

renascer 

quando eu voltar a viver nos teus sonhos).

 

Meus amigos, pai e filho, se vão, mas não nos despedimos. A tarde, sim, despediu-se no tempo, porque ela, a tarde, é única. A cada fagulha do sol ou cintilar de estrelas infinitas renovamos nossos passos, nossos olhares... Sinto que tudo virá outra vez, mas da mesma maneira como Heráclito definiu o rio e o homem.

Tudo se faz novo.

 

 

Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras e escreve aos domingos neste espaço. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com. Blog: http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com.  

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Às aulas, de novo

Luiz de Aquino

 

Fim de janeiro, e a gente mal se refez da ressaca das festas natalinas e de Ano-Novo. Esta passagem de ano teve cores diferenciadas, com as preocupações centradas na crise mundial que, dizem, supera a de 1929. Será? Sim, é possível... Afinal, vivemos a tal da economia globalizada, isto é, o capital deixa de ter pátria e corre o mundo, aplica-se onde obtém melhor rendimento, instala indústrias onde o custo do trabalhador beira a linha do trabalho escravo e vende produtos onde houver alguém. Se o propósito é vender sorvete, há que se convencer esquimós. E, também, há que se mostrar aos beduínos que eles precisam de aquecedores.

Há produtos que se vendem em qualquer lugar: calçados, roupas, bebidas, armas de fogo, drogas lícitas, drogas ilícitas, computadores, automóveis e, principalmente, ideologias. Impor a ideologia do Tio-Sam, ainda que falido, não é feio nem condenável. Condenável é vender ideologias “exóticas”, como o sonho de bons salários ou o respeito à dignidade de cada um. Indigno é permitir que alguém seja ateu. Ou muçulmano, porque os do Islã lembram homens-bomba e mulheres-suicidas (pessoas dispostas a morrer para se tornarem mártires, ou de oferecer os próprios filhos em holocausto por uma causa radical).

É preciso ser grande, altruísta, olhar para os horizontes além da divisa do olhar, porque o mundo é muito maior (dizem eles). Olhem longe, sim. Porque olhar perto é profano e perigoso. Se olhar perto, você pode descobrir que quem lhe oferece uma ideologia saudável e libertária violou a liberdade e a dignidade de alguém, apoderou-se dos bens de outrem, locupletou-se de modo inconfessável e gerencia com eficiência uma gorda conta bancária num desses famosos paraísos fiscais...

A economia é globalizada, mas tem capital. Vale a ambigüidade – e a ubiqüidade também (gosto de trema, vou usá-lo até que me obriguem ao contrario). A capital do capital universal, quero dizer, globalizado, ganhou novo gestor,  simpático e negro. Negro? Aqui, seria crioulo, mulato, mestiço. Aqui, provavelmente não se faria referência à cor da pele. Ainda restam muitas ilhas de racismo, mas caminhamos a passos largos para a integração.

Mas eu dizia do reinício das aulas, e boa parte das escolas já cumpre a rotina que se estenderá até os primeiros dias de dezembro, com um recesso em julho. Mochilas cheias, colunas dorsais condenadas, ensino de qualidade sofrível e uma geração de estudantes que transporta toneladas e toneladas de livros para, daqui a poucos anos, nunca mais olhar para eles.

Certo: esses jovens passarão a odiar os livros, pois estes foram, para eles, como as pedras de antigamente para os prisioneiros que as quebravam enquanto se economizava dinamite. Professores da área intelectual devem ser maus profissionais, pois os de esportes conseguem fazer os meninos gostarem de bola. Ou não? Certo, Marcos Caiado, estou sofismando, sim. Mas quero conclamar os professores a ensinarem esses jovens a gostar de ler, e não apenas exigir que eles carreguem livros. Conhece alguém que se tornou concertista por carregar o piano?

Ando, sim, preocupado com o rumo que as coisas tomam. Há uma constante inversão de valores, ninguém quer edificar o homem de bem do futuro. A nova novela de Glória Peres mostra um casal que deseduca o filho,  acumplicia-se com ele para acobertar o vandalismo e os crimes cometidos pelo adolescente. Qualquer semelhança com o cabo da PM, pai do sujeito que matou Hígor à saída da boate, é mera coincidência.

Vamos lá, companheiros nascidos nos anos 30, 40 e 50 do século passado, vamos cumprir nossa parte. Como voluntários, conversemos com os jovens, seja em casa, nas ruas, nos bares e nas salas de aula. Talvez as nossas vidas tenham história bastante para mostrar-lhes que os tais de valores morais ainda valem a pena.

 

 

Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras.

E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com.

 

segunda-feira, janeiro 26, 2009

O amor, como o dia


Luiz de Aquino 


Um amor de verdade 
nunca é grande. 

Amor de durar é calmo, discreto. 
Tranqüilo como um lago 
na montanha. 

Um grande amor prenuncia 
grandes tragédias, 
desastres fatais 
términos dolorosos. 
Um amor de verdade 
não exige flores no começo, 
poemas para exaltar. 
Nem pede socorro aos amigos, 
divãs de analistas. 

Amor de durar 
só pede a paz dos dias 
de todos os dias, 
do acordar de manhã 
à paz que antecede o anoitecer. 
As tempestades, estas 
perdem-se tristes 
no mormaço das tardes. 

A noite é parceira 
da paz renascente. 



Do meu livro Sarau (Goiânia, 2003). L.deA.

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Será o fim dos males?

Será o fim dos males?

 

Luiz de Aquino

 

Ainda não me acostumei… Todas as vezes que ouço alguém dizer “a era Obama”, ocorre-me que está surgindo uma nova companhia de aviação: Aerobama. Não se fala em outra coisa... Ou melhor, fala-se muito e de tudo, desde que tudo seja em torno da posse, que os americanos chamam de “inauguration”, e um “cientista político” obviamente brasileiro (paulistano, para ser bastante preciso, com aquele sotaque de paulistano-acadêmico em momento de entrevista a uma emissora de rádio) usou como referência para demonstrar o nosso “atraso medieval”. Segundo esse senhor, cujo nome felizmente não guardei, isso de “tomar posse” é retrógrado, leva o sujeito a pensar que é dono do cargo, etc...

Ah, meudeusdocéu! A gente tem de ouvir tanta baboseira quando quem fala se escuda com um título acadêmico! Será que fomos nós, brasileiros, que “inauguramos” o G. W. Bush? Porque ele, sim, levou os EUA (e um leque de nações que lhe puxaram o saco) a cometer a guerra do Iraque. A maior democracia do mundo, que é também, do mundo, a maior economia e a maior potência bélica, a nação mais organizada e outros epítetos, foi ela quem pôs no poder, há oito anos, o sujeito que não venceu nas urnas. Depois, o povo, feliz por vencer no Iraque (quer dizer, por matar civis indefesos e militares mal equipados), decidiu eleger o homem. Ou seja, é como se ele fosse nomeado em comissão para um cargo brasileiro e, depois, só depois, passasse em concurso.

Seguindo uma linha de raciocínio que sempre ouço de policiais e outros profissionais da área penal, sempre me pergunto a quem interessaria, diretamente, aquele famoso atentado de 11 de setembro de 2001. Pergunto a mim, e tenho a minha resposta; quando pergunto a outras pessoas, a gente acaba concluindo que só interessava (e bem-valeu) a George W. Bush. Isso é que é uma coincidência digna do tal de primeiro-mundo! Então? Parece-me que o primeiro mundo nem é lá tão adiantado assim... Afinal, só agora, em seu quadragésimo quarto presidente, puseram um negro no Poder, coisa que já acontece na África há milênios (juro! Ouvi isso num boteco, sim...).

Voltando para cá, para o meu quintal, ou minha doce e encantada província (sem pejo, meus queridos, adoro a palavra!), entristece-me constatar que ainda não concluíram o decantado viaduto, com sua trincheira e a praça de conversão ao nível da rua. Comparo-o com a obra da Praça do Ratinho e vejo, sem dificuldades, que aquela se deu a contento, atende bem, soluciona o problema dos congestionamentos e foi inaugurada após concluída; a do Chafariz, não. Placas caem, as estruturas metálicas que formam aquele V invertido foram malcalculados e terminaram com uma ponta forçada, as vias de conversão registram congestionamentos graves (talvez se resolva com nova temporização dos sinais luminosos), o piso de asfalto não ficou bom (há vários pontos de remendos e o perfil está maldelineado). Concluo que faltou Mauro Miranda. A construtora, a exemplo da outra (a que fez a obra do Ratinho), tem história.

Mas, como diz a canção, “não tem nada, tá tudo azul na América do Sul” e nos cones questionáveis. Uma igreja enorme, cujos dirigentes só querem dos fiéis as orações e o dízimo, fez remendos a que chamou de reforma, com fiscalização caolha pela Prefeitura de São Paulo; o resultado foi o que todos sabemos. Mas Obama foi emposs... desculpem-me, foi inaugurado. E com sua “inauguração”, deram-se por findos os ataques à Faixa de Gaza, e os palestinos já contam muitas centenas de novos mártires, um terço deles (ou mais que isso), crianças. Não tem nada não, Obama é o homem mais poderoso do mundo. Nossos problemas se acabaram. Nada mais de dengue nem AIDS, nada mais de tráfico (de influência ou de drogas), nada mais de CD e DVD pirata, nada de se contrabandear armas e cigarros. Obama...

Obama, Obama... Obama nas alturas e paz na Terra aos homens sem lastro (nem lustro)!

 

 

 

Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Ageu Cavalcante me fala das ruas

Ageu Cavalcante me fala das ruas


Luiz de Aquino


Recebi, do meu sempre vereador Ageu Cavalcante (velho amigo), e-mail sobre minha crônica de quinta-feira, 22 de janeiro:

"Meu caro Poeta, lendo seu artigo de hoje no DM "De vultos e vulgo, também", cumprimento-o pelo mesmo e tenho alguns esclarecimentos a fazer. Em 1990, por ocasião da elaboração da Lei Orgânica do Município de Goiânia, fui o autor da emenda que hoje é o art. l65 da nossa constituição municipal, que diz: "Art 165 - Fica proibida alteração de nomes de vias e logradouros públicos já existentes, exceto quando esta alteração se destinar a restituir a primitiva denominação". É que Vereador gosta muito de, em momentos de eleição, principalmente, mudar as denominações, causando transtornos aos Correios e a empresas, face as notas fiscais, etc. Apenas para exemplificar, a Rua 82, que circula a praça Cívica, chamava-se Roberto Kennedy; a 84, 31 de Março; a 85, (não me lembro o primeiro nome) ...Mascarenhas, etc. Retornei ao nome original mais de 50 ruas, mesmo porque o nome não pega. Teria outros exemplos, mas isso é apenas ilustração. Quanto ao Venerando, que foi meu professor e amigo, é de minha autoria a Lei 8.026, de 30/11/2000, publicada no DOM de 12.12.2000, que denomina Professor Venerando de Freitas Borges o edifício-sede do Paço Municipal. Posteriormente, o Vereador Candido Lustosa, através da Lei 8.222, de 30/12/2003, propôs alteração, e com a minha concordância à época, para Palácio das Campinas Venerando de Freitas Borges. É de minha autoria a Lei 7.872, de 26/03/1999, dando o nome de Praça Goiani Segismundo Roriz à área pública localizada defronte ao edifício principal do Paço Municipal. Assim, o Paço ficou com o nome do primeiro prefeito e a praça em frente, o da primeira criança registrada em Goiânia. O Hino Oficial de Goiânia, também, é Lei de minha autoria, entre outras leis. Nos 22 anos de mandato, preocupei-me com a nossa cidade, sua cul tura e sua gente. Oportunamente falaremos mais, um abraço, Ageu Cavalcante".

Querido Ageu, tinha conhecimento de sua Lei de retorno aos nomes de origem(a Avenida 85 era João Mascarenhas). Questiono, porém, se 83 ou 136 são nomes, já que são números. Naquele empenho pelos retornos, o nome Quinta Radial (Setor Pedro Ludovico) desapareceu para dar lugar à extensão da T-63 (nomenclatura exclusiva, antes, do Setor Bueno), alcunha que se espalhou desde a Avenida Circular até o Bairro Anhanguera, no extremo oeste daquela via. Fato igual se deu com a atual T-9, que, por uns tempos, homenageava um desembargador Barros Loyola (acho que Clenon de Barros Loyola).

Sou conhecedor de sua trajetória comunitária desde os tempos da COBRAS-GO, a cooperativa que erigiu os conjuntos Alfa e Beta no Setor Marista e o Romildo Amaral na Cidade Jardim. Sei de seu valor inestimável como tribuno e de sua coragem como líder classista e representante público. Enfatizou, mais uma vez, que a minha sugestão restringe-se tão-somente às praças porque estas, em Goiânia, em raríssimas ocorrências, são dadas como endereços. Para estes, ainda que o imóvel ou estabelecimento se situe numa praça, dá-se por endereço a rua lindeira correspondente. Portanto, as praças não interfeririam no referencial costumeiro. 

Por outro lado, é de bom tom que se respeite a tendência popular - como, por exemplo, Praça do Ratinho, em alusão ao posto de gasolina do saudoso Wilson Vieira, que tinha o apelido (entre amigos) de Ratinho. Mas praças sem nomes são o que mais há em Goiânia. 

Enalteço, sim, o seu conhecimento e o seu amor à cidade, mas não entendo como você próprio permitiu que escolas ganhassem nomes de pessoas totalmente desvinculadas do meio educacional. A Praça Vereador Boaventura é uma belíssima homenagem a um ícone da cidade, muito mais apropriada do que o nome popular original de Praça do Mercado, concorda? Ruas, pontes, viadutos, praças etc. deveriam, e devem, homenagear os fazedores da História. Não quero que isso aconteça tão cedo, mas acho de suprema justiça que a pracinha limitada pelas ruas João Teixeira e Hermann Komma, no Conjunto Romildo Amaral, venha a se chamar Ageu Cavalcante, em lugar de ser "a pracinha do conjunto". 

A continuar como está, passaremos à história como a cidade que já teve flores nos jardins (hoje, só temos verde estéril), que já teve ipês nas avenidas (hoje, apenas palmeiras imperiais, para que o titular da pasta específica finja puxar o saco do chefe, plantando mudas que só serão vistas daqui a três décadas, ou seja, nem mesmo o homem da AMMA as verá adultas).

Mantenhamos, por questão de praticidade, os nomes das ruas existentes. Mas que a Câmara Municipal e a Secretaria Municipal do Planejamento oriente os projetistas no sentido de homenagear nossos ícones dos esportes, das artes, da política, do meio empresarial, da ciência, da educação etc. no sentido de evitar isso de Rua S-4, Praça da T-25, Avenida R-150 etc. Somos uma cidade, ainda que jovem, e já temos história. Não devemos denominar nossas escolas e vias públicas como Barão de Drummond ou Castro Alves, bem como não devemos ter um montão de homenagens a dois ou três vultos, apenas. E é bom que se encha a cidade com estátuas, bustos, placas e medalhões... A propósito, aquele prédio da Secretaria da Saúde que já foi Osego (Organização de Saúde do Estado de Goiás), vizinho ao Centro de Convenções, em frente à casa onde viveram o Dr. Simão Carneiro de Mendonça e a musicista Belkiss Spenziere C. de Mendonça é, pelo plano original da cidade, uma praça. No governo Mauro Borges, edificou-se ali aquele monstrengo, ante os protestos do médico e de sua mulher artista internacional, sem que o governador se sensibilizasse (naquele tempo, você sabe, prefeito não mandava em nada além da varrição das ruas e da coleta do lixo). Bom seria se demolissem aquele prédio,devolvendo à cidade a praça projetada e erguendo-se, no local, não uma, mas duas estátuas - de Simão e de Belkiss.

Fique com o meu abraço, querido Ageu!

 

Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com

terça-feira, janeiro 20, 2009

De vultos e vulgo, também

De vultos e vulgo, também

Luiz de Aquino

Tiroteio em escola, policiais que não sabem atirar (será?), briga à saída da boate, álcool e volante, pedófilos, seqüestros, assaltos, furtos... Estávamos, todos, indignados com as más notícias, essas que causam azia ao presidente Lula. Tanta música ruim, mas tanta música boa; tanto teatro e tanta leitura (ruins e também bons), tanto cinema, tanta tevê... Mas o evento marcante na vida de Goiânia e cercanias foi o reconhecimento público ao nosso primeiro prefeito, o professor Venerando de Freitas Borges. Aquela estátua é um marco, tanto quanto o foi o velho mestre, falecido há exatos 15 anos.

Sobra para José Mendonça e Ubirajara Galli, idealizadores desse feito, a incumbência de juntar crônicas e artigos produzidos sobre o fato e enfeixá-los num livro. Não sei como reagiria Venerando a mais uma homenagem. Ele fazia piada com o fato de haver, em Goiânia, nada menos que três ruas e avenidas com seu nome

A Secretaria da Educação do Estado fechou uma Escola Venerando de Freitas. Escolas nunca devem se fechar. Prisões, sim, e em dois sentidos: o de impedir fugas e o de desativá-las; mas a última hipótese é utópica, dependeria da proliferação dos educandários, com excelente qualidade de professores, remunerados com dignidade – coisas improváveis ainda entre nós.

Gostei de ler o artigo de Batista Custódio (Os vultos e o vulgo, DM de 19/01/09) sobre as homenagens que faltam aos vultos locais. Especialmente no que toca às praças de Goiânia, quase todas sem nomes. Batista listou figuras da nossa história, desde educadores até políticos, passando por profissionais de realce e artistas vários. E o faz em bom momento, pois o prefeito está receptivo a boas idéias, o que não se via por aqui há décadas.

Os núcleos urbanos mais antigos e referenciais no Brasil exercem essa prática de homenagear seus vultos. Em Goiás, a timidez nos levava aos heróis dos outros.: quase todo povoado goiano tinha uma Avenida Rio Branco e uma Praça Getúlio Vargas. Assim, Goiás, pobre de nobres do Império, era cheio de endereços com as palavras Barão e Marquês, sem contar a troca imediata de nomes (no tempo da ditadura militar) para homenagear o general de plantão na Presidência da República.

Não há muito, o prefeito César Maia (felizmente, despediu-se uns dias antes de Bush, mas foi quase tão nefasto quanto) vetou um projeto da Câmara Municipal do Rio de Janeiro que dava o nome do palhaço Carequinha a uma escola. Motivo? A lei, no município da antiga capital do País, exige que as escolas tenham nomes de educadores, apenas. Ótima lei! Poderíamos repeti-la por aqui... Afinal, em Goiânia um só vereador dá nome a uma escola municipal e a outra estadual, mas o homem nada tinha de educador, nem de envolvimento com a área – tanto que era conhecido com a palavra Besteira posta após seu nome.

Em 17 de maio de 2006, escrevi ao secretário Kléber Adorno, da Cultura Municipal (gosto de tê-lo de volta, Kleber!), expondo e sugerindo:

"Constatamos, todos nós, que a quase totalidade dos logradouros públicos de Goiânia não têm nomes que homenageiem os vultos da nossa ainda jovem História. São eles pessoas públicas dos mais variados segmentos e carecem de referências que os dignifiquem na memória goianiense. Falo, exclusivamente, dos vultos da cidade, e não do Estado ou do País. A intenção, aqui, é propor a V. Exa. uma iniciativa que resulte em dar nomes de artistas, educadores, políticos – enfim, pessoas de inegável contribuição à consolidação da vida social, cultural, econômica e política da Capital".

Fico muito feliz com a proposta de Batista Custódio, não pelo mero fato de se somar, ricamente, ao que sugeri há quase dois anos, de modo reservado, à Municipalidade. Alio-me, pois, por velha convicção, a essa luta. E gostaria de ver ligeiras adaptações, como, por exemplo, que a Escola Deputado José Luciano retifique seu nome para Escola Professor José Luciano. Não por menosprezar ou reduzir a importância do respeitável cargo eletivo que o velho professor exerceu com dedicação, competência e dignidade (eram parcelas de sua personalidade; antes de ser deputado, ele foi também vereador), mas porque o titulo Professor o identifica mais apropriadamente com o ambiente escolar.

Falta-nos, aos goianienses, essas medidas. Uma via a que nos referimos como Rua J-17 ou Terceira Avenida tem apenas uma referência dessas que os técnicos aplicam em seus planos e projetos, mas um nome próprio, ainda mais quando imortaliza alguém de relevância comunitária, passa a ser parte íntima da nossa vida. Da nossa história de vida.


Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com.

sábado, janeiro 17, 2009

A estátua de Venerando



A estátua de Venerando

 Luiz de Aquino(*)

Houve um tempo em que administrar era a arte da autoridade a qualquer preço (e muitas vezes o preço era o grito do chefe , ou do patrão, contra a dignidade individual do empregado ou subordinado). Mas o mundo passou pela Revolução Industrial, pela Primeira Guerra Mundial, pela Segunda (duas décadas após, apenas) e os avanços tecnológicos nos deram os céleres avanços das ciências..

Encontrei-me com uma bela mulher, na faixa de idade em que já se é sogra, tarimbada em artes manuais (essas a que chamamos de artesanatos) e na gestão de instituições associativas e públicas. Desde o primeiro dia deste ano, titular de uma pasta na prefeitura de importante cidade turística de Goiás. Pois bem: bastaram-lhe menos de uma semana de trabalho para detectar uma série de más ações de seu antecessor, e isso já lhe vale narizes torcidos.

Esse encontro, e a conversa de poucos minutos que mantivemos sobre a nova realidade, mostrou-me o que pode ser a razão pela qual os novos administradores (e os moços empreendedores também) recusam-se a empregar os quarentões, os cinqüentões e os ainda mais velhos: é que nós, os tais de macacos-velhos, vislumbramos com muita facilidade as coisas malfeitas (bem como as más intenções tentadas, algumas realizadas).

Certo ou não, a realidade é que pessoas com mais experiência são não-gratas nas empresas. A gente grisalha sabe demais, e isso é um perigo! Então, a estes resta o canal estreito dos concursos públicos, que já não têm mais os limites de idade, como antigamente (em 1971, fui impedido de fazer concurso para o Banco do Brasil: estava velho, aos 26 anos). Mas aos velhos, quero dizer, aos que têm mais de quarenta anos, resta também o caminho das urnas, já que não se limita idade para se disputarem eleições.

O prefeito Iris é um exemplo de persistência na política. Às vésperas de completar 75 anos, reelegeu-se prefeito de Goiânia. E o fez sob a égide da renovação de idéias e ações.  É que, desafiado e cobrado pela comunidade cultural de Goiânia, ele respondeu escolhendo para secretário da Cultura o poeta Kléber Adorno, tarimbado gestor de cultura. E o que se viu foi novidade: em nenhuma de suas gestões anteriores (uma como prefeito de Goiânia, duas como governador de Goiás) Iris realizou tanto na área cultural. É dele um récorde  que imagino difícil de se superar, que foi a publicação, de uma só vez, de 71 livros de autores locais.

Ao término do mandato anterior, Iris entregou uma verba de trezentos e cinqüenta mil reais à Academia Goiana de Letras para aquisição da casa vizinha, possibilitando a ampliação da sede; e nestas primeiras semanas do novo mandato, inaugurou, nos jardins do Paço Municipal, a estátua de Venerando de Freitas Borges, primeiro prefeito da capital. A obra de arte leva assinatura do escultor Angelos Ktenas e a iniciativa da homenagem deve-se aos acadêmicos Ubirajara Galli e José Mendonça Teles, a quem os maledicentes certamente tacharão de “ubistas”, escritores com atividade na União Brasileira de Escritores (por certo, estou entre estes; não sou mais associado, mas já presidi a UBE de Goiás, com muito orgulho).

Iris, com isso, demonstra ser um bom exemplo de administrador que se renova. Ele assegurou, e na época eu escrevi que duvidava, que resgataria suas omissões nas gestões anteriores. Referia-se a meio-ambiente e cultura. E vem fazendo-o, sim. Falha gritante aconteceu com a remoção injustificada, pela Agência Municipal de Meio Ambiente, de pouco mais de trinta ipês da Avenida 85... Vale dizer que conclamei o titular da Agência a repor as árvores; sempre imagino que pessoas que realizam grandes feitos tendem a mudar de idéia e corrigir seus erros, como Iris Rezende vem fazendo, mas o presidente da AMMA preferiu ignorar os apelos, meus e de grande parte da população, ou seja, ele não segue o chefe. Por isso, recuso-me, agora, a escrever o nome dele.

Perdoem-me por divagar, e já retomo o tema. A festa desta manhã foi impecável: cerimônia simples e bonita, que emocionou não só os filhos, netos e bisnetos de Venerando de Freitas Borges presentes ao ato, mas também todos os que tiveram o privilégio de usufruir da presença e dos ensinamentos do velho contador, professor, jornalista, prefeito, vereador, maçom, escritor, ministro (conselheiro; ao tempo dele, o cargo era “ministro”) do Tribunal de Contas do Estado e um impecável contador de causos.

Ele visitava, a curtos intervalos, o Palácio das Campinas, sede do governo municipal. Gostava de conversar com os prefeitos, e estes aproveitavam para se aconselhar com o velho mestre. Dizia ter se afastado da política, mas que voltaria a ela caso os vereadores voltassem a ser gratuitos, ou seja, não remunerados (como era antes de o tal “regime militar” resolver pagar os edis). Eu era repórter da Assessoria de Imprensa da Prefeitura e quase sempre designado para cobrir suas visitas (quando não o era, tinha a iniciativa de fazê-lo, porque gostava).

Emocionei-me, é claro! Fiquei feliz, porque vi na festa muitos resgates num só momento... Acho que já os defini bem.

 

(*) E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Uma crônica de Leda Selma (propósito do Acordo Ortográfico)

TREMA DE RAIVA, SIM!

 

 

Lêda Selma (*)

 

 

            Trema de raiva, Lêda, o trema caiu! Aguenta, compreensão! Ah! que importante aquele “u”, feito lavadeiras emparelhadas, carregando na cabeça suas malas de roupa, com toda elegância, a despeito dos que não lhe davam trela ou, tampouco, lhe demonstravam simpatia! Pois é, até a tranquilidade, intranquila, perdeu sua referência, sequestrada, após anos e anos sob ameaça, num encher sem fim de linguiça: Portugal, Brasil e afins.  O Brasil tomou a dianteira, bateu o pé, e o Acordo acordou, saiu da gaveta e, desde 1º de janeiro último, começou atazanar o sossego de quase duzentos milhões de brasileiros, os grandes faladores e difusores da língua portuguesa.

 

            O Novo Acordo Ortográfico nasceu, cresceu, adolesceu e, depois de muita lereia, com pinta de paranoia, impôs-se aos lusófonos, sem cara de debiloides, mas com jeito de androides, depois de tanto diz-que-diz-que; tudo feito sem tramoia, juram. E nosso alfabeto, oficialmente, reintegrou as gringas k,y, w, usadas só em certas situações.

 

Soberana, mas nem estoica ou heroica, a unificação, permeada de exceções e de concessões, consumou-se, titubeante, tropeçando nos primeiros voos, com certo enjoo (quem sai ao vento, perde o acento!). Deem vivas os que veem como relevante essa panaceia ortográfica que, na verdade, unificou sem unificar! As pobres duplas “oo” e “ee”, se tomarem sol e chuva, paciência! Chapéu? Ih! nem pensar! De minha parte, não abençoo as novas regras, nem me magoo com elas; com ressalvas, perdoo Houaiss pela iniciativa.

 

Confesso: detestei a malfadada ideia! O resultado? Cefaleia! E tudo sem acento! Por quê? São paroxítonas com ditongos abertos e, por isso, perderam seu acompanhante, o acento agudo. Outra remodelada, isto é, desacentuada, pasmem, a feiura, que acabou ainda mais feia. Sina de todo “i” e “u” tônicos, precedidos pelos tais, os ditongos abertos. Já a viúva, benza Deus! manterá seu arremedo de falo, pois autônomo, o hiato salvou o “u” da viuvez. Também, as oxítonas terminadas em “éis”, “éu”, “ói”, “i” e “u”, mesmo pluralizadas, ficarão com o sinal gráfico em cima dos topetes. Arrebóis, lumaréus, tuiuiús, céu afora, ostentarão sua inteireza que, por sorte, não foi para o beleléu. Ah! as proparoxítonas? Resguardaram-lhe a integridade. Pródiga decisão!

 

A mesma sorte não teve a pera, que pela de medo dos pelos daquele bigode sobre a boca que a abocanha. Entenderam?! É, os conhecidos pares pára/para, pêlo/pelo, péla/pela, pólo/polo não têm mais diferencial, mas o “têm”, no plural, tem, como sempre. Duas duplas escaparam: pôde/pode e pôr/por. Já o circunflexo de fôrma é opcional, fica a gosto do usuário. Pôr lenha na fogueira, não quero; contudo, ninguém pôde me dizer se pode responder isto: qual a forma do bolo?

 

            Preparem-se para perder os cabelos, pois a questão do hífen continua problemática e tumultuando paciências. Houve até separação de casais que viviam em perfeita união. Infernizaram, ou melhor, hifenizaram tanto a vida deles que, agora, estão ligados por uma ponte: micro-ondas, anti-inflacionário... Os que fazem essa dobradinha que o digam, coitados! 

 

Seguindo a rotina de antes, os antagonistas além/aquém, pré/pós e, ainda, “ex”, “sem”, “recém”, “vice”, “pró” permanecem separados de seus companheiros pelo hífen. Portanto, se seu ex-amor partir para além-mar, pós-rompimento, fique sem-chão, pois algum recém-chegado deve estar cobiçando aquele coração pró-romance novo.

 

Bem, se tanto faz contato ou contacto, acadêmico ou académico e outras liberações, houve unificação? Incontáveis dúvidas, muitos pontos controversos fomentarão, por muito tempo, essa polêmica que tem ainda um longo caminho...

* * *

Leda Selma é poetisa, contista, cronista, professora de Língua Portuguesa e Literatura, membro da Academia Goiana de Letras e publica crônicas, aos sábados, no Diário da Manhã, de Goiânia. E-mail: poetaledaselma@hotmail.com

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Assassinato a esmo e sexo objetivo

Assassinato a esmo e sexo objetivo

Luiz de Aquino

 

Ando muito triste com Goiânia. Não com a cidade em si, mas com os rumos que toma a faixa que, em muito poucos anos, dirigirá nosso destino como comunidade. Refiro-me, é claro, a essa faixa que vai dos vinte aos trinta anos de idade, justamente a que contém os moços que se envolveram numa briga na Boate Santa Fé, na Avenida T-1, no Bueno, que resultou na morte do estudante Higor Bruno.

Sou dos maiores entusiastas desta cidade. Gosto de contar que ainda podemos viver com alegria e que as ocorrências de violência ainda não causaram, aqui, a paranóia que cerca algumas metrópoles brasileiras. Consciente, porém,  não me atrevo a repetir o que dizem algumas publicidades institucionais que qualificam a nossa capital como “ecologicamente correta”. Uma cidade ecologicamente correta não mata seus rios e córregos nem erradica belas árvores de flores, como se fez há poucas semanas na Avenida 85.

É triste constatarmos que as drogas proibidas e o álcool consentido estão causando a média de 1,9 assassinatos por dia na Grande Goiânia. Se computarem as mortes por conta da embriaguês ao volante, esse número passaria, certamente, da marca de duas mortes diárias.

No Jardim América, desde dezembro, está aberta uma grande loja, com fachada em apelos berrantes, que oferece artigos ligados às práticas sexuais, ou seja, um sexy-xópin. Nada demais, se a casa não estivesse bem em frente ao Colégio SESC Cidadania, ao lado de três outras lojas voltadas para a atividade estudantil (lanchonete, livraria e uniformes), bem como de um quiosque de lanches, desse que o costume goianiense chama de “pitidog” (coincidentemente, o comerciante de artigos pornôs é o mesmo do “pitidog”).

Voltando ao caso da boate, Gedeilson Rodrigues disparou vinte vezes, sem especificar seu alvo. Atingiu de raspão um dos rapazes e matou Higor. Gedeilson tem passagens anteriores pela polícia, inclusive por homicídio, mas, como ainda não foi sequer julgado pelos três crimes de que (ainda) é suspeito, está qualificado como “primário”e, assim, tem direito de responder em liberdade. Agora, tem mandado de prisão contra si. Espera-se que fique preso, porque ele dá evidências de que continuará matando.

Vislumbram-se aí distorções no processo de educação desse rapaz. Que cabeça de pai formaria um filho para ser um livre-atirador? Que tipo de pai se orgulharia de ter um filho indiciado por cometer crimes variados? Ora, estamos acumulando registros, aqui e nas demais unidades federativas, de maus policiais que matam, com intenção ou não. Mas será que um pai policial, bom ou mau policial, fica orgulhoso de ver seu filho cometer essas vilezas?

Atirar a esmo no decorrer de uma briga, arriscando-se a ferir e matar, caracteriza a intenção, ou seja, faz do autor, neste caso, um homicida doloso. Sabemos que não se criam filhos sem que eles tomem conhecimentos de sexo e violência, mas pais e educadores sabem como falar de violência e sexo sem incitar crianças e adolescente ao crime ou à concupiscência. Quem instala ou autoriza uma loja pornô diante de uma escola de crianças e adolescentes age com o mesmo grau de responsabilidade que o atirador sem pontaria. Ou com a mira voltada para um grupo previamente visado.

Pergunta-se, em todos os cantos da cidade e na mídia nacional, se as boates se organizam de modo a oferecer segurança aos seus clientes, e se as autoridades policiais também cuidam da prevenção com vistas a evitar fatos como a morte de Higor. Não tivemos tempo para entender a morte de Diogo Ranhel, atingido por uma bala disparada por um policial militar que (de novo) mirou no pneu... A gente se pergunta se as pistolas 380 da PM estão com seus canos desviados, mas eis que Gedeilson, portando provavelmente a arma da PM confiada ao seu pai, disparou a esmo e, também, acertou a nuca de Higor.

Estará a PM lenta ou tolerante? Ainda não temos notícias das investigações sobre a morte de Pedro Henrique (o PM mirou no pneu e acertou a nuca dele), e outro PM mira o pneu a atinge a nuca de Diogo. Agora, o filho do cabo da PM acerta a nuca do estudante...

E na Prefeitura de Goiânia? Quem liberou o alvará para a loja de objetos de luxúria em frente ao colégio? Que medidas as famílias, que pagam muito caro por educação, saúde e segurança, terão do poder público em seu favor, hem?