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quinta-feira, maio 14, 2009

Ao ex-aluno governador Alcides…

Ao ex-aluno governador Alcides…



Luiz de Aquino


Ah, eu vou falar outra vez do Liceu… Ou do Lyceu, obedecendo a reforma ortográfica. Preciso explicar porque o velho casarão da Rua 21, em Goiânia, está com ares de reforma. Mas, antes, tenho de falar com a alma. Esta alma, a minha.

Quando a gente vira gente-grande, com falas e poses de adultos formados, uma coisa fica inegável: seja qual for a roupa que nos caracterize – a farda dos militares, o jaleco dos profissionais da saúde, o terno dos executivos e os aventais de várias funções -, nossas almas têm roupagem própria.

Não acredito que as almas dos adultos se vistam das roupas de gente grande, não. Até porque acho muito feias as roupas dos adultos. As roupas de trabalho dos homens parece-me sempre um estojo quente, um sarcófago incômodo, um armário trancado cuja chave nunca está ao nosso alcance. Já as mulheres... Bem, as mulheres gostam tanto de roupas que inventaram até um complexo sistema de criação, indústria e comércio que movimenta bilhões de dólares a cada dia no mundo. Mas o que a gente sente mesmo, ao ver uma mulher muito bem vestida, é vontade de vê-la tirando a roupa.

A alma dos adultos se veste de criança. Uma alma adulta está sempre vestida de anjo, ou cultivando a saudade. E nada é melhor no cultivo das saudades do que ouvir uma música de época, sentir um cheiro antigo ou vestir as roupas que nos faziam felizes quando crianças. Por isso eu penso que as almas da gente preferem estar vestidas com os uniformes das nossas escolas.

Meu lado infantil fez-me mandar fazer dois uniformes antigos. Um, do Colégio Pedro II com gravata e emblema. Outro, do Liceu de Goiânia, com a tradicional águia no bolso da camisa branca. E é este meu uniforme da calça cáqui e águia no bolso que conversa hoje com o adolescente Alcides Rodrigues Filho, aluno do Liceu, feito eu.


Vesti calça cáqui e camisa

branca com a águia no peito...


O velho casarão está bonito, governador! Aquela combinação em rosa e branco ficou charmosa e o prédio me parece vestido para um baile de formatura, nos arranjos da versão 2009 da Casa Cor. Claro, uma formatura dos velhos Ginásio e Colegial, ao nosso modo de então. Vasculho livros e papéis antigos, acho História. Vasculho as paredes do casarão, encontro História. Percorro velhas crônicas, minhas e de outros, a História me salta aos olhos e à lembrança.

Mas um hiato se faz, meu caro Governador e ex-aluno Liceano! A História dobrou a esquina e não vê a sombra de anteontem. É preciso, como já propus em outras crônicas, reencontrar a História. E esta, Governador Alcides, é uma medida fácil e ágil. Uma mensagem sua à Assembléia Legislativa e os deputados lhe dirão sim, devolvendo ao Liceu seu nome de origem: Liceu de Goiás. O centenário colégio, hoje com duas unidades – Vila Boa e Goiânia – são um só ser.

Faça a lei, governador. E consolidaremos a História do tradicional e valoroso Liceu de Goiás.



Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras, e escreve aos domingos neste espaço. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com

6 comentários:

Neusinha Gedoz disse...

Gostei do puxão de orelhas no Governador. Alguém tem que ter juízo cultural neste país. Obrigado pela sua colaboração, Luiz de Aquino.

Abraço

Edmar Oliveira disse...

Muito bom, Aquino. Parabéns!
Abraço.
Edmar

Placidina Lemes de Siqueira disse...

Lindo! um apelo meio que saudosista... O joão foi aluno do Liceu justamente contemporâneo do José Mendonça, ambos aluno do Prof. Gilberto..

Placidina

Mara Narciso disse...

A saudade mata a gente, mas antes disso traz um gosto bom de passado. Eu sempre amei a escola e quase tudo dela faz-me bem lembrar. Assim entendo plenamente a sua crônica saudosa.

Anna Carolina Cruz disse...

É com grande honra que colocaremos seu depoimento durante a Casa Cor, esperamos um retorno tanto da população quanto dos nossos políticos!
Espero que tenhamos sucesso! Obrigada!!
Como sempre está de parabéns!
Beijos.

Madalena Barranco disse...

Olá querido Luiz,

Seu blog continua com aquele tempero e cheirinho de saudade que eu adoro. Me uno a sua voz para manter o nome de Liceu (é tão bonito) - não sei porque mudam tanto os nomes, quando há tanta coisa importante a fazer... Ah, a adaptação do uniforme escolar para gente grande ficou legal! Seria bom se a moda pegasse - rsrsrsr.

Beijos e tenha uma boa viagem.