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sexta-feira, agosto 28, 2009

Palestras e polícias

Palestras e polícias


Luiz de Aquino


A noite fechava seu ciclo, dando espaço à luz que, na roça, dizem ser “a barra do dia”. Deixei o Lucas no colégio e tomei o rumo leste pela Avenida Anhanguera. Cheguei à Escola Municipal Alice Coutinho, na Vila Morais, tinha de falar sobre a escrita, a poesia, o jeitão dengoso da prosa em crônica. Dou bom-dia à professora Mara Rúbia, tão-logo a vejo à porta, e quero saber quem foi Alice Coutinho. Uma educadora, conta-me a educadora. Fico feliz: gosto de ver escolas que têm nomes de professores e afins.

Recordo que, no município do Rio de Janeiro, é de lei: escolas recebem nomes de educadores. Com esse argumento, o prefeito César Maia vetou o nome do palhaço Carequinha. E já ouvi de ene professores a mesma pergunta que me incomoda: se ele não foi educador, quem o será?

Falei de versos e músicas, de crônicas e causos. Ouvi alunos a declamar versos e gostei mais de vê-los produzindo paródias e respostas a poemas meus. Claro, sou vaidoso, sim! Fiquei todo, todo ao ver dois painéis – um com poemas de autores goianos (eu no meio) e outro só com minhas crônicas e fotos minhas. Quem não gosta de ser acarinhado, hem? Saí feliz da Escola, afagado pela boa recepção, tanto de mestres quanto de alunos, e cumprimento todos eles abraçando Kamila Marquez, Rodrigo e Elinny.

No mesmo dia, viajei a Pirenópolis. O presidente da Câmara Municipal, Eli de Sá, convidou-me para falar aos vereadores. E sempre há muito o que falar quando a motivação é estudantes e poesia; ou Pirenópolis. Pirenópolis é poesia sempre. E música. E tela e tinta. Pirenópolis é vida!

Vivi um dia feliz. Muito feliz!

São assim os dias, sempre. Os meus dias. Escrever, fazer contas várias, incomodar-me no trânsito, sofrer com os noticiários prenhes de notícias ruins. Os dias são, para todos nós, sequências de pequeninos fatos de vários matizes. Triste é viver uma situação vexatória, algo que nos dá a sensação de violados. Ai, a gente reage... Contei, na crônica de quarta-feira última, de quando minha amiga contestou um policial que punha o carro sobre a calçada, obrigando pedestres e transitar na pista asfáltica. “Polícia pode”, disse o soldado, e ela retrucou: “Pode nada”. Esse feito foi da professora e advogada Sonia Marise Teixeira, e não de Maria do Rosário Paranhos. Esta viveu um outro momento, mas com um suposto policial à paisana que, de longe, mostrou uma carteira dizendo “Sou policial, está vendo?”. Rosário é, tal como Sônia, professora e advogada (elas não aceitam desaforos), e o desafiou: “Traga aqui essa carteira e verá o que faço com ela”. O homem não se aproximou, devia ser mesmo um impostor. Mas exerceu a truculência típica dos mal-educados (há mal-educados em todas as profissões, a gente sabe).

Na quinta-feira passada, 27 de agosto, meio-dia e meia, mais ou menos, uma gangue de jovens em motos causou um início de pânico à saída do Colégio SESC Cidadania, no Jardim América (a cerca de três quadras de uma delegacia da Polícia Civil). Alguém detonou uma bomba (caseira?), o bando ameaçava atropelar crianças e adolescentes, capacetes foram arremessados. Vários pais acionaram o telefone 190, mas a PM demorou a chegar. Não sei a razão da demora, mas os minutos de espera foram angustiantes.

Uma pena que a PM nunca responda ao que a imprensa conta. Ela pode?




Luiz de Aquino (poetaluizdeaquino@gmail.com) é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

4 comentários:

Mara Narciso disse...

Já não é novidade notícias de badernas e de vandalismo pelo Brasil afora. Essa que nos narra é apenas uma. Não há como não nos entristecermos com isso, pois muitos jovens estão envolvidos nessas confusões. É mais útil e barato construir escolas que depois construir ter de fazer prisões. E no meio do caminho tem sempre a polícia.

Fátima Paraguassú disse...

Ufa! Cansei de andar atrás de voce...Estive em uma escola, fui a Pirenópolis, voltei a Goiânia.

Eliana Mara Chiossi disse...

Palestras, políticas, tintas, arte, poesia...
Concordo com você: os dias vem assim, completos.
E é muito bom quando se pode, ao final, escrever uma boa crônica.

Abraços

Maria Helena Chein disse...

OLÁ, menino Luiz, li agora as suas últimas crônicas. Meu computador
sofreu uma avaria, mas agora está ótimo, como eu mesma. Aliás, sempre
(ou quase) me sinto bem, graças a Deus.
Fui lá atrás e vi Marietta com você e Bernardo Élis. Lindas saudades.
Li com você os comentários de seus leitores, inclusive o meu. Senti-me agraciada.
Apresentou-me Fátima Pérola Neggra, e aplaudi seu valor, talento e trabalho.
Estivemos na encantadora Pirenópolis. Belas fotos.
No meu imaginário, fui até Brasília, bati palmas para o excelente
senador Demóstenes Torres (ele pertence a um ramo da família de minha mãe)
e para vocês também.
Parabéns pelas palestras que faz nos colégios e em outros locais. Parabéns
por seus olhares em volta e denunciar tanta coisa para ser mudada.

Beijos.

Lena