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domingo, junho 20, 2010

Uma crônica de Leda(ê) Selma


A COPA DO SONHO, ISTO É, DO SOM



Lêda Selma (*)



Não fui convocada, desta vez, para fazer a “cobertura” dos jogos do Brasil. Após três copas (a última, aquela do vexame não só ronaldiano), minha carreira de “cronista esportiva” não deslanchou. Foi tão próspera como a Seleção Brasileira de 2006. “Poeta da crônica esportiva”, então, só em minha fantasia. Mesmo assim, resolvi abordar o assunto. E por que não?! Sou amante do futebol, torcedora passional, portanto... Tudo bem, só entendo, cá pra nós, a parte poética que envolve o apaixonante esporte. Não é o bastante?

A Copa do mundo é a África do Sul, também, a capital do mundo, pelo menos, até 11 de julho. Todos os olhares e falares direcionam-se para lá, o país da jabulani e da vuvuzela. Deus me livre!, que coisa mais estridente e enfadonha, nenhum ouvido merece! Realmente, um acinte auditivo! Cultura africana...?! Tudo bem, desde que não fira certos princípios de urbanidade. Não é básico que os donos da casa devem, sempre, pensar no bem-estar de seus hóspedes? E as outras expressões culturais representativas, por certo, mais agradáveis e apreciáveis? Como alguém pode sentir-se bem-vindo a um lugar onde o desconforto e a irritabilidade estão à flor do estresse? Perde-se até o prazer de assistir aos jogos nos belos e modernos estádios sul-africanos. E fica a pergunta: tapar os ouvidos para que o som não lhes agrida os tímpanos é uma manifestação de agrado?

E a tal jabulani? Parece, ganhou mais asas que suas antecessoras. Asas turbinadas que lhe dão a velocidade de um falcão-peregrino. Ah! também ganhou patas! Feito um guepardo, a gordota, em trajes estampados, corre desembestada, deixando atônitos seus súditos. E eles, para domá-la, fazem de tudo: beijam a amada, acarinham-lhe o corpo, aconchegam-na em seus braços até que, impacientes, chutam a pobre como se quisessem se livrar dela. Então, seus olhos e mãos estendem-se aos céus, em súplicas. E, como a vuvuzela já deve também ter atazanado os ouvidos divinos, coitado do Pai, com tanto incômodo!

O menor número de gols da história das copas está na de 2010, pelo menos, na primeira rodada, apontam as estatísticas. Que ridiqueza de gols, credo! Uma Copa desalmada, afinal, o gol é a alma do futebol! Será por causa da vuvuzela e da jabulani? Alguns culpam também a baixa grama dos bonitos estádios, e desconfiam que ela se mancomunou com a bola, tornando-a mais veloz a qualquer contato com seu verdume. É, mas Alemanha, Argentina e Uruguai não lhes deram trela.

Com tantos “vilões” em ação, o Brasil estreou. No primeiro tempo,  desentendida e confusa, perguntei: os jogadores estão brincando de estátua?! E meu grito não se fez de rogado: ei, Kaká, o passe é para seu companheiro, acorda, bonitinho! Bonitinho... Hum, heurequei: no futebol, beleza não é fundamental, então, cadê o Grafite, ó Zangado, isto é, Dunga?!

O segundo tempo, um pouco melhor, e, apesar dos muitos erros de passe, de lançamento, de chutes, goooooool! Só dois?! Santo Deus, é pouco! Não me importa se de trivela, de canela, de bico, de letra, de placa, quero gols! Antes que meu pedido chegasse a seu destino, a Coreia corou a desatenta defesa brasileira: gol! Socorro! Espere aí: estou reclamando de quê?! O Brasil não ganhou os três pontos, não é líder do seu grupo? Que venha a Costa do Marfim, de preferência, sem costas largas!

Uma Copa de surpresas, sem dúvida. A começar pela ausência da Zebra, reparei, em alto som. Ih! o anjinho caduco, aquele que só diz amém, amém, amém... ouviu-me (juro, foi sem querer!). Azar da Espanha, que recebeu a maldita visita listrada. Mais uma vez, com panca de favorita, a seleção espanhola não deu o seu “olé!”. Ao contrário, tomou uma limonada suíça daquelas! E a Zebra soltou-se de vez, já na segunda rodada: deu à França, dose cavalar de tequila. Quem mandou a espertinha arrombar a porta dos fundos e assaltar a Irlanda?! Alemanha, serva da Sérvia, quem diria?! Mas, vaiada mesmo, só a da Inglaterra, que saiu no lombo da desmancha-prazeres.

Até agora, não vi poesia nos pés ou na cabeça dos jogadores. Ou melhor, Robinho fez uns versos. Maicon e Elano, os gols. E eu, esta crônica que, prevejo, incitará os entendidos a resmungarem: ela não entende nada de futebol! E eu, ó, nem tchum pra eles!



Lêda Selma (*) é escritora, membro da Academia Goiana de Letras.

5 comentários:

Ridamar Batista disse...

Muito boa a crônica da Lêda Selma.
Ela tem razão.
Um abraço.

Guga Valente disse...

Ô Luiz, não sei se já viu texto meu, mas dá uma conferia no meu blog minha visão vuvuzelística dessa copa: http://tessituraemaranhada.blogspot.com
Li a da Lêda e dei risada, ela escreve como ela fala mesmo! eheheh
Boas piadas naquele dia.
Abraços,

Poeta Lêda Selma disse...

Obrigada aos leitores do Luiz e, por tabela, também meus. Que bom gostaram dos meus "comentários futebolísticos"! Que Armando Nogueira não nos ouça, lá de cima. Pois é, o Aquino deu-me o passe e não me fiz de suplicada: mandei o texto para o Blog. Bom jogo para todos nós. Brasilsilsilsil...!!! Obrigada, Luiz e C&a. Abraço Verdão-amarelo. Lêda

Mário Alberto Campos disse...

Mas Lêda, vc entende muito mais de futebol que alguns jornalistas que se dizem comentaristas da estratégia da redonda. Sabe por que? Vc entende do futebol-alma, do futebol-poesia, do futebol-arte e ainda, das artes que ele nos prega. E ainda por cima, cheia de graça e de graças. Parabéns pela leveza. Abraços do Mário Campos (Rest. Casa Portuguesa, lembra-se? E muito mais por ter lido esta crônica hoje. Afinal, é um dia prá português nenhum botar defeito. Quem diria? Um acontecimento inequecível, glorioso, alegre e, possívelmente, infazível de novo - cruz !!!! infazível?!) Portugal 7 x 0.

Poeta Lêda Selma disse...

Oi, Mário Alberto, alegra-me saber que gostou do meu texto, que bom! Seus comentários, esteja certo, são muito incentivadores e infladores de ego, obrigada! Olhe, escrevo aos sábados no Diário da Manhã (www.dm.com.br, caderno do DMRevista, e dar-me-ia muito prazer se você lesse minhas crônicas. Abraço. Lêda