Páginas

segunda-feira, dezembro 27, 2010

Marconi e o busto de José J. Veiga

Marconi e o busto de José J. Veiga


O tamanho da minha esperança... Ah! Se é possível mensurar a esperança, gostarei de conhecer a escala em que medi-la. Cometo, assim, o mesmo comportamento de alguns colegas jornalistas: atribuo à palavra “grande” um conceito genérico, tal como os da crônica esportiva fazem com “forte”. Para eles, o que é dominante, ou intenso, ou largo, ou tenaz, ou comprido, ou, por fim, teimoso, é apenas forte. E eu, como grande parte dos mortais, aplico a “grande” um conceito genérico, também. E grande, então, fica a minha esperança. Não apenas para o Ano Novo, para o decorrer de 2011 e em todos os segmentos (e seguimentos, já que falamos em tempo) da vida.

O primeiro dia de 2011 marca, em todo o país, a renovação nos governos. Mesmo os reeleitos apresentam, em seu mandato sequencial, novidades que chegam ao povo como indícios de novidades. E nas novidades queremos sempre o melhor.


Em Goiás, almejamos um novo ritmo de vida. Não apenas na vida pública, mas no quotidiano dos cidadãos. Funcionários públicos e estudantes, empregados e liberais, gente do comércio e prestadores de serviços, os pedestres e condutores de veículos, crianças e adultos, velhos e jovens, queremos todos um novo ritmo de vida. Nos últimos anos, ficamos à espera de que algo de novo começasse, e tudo era adiado para a semana que vem, o mês que vem, o ano que vem... E foram-se os dias, as semanas e o encanto das noites, tudo espargido para o ar, a cobrir a luz e o céu, e fechar os horizontes e a adiar a esperança.

Daí esta esperança que se renova na última semana do ano. E como a meta é um caleidoscópio, a esperança ganha cores e nuanças.

É que a presidente (prefiro à moda tradicional, nada de feminismo de oportunidade) Dilma Rousseff declarou que governará com os partidos, mas sem preconceito nem barreiras. Está certa: ela foi eleita Presidente do Brasil, e não do PT e do PMDB, de São Paulo e do Rio Grande do Sul; somos 27 Unidades Federativas a esperar grandes iniciativas e andamentos.

Presidente Dilma


Já que falei em andamento, espero que Dilma Rousseff faça acontecer a interminável construção do novo aeroporto de Goiânia. E também da Ferrovia Norte-Sul, que se arrasta como uma centopéia, mas na velocidade das lesmas e caramujos. E que Goiás não seja mais tão intencionalmente esquecido pelo Poder Federal.


Canteiro de obras do centro Esportivo 


E como citei obras paradas ou lentas, quero ver o complexo esportivo da Avenida Paranaíba concluído em breve! E o Centro Cultural Oscar Niemeyer sediando eventos de música, teatro, literatura e artes plásticas; que os pavimentos daquele paralelepípedo que vem a ser o prédio da Biblioteca se ocupe de vez. E que a gente possa retomar o orgulho goiano, depois destes quatro anos...

Por falar nestes quatro anos, bem que tentei, com sugestões e propostas, realizar algo, tentei fazer com que, ao menos da minha parte, algo se mexesse no meio cultural e escolar; nos pontos e locais onde fui ouvido, consegui fazer meu compromisso de beijaflor que leva no bico a gota que deveria somar-se a tantas outras e formar o jato a fazer diferença; infelizmente, os ecos foram poucos, inclusive na mais altas esferas do Estado, cerceado que fui por pessoas a quem ofereci coração de amigo.

Mas é a última semana do ano. É o prenúncio de 2011, de novas pessoas em antigos cargos, em estruturas metamorfoseadas novamente – mas, agora, para melhor, como me diz esta esperança que rege este escrito.

Centro Cultural Oscar Niemeyer

Quando se inaugurava o Centro Oscar Niemeyer, Nasr Chaul bafejou alegria em mim, contando-me que um andar da grande biblioteca levaria o nome de José J. Veiga.


Espaço José J. Veiga, no SESC
Ora: há muito tempo eu me dedicava, fielmente, ao ofício de guardião do acervo e da memória de José J. Veiga. Esperei de governos mas houve obstáculos, apesar do empenho do governador Marconi Perillo (minhas gavetas acumulam algumas tristezas e decepções para com os espertos de ocasião). Confiei no segmento privado e obtive atenções especiais – com ênfase para José Evaristo, presidente da Fecomércio, e Giuglio S. Cysneiros, diretor Regional do SESC. Em poucos meses, uma equipe ligada a um departamento cultural da entidade em Goiás, envolvendo diretamente a Biblioteca Central da Rua 19, venceu os oito anos de angústia que me tirava o sono, e vi acontecer o Espaço José J. Veiga (por um tempo, pensei que seria envolvido como uma espécie de curador daquele acervo; mas razões administrativas preferiram escolher um professor da Universidade Federal para zelar pelo conjunto de objetos e livros da vida do grande contista).



José J. Veiga, por Neusa
Morais

José J. Veiga era vivo quando consegui que a Assembleia Legislativa aprovasse um projeto de lei do deputado Professor Luciano que denominou Rodovia José J. Veiga a GO-225, que une Pirenópolis e Corumbá de Goiás, em 1998. No ano seguinte, com a Lei em mãos, procurei o governador Marconi Perillo e fui atendido: com o apoio de Nasr Chaul, presidente da Agepel, encomendei a Neusa Morais a feitura do busto de José J. Veiga, em dois exemplares – um deles está na Biblioteca do SESC, perpetuando a memória do escritor; a outra peça continua em meu poder e será entronizada no Centro Cultural Oscar Niemeyer, tal como ficou antes acertado antes que a política cultural do Estado se revestisse de atitudes de desfazimento e desmerecimento.

Daí, agora, este meu conceito sobre a dimensão da esperança. Espero que as políticas culturais em Goiás voltem a ser tratadas com a prioridade justa. Cultura é uma palavra gasta e se falada (ou escrita) sem a dimensão e o conceito adequado, fica piegas. Com Marconi e Chaul, os eventos e procedimentos culturais aconteciam com o respeito aos cultuadores da arte e do talento, mas há quem pense que fazer cultura é somente manipular verbas.

Na foto, o busto de Veiga. Nada mais justo que reverenciarmos nossos valores humanos, nossos ídolos de várias atividades, nos espaços apropriados e com a dignidade que merecem.

Marconi Perillo, amigo das artes

Mas era preciso que Marconi voltasse...


* * *






Luiz de Aquino 
Da Academia Goiana de Letras 
E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com

sábado, dezembro 25, 2010

Natal de Letras

Natal de letras


Então é Natal: muitas luzes nas noites, muitas cores no dia, muita gente apressada e nunca vi tantas crianças grudadas às mãos de mães e avós, puxadas por pais e paparicadas por avôs (neste caso, há que se forçar um plural masculino). Comércio otimista, espera um superávit em torno de 20% sobre as vendas do ano passado “no mesmo período”, dizem... É Natal, uai!







Livros! Livros muitos, demais; nenhuma companhia é melhor, quando se está triste,  que um livro. Sem esforço, escolho alguns na estante: “Guardados”, de Sônia Marise: “O certo é que, quando não resolvo essas coisas do sentir, o poema pode crescer dentro de mim até não mais caber no peito”. E escreve “Papoulas Vermelhas”: 

“Sangue... vinho / verão / fogo... emoção ardente /coração / papulas vermelhas / exuberantes / sugerem amor / sentimento / cor / sugerem paixão”.


Lá de Santa Catarina, escreveu-me Pedro Du Bois, excelente poeta. Enviou-me, há poucas semanas, dois livros singelos e belos, em forma e conteúdo: “O dia (a)final” e “A necessária partida (Vol. II). Eis uma estrofe (do poema Aprendiz, em “A necessária partida”):



“Rua sem companhia: nula em confidências. / Espírito condoído. Rugas envolvem / o rosto e indicam o paradeiro. Estende / o braço e a mão recebe o troco”.


Passeio outros livros, toco-os como se acolhesse a mão do autor em afetuoso bom-dia, e ao lê-lo sinto o abraço que une peitos e emoções, amor que transcende a carne porque sela sentimentos nobres de confiança. Poetas, quando o são de fato, têm esse amor sem sexo, uma cumplicidade em versos, sem inveja nem competição. Continuo a olhar estantes: Itaney F. Campos, afetuoso e lírico, presenteou-me com “Inventário do Abstrato”. Vate e jurista, filho de Uruaçu (Goiás), traz da vertente do Tocantins e da ambientação bucólica a estria dos versos, como em “Esperança”:

“À espera de nossa fome/ palpita um fruto maduro/ no ventre de cada manhã. // À espera do nosso riso / dorme uma canção no vento / que se abria sob a hera. // À espera do nosso sonos / um leito de pôr do sol / nos aguarda esparso no ar”.


Apreciei com imensa ternura o mimo que ganhei da querida Cida Almeida, que eu tinha no limite de competente repórter, profissional convencida de que é meta realizar sempre o melhor, e esse melhor é colimado a cada dia, porque o ofício da notícia renova-se sempre antes do pôr do sol. Em “Flor da Pedra”, ela traz poemas cuidadosamente compostos. Livro com requintes de feitura e acabamento, ilustrado com o luxuoso auxílio do poeta Itamar Pires Ribeiro. Cada parte recebe um título digno de capa: I – De barro, pedra e ventre; II Deus aprisionado; III – Palavras secas; IV - Ciclos do coração; V – O tesouro.  Também os poemas recebem nomes primorosos, denunciando o zelo da artesã no arremate das peças; ou do acabamento em verniz finíssimo sobre a pedra esculpida, delicadamente polida pelo exímio artista ao cinzel. Neste “Bordado a pavio curto”, começa com:

“Palavra por palavra / Remendei o seu discurso / Alinhavado de silêncios / Teci com os retalhos / As pontas / As sobras / Das suas palavras ausentes / Uma paciente coberta / Dessas de fazer inveja / À espera de Penélope... “.



Por fim, um romance: “Alétheia”, de Clara Dawn. Saboreio, suas crônicas semanais em que o peso poético faz a diferença.  Dela conheci poucos poemas, o bastante para sentir que a autora transcenderá os tempos. Ao ofertar-me o livro, ornamentou o gesto com uma frase ao modo de quem quer crescer mais, muito mais: “Acho que este livro está ainda muito imaturo; tenho muito o que aprender”. Com isso, ela demonstra a vontade enorme de progredir. É o êmulo de todo artista: o melhor a cada obra... Ou a cada dia, como sabem os jornalistas e escritores e músicos e artistas plásticos... E os que sabem que Deus não nos faz completos.


* * *




Luiz de Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeauqino@gmail.com.

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Carta ao jornal: A Prefeitura ignora as chuvas

A AMMA não nos ama?


As mudanças climáticas, previstas há algumas décadas e anunciadas mais recentemente pelos veículos de comunicação de massa, assustam as pessoas e trazem  preocupações seriíssimas. A rede de esgoto pluvial, quando existente, está obsoleta ou entupida na maioria das cidades (ou em sua quase totalidade).  Assim, a enxurrada corre na superfície impermeabilizada por asfalto e cimento, enche córregos e rios, transforma as ruas em rios de corredeiras, arrasta pessoas e móveis e até automóveis, causando prejuízos, destruição e mortes.

Uma das cenas mais comuns, associadas às chuvas e às enchentes, é a queda de árvores. Atualmente, as administrações municipais têm secretarias ou agências voltadas para a preservação do meio-ambiente e do acervo de árvores e jardins, mas sentimos que falta zelo. E como falta!

Na semana passada, os jornais e as tevês mostraram moradores queixosos, prejudicados com a queda de árvores sobre suas casas e veículos. A queixa veio no sentido de que a Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA) , dirigida pelo competente Clarismino Júnior, pecou muito em não atender a pedidos para remoção e substituição de árvores sob suspeitas; e todas as árvores caídas foram alvo de pedidos nesse sentido, ao que os fiscais da AMMA teriam respondido, em voz geral, que elas “vão viver duzentos anos”.

Aqui mesmo, ao lado de meu prédio, a casa vizinha tem na calçada uma monguba de algumas décadas. Já ouvi de vários especialistas que essas árvores não são apropriadas para urbanismo: têm folhas grandes, que colaboram para o entupimento da rede de captação da água das chuvas e raízes impróprias, capazes de destruir esgotos e comprometer estruturas de muros e casas. Mas as autoridades da AMMA, várias vezes procurada, respondem que ela está saudável e “vai viver mais duzentos anos”.

Gostaria de saber: a AMMA emite essas respostas em documentos assinados ou em filmes incontestáveis, de modo a assegurar direitos aos cidadãos? Quem paga o prejuízo? E as vidas prejudicadas ou ceifadas? E o mal-estar dos reclamantes que sentem o prejuízo que os leva a procurar o órgão público e receber respostas humilhantes assim?

Lá mesmo, na AMMA, ouvi que existe uma intenção de substituir as mongubas inconvenientes por árvores mais adequadas (que tal o ipê? Existem milhares e milhares de mudas nos viveiros municipais). Aproveitem para recomendar e, sempre que possível, proceder à substituição também das amendoeiras (que conhecemos como sete-copas): são árvores bonitas, mas não atraem pássaros e sua folhas comprometem também os esgotos.
Esperamos, todos nós, uma ação decisiva dos agentes da AMMA. Ela, que construiu cerca de vinte belos parques na cidade, revitalizou os existentes e se mostra como um órgão eficaz, ao não solucionar coisas simples como essas caminha para um desagradável descrédito. Tempo houve (e há) para que os problemas sejam solucionados. Ou querem que acreditemos que a eficiência só era oferecida ao prefeito Iris Rezende Machado? Paulo Garcia não merece respeito?  O povo, pelo menos, merece... Ou a AMMA não nos ama.




Luiz de Aquino
Escritor e jornalista.


segunda-feira, dezembro 20, 2010


Tudo muda... Muda mesmo?

Presidente DilmaGovernador Marconi



Como será 2011, hem? A mudança do referencial nos calendários não significa transformação drástica, como do dia para a noite e vice-versa, mas a continuidade da vida com a passagem das festas para um marasmo que só se acaba na quinta-feira, após o carnaval. E 2011 começa sob novos signos – no Brasil, o de Dilma Rousseff; em Goiás, de Marconi Perillo. Sob tais signos, nestes dias que antecedem a posse, ocorre a corrida por cargos de primeiro e segundo escalões.

Tem sido assim nos novembros e dezembros dos anos pares, alternando-se as pretensões entre os poderes municipais e, na outra camada, os estaduais e o federal. Há aqueles que não aceitam cargos públicos porque seus afazeres privados são mais gratificantes, financeira e emocionalmente; e os que são capazes de abrir mão de tudo para ostentar a “liturgia” do cargo remunerado pelo Erário.


Ah, e por falar em remuneração, vivemos, na semana, alguns impactos interessantes... Um deles foi a escolha, pela revista Time, do homem de referência mundial, isto é, a “personalidade do ano”; o escolhido foi o “criador” do site de relacionamento Facebook. Mas a mesma matéria televisiva destacou, com base no filme “A rede social”, que “o cara” do ano deu um golpe em seu sócio, o brasileiro Eduardo Saverin. Mark Zuckerberg, de 26 anos, é dono de uma fortuna inimaginável: sua empresa vale mais de 40 bilhões de dólares.

No âmbito doméstico brasileiro, a cara de pau dos parlamentares ao aprovarem seus salários, sob o cínico argumento de que um reajuste na média de 134% para um “pequeno grupo” impacta pouco, enquanto que aumentar o salário mínimo equivale a uma sangria sem tamanho para quem paga a ralé.

Aposentados? Aumento anual de 5,9%, somado ao desinteresse para com o destino dos velhinhos. Fico imaginando se a imprensa deve ou não fazer um levantamento: antes da “redentora” – apelido para a ditadura que se implantou sob o pretexto de combater o comunismo –, os parlamentares brasileiros ganhavam pouco e os vereadores sequer tinha subsídios (apelido dos salários deles). E antes de Brasília, parlamentares não tinham tanta verba para “trabalhar. Mas os militares do golpe, para facilitar as coisas, premiaram regiamente os do Legislativo figurativo, e temos hoje o mais caro parlamento do mundo).

Marquezelli ri; à toa? Não...


Ah! No parágrafo anterior, entendam por parlamento o conjunto de todas as casas – Senado, Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas, Câmara Legislativa (do Distrito Federal) e as Câmaras Municipais (mais de 5.500 em todo o país); o aumento votado em Brasília tem “efeito cascata”. Ou seja, o aumento será aplicado nos Estados e no Distrito Federal e em todos os municípios, num total superior a – pasmem! – dois bilhões de reais.  Um gasto pequeno, portanto, segundo Nelson Marquezelli, autor da proposta. O aumento foi aprovado no dia 15 de dezembro; no dia anterior, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo rejeitou as contas de campanha dele (Marquezelli),que foi reeleito.

Enquanto isso, chegava a notícias de que a OEA condenou o Brasil por deixar impunes os responsáveis pelo desaparecimento de 62 pessoas na Guerrilha do Araguaia. O nosso Supremo Tribunal descarta revisar a estranha Lei da Anistia; e o ministro da Defesa, Nelson Jobim declara-se contrário à punição para torturadores (houve torturadores civis e militares, gente). Ou seja, ele protege quem torturou, estuprou e matou.


Jobim, o do PMDB
A presidente que se empossa daqui a poucos dias já o confirmou no mesmo cargo. Ele não defende o Brasil e nossa História, mas a impunidade para autores de crimes que, no conceito universal, são inafiançáveis e imprescritíveis. Viola, assim, convenções internacionais e, pior ainda, a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Dilma, que foi presa durante três anos, no transcurso da adolescência para a juventude, foi barbaramente torturada (palavras dela mesma). Ao preservar Jobim no cargo, parece-me que sofre algo parecido com a Síndrome de Estocolmo.



* * *


Luiz de Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Natal para Maria



Luiz de Aquino







* * *


Natal para Maria



Há nuvens de chuva e o céu
saúda-nos de azul e lágrimas
para renovar a vida.


As ruas vestidas de brilho ,
os olhos com brilho de festa
porque é dezembro.


Há dinheiro e compromissos,
pessoas tensas portam presentes
ainda que poucos os mereçam.


Nas ruas e lojas, nem retratos de Jesus!
Maria, mãe e santa, por certo sofre
e sua dor é nossa!


Colho uma rosa branca. As mães, sim,
devem ser mais felizes: sem elas, 
não há esperanças.



* * *













quarta-feira, dezembro 15, 2010

Amor-próprio no lixo



Amor-próprio no lixo


Lamentável aquela indisfarçável indiferença que a Rede Globo de Televisão dedicou ao jogo final da Copa Sul-americana. O representante brasileiro foi o Goiás Esporte Clube, que algumas figuras nacionais da chamada crônica esportiva consideram “um bom time”, mas que uns outros entendem ser uma equipe “em transição”. O que acho racional.

A Globo, no âmbito nacional, de fato ofereceu o seu nobre desdém aos aficionados por futebol de todos os rincões brasileiros. E o torcedor correu para a Band, porque era preciso, inadiável,  indispensável acompanhar aquele jogo. Li e ouvi muitos lamentos, alguns bastante indignados, por toda a cidade. Afinal, Goiânia não se forma apenas de tímidos goianos vindos do interior, mas de uma leva originária de qualquer ponto do País. Somos o somatório Brasil num processo de mixagem, reconstruindo sotaques e culturas.

O triste fica por conta do preconceito geográfico.

É mais ou menos assim: quem mora em bairro nobre, rejeita os da periferia e os do interior; quem veio do Sul torce nariz para os nordestinos; quem passou uns meses no exterior, tenta sobrepor-se ao conterrâneo nativo – e assim por diante. Em futebol, a hegemonia era do Rio e de São Paulo (consta que, na copa de 1950, um jornalista paulistano escreveu que cariocas acreditavam que o Brasil começava em Copacabana e acabava em Jacarepaguá; mais tarde, os cariocas descobriram que o Brasil ia até a Serra dos Órgãos, isto é nas proximidades de Petrópolis e Teresópolis). Hoje, tanto cariocas como paulistanos acreditam que o Brasil é Rio e São Paulo (as cidades, não os Estados) e fazem concessão apenas suportável a Belo Horizonte e Porto Alegre. E basta!

As grandes redes de tevê, e não só a Globo, em seus noticiários, menosprezam as regiões e comunidades distantes de suas sedes. Mas quando o tema é arte e futebol, sabe-se perfeitamente que  o resto do Brasil fica na periferia. Isso é uma tendência mundial? Acredito que não. Nos Estados Unidos, há polos de várias naturezas em pontos esparsos. Claro que lá também deve acontecer esse preconceito geográfico, porém as possibilidades não são concentradas como aqui.

O efeito disso é a tola admiração a tudo o que vem de fora. Os brasileiros, em geral, gostam de estrangeiros; os brasileiros, nas maiores cidades, são tratados como “menores” quando advêm dos Estados periféricos. Mas os que saem de grandes centros para cidades menores, são recebidos a pão-de-ló (ou pamonha à moda, no nosso caso).

Hospitalidade saudável, louvável até; mas tem efeitos colaterais. Os artistas locais, salvo as duplas sertanejas, são solenemente rejeitados: agora mesmo, o Circuito de Natal leva ótima música a vários pontos da cidade, mas a mídia local não divulga o projeto e o resultado é vermos artistas de primeiríssima linha tocando para vinte ou trinta pessoas, porque quase ninguém sabe... Ou seja, a mídia goianiense também rejeita coisas locais, e isso é incontestável.

A grande imprensa, esta semana, mostrou que o site espião Wikleaks detectou telegramas do embaixador americano para seus chefes em Washington dando conta do atentado (felizmente sem maiores consequências) ao xópin, em abril do ano passado; para o embaixador, aquilo era uma evidência da falta de segurança no espaço aéreo do Brasil, especialmente em Goiás, ou seja, em torno da Capital da República.

Gente: esse embaixador é tão mal-informado que não sabia que até mesmo o espaço aéreo da “capital do mundo”,  Nova Iorque (por favor, revisão, deixe tal como está: I-or-que), destruindo as Torres Gêmeas e outros prédios próximos, foi uma demonstração de que o espaço aéreo de lá também é vulnerável? Quantos acidentes e incidentes não ocorreram nas terras de tio-sam, antes e depois de setembro de 2001?

Vejamos o que se passa, por exemplo, com escritores – e vou dar alguns nomes: escritor goiano, para ser remunerado em palestras e eventos outros, começou com um cachê de 200 reais no mesmo evento em que a organização remunerou Alexandre Garcia (que nada tem a ver com escritores) com 10 mil reais! Os escritores de fato de renome nacional, naquele evento, ganharam cachês de 5 mil reais. Quem explica?

Agora mesmo, cidades do interior de Goiás remuneram autores de livros de autoajuda com 20 mil reais; escritores de ficção e poesia, continuam na faixa dos 5 mil reais; os locais tiveram seu cachê “elevado” para 500 reais e levam até seis meses para receber.

Famosa e talentosíssima poetisa mineira, Adélia Prado (adoro seus poemas!) resistiu até a minha total desistência, lá pelo início do Século, a conceder-me entrevista para o DM. Confesso, desisti pela teimosia dela! Não respondeu a nenhuma das cartas que lhe enviei por correio, não retornou recados em sua secretária eletrônica (ainda existia) nem deu bolas a pessoas de quem me vali para fazer chegar a ela o meu pedido de entrevista, acompanhado de livros de escritores goianos. Desisti quando um jovem poeta português enviou-me entrevista que ele, por correio, conseguiu fazer com a poetisa; informou-me que apenas enviou-lhe as perguntas. Ela, de pronto, atendeu.

Ficou claro que Dona Adélia Prado virava as costas para Goiás. Sobre isso foi interpelada por um estudante de letras de Belo Horizonte (obviamente, meu amigo); ela, com meiguice e simplicidade, disse que não era assim, que atendia a todos. Mas o fato é que a poetisa de Divinópolis só veio a Goiás, até hoje, remunerada. Numa das duas bienais acontecidas em seis anos (aqui as bienais não têm periodicidade), chegou a pedir desculpas ao poeta Gabriel Nascente por jamais lhe ter respondido a cartas e envios de livros.

Escritores nacionais só vêm a Goiás quando convidados e bem remunerados. Menos o saudoso Antônio Olinto, que, a meu convite, veio apenas pelas passagens e hospedagem, e aqui ficou uma semana, concedendo entrevistas e proferindo palestras, presidindo a inauguração do Espaço José J. Veiga no SESC da Rua 19. A Secretaria Municipal de Cultura, na pessoa do escritor Kleber Adorno, assegurou os custos de viagem e hospedagem.

Tenho ouvido de estudantes e professores, bem como de escritores locais, queixas quanto ao conteúdo e motivação nas palestras de escritores famosos que vêm de fora; cobram caro e não correspondem. Ainda assim, escolas e instituições outras continuam bancando essa gente, em detrimento dos valores locais.

Nos últimos meses, está na moda, entre os da ABL, virem a Goiás para proferir palestras remuneradas, passear na Pousada do Rio Quente , tratado a iguarias ricas – por “nossa conta”. Devemos mesmo bem-tratar nossos hóspedes. Mas inseri-los no nosso meio só porque são de fora... Aí é complicado! Refiro-me ao esforço do vereador Gari Nego Jobs, que propõe titulo de Cidadão Goianiense para um escritor gaúcho, vivente no Rio de Janeiro, que das vezes em que aqui esteve foi sob remuneração e carinhos materiais mil. Meu amigo Jobs, reveja isso aí! Antes, prefira homenagear Luiz Chaffin, que tanto bem faz à música local. E há outros, muitos outros, que merecem tal honraria. Esse título, a gente sabe, partiu do interesse de algum amiguinho especial do possível homenageado e os objetivos são notórios!



* * *






Luiz de Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com.






A imagem abaixo é um recorte da pág. 20 do Diário da Manhã de hoje, 16/12/2010, em que um leitor manifesta-se não apenas contrário ao que defendo neste artigo, mas com agressões às quais não responderei. L.deA.

domingo, dezembro 12, 2010

Professor: profissão de risco



Il.: Elson

 Professor: profissão de risco


A violência nas escolas continua sendo ignorada pelas autoridades. Ao que parece, as altas cúpulas da Educação e da Segurança não conseguem despertar, nos parlamentares, a sensibilidade capaz de buscar medidas que alcancem a paz nas escolas para que, no futuro, num “dia feliz”, possamos dar início à tão sonhada Era da Educação no Brasil.

Somente no decorrer desta última semana, há sete dias da minha crônica mais recente (“Fé na vida e na Pessoa”), vi na tevê reportagem que nos mostra o quanto alguns países asiáticos avançaram, em poucas décadas, em tecnologia e qualidade de vida. E vi também que o Brasil, apesar de alguns festejarem “um avanço” na avaliação do ensino público, continua num humilhante 53º lugar, num grupo de 64 países avaliados. E vi também o programa Profissão Repórter, da TV Globo, a mostrar o clima de terror que se impõe  contra professores e funcionários das escolas.

Os algozes são adolescentes, na maioria. Mas há crianças agressivas, também, além de jovens adultos, como o que, poucas horas antes de o programa de Caco Barcelos ir ao ar, matou o professor que “lhe deu” nota baixa (nota alta é mérito do aluno; nota baixa, perseguição do professor). Ao ser preso, na manhã seguinte, o assassino disse que “se sentia perseguido” pelo professor.

Há alunos, em escolas públicas e privadas, que agem em bloco para irritar um professor; quando o mestre cai na trama, é filmado por celulares e acontece a reclamação no Ministério Público ou em órgãos superiores da Educação. Uma garotinha de oito anos sugeriu, numa escola municipal de Goiânia, que a professora “limpasse o quadro com o c*”. Sem perder a postura, a professora chamou o pai da criança, que atendeu de pronto (coisa rara, é bom que eu diga); ao ouvir o caso, o pai pôs-se a rir.

Exigir uniformes e respeito aos horários faz de diretores, professores e funcionários inimigos que se tornam ameaçados e agredidos por crianças que se mostram hábeis na verbalização de impropérios e adolescentes que atacam de várias formas: um tapa ou soco, o arremesso de uma carteira, e até o uso de facas, revólveres, estiletes e lâminas de barbear. Traficantes que atuam em torno das escolas, disfarçados de vendedores de guloseimas ou lavadores de automóveis, invadem pátios de escolas para obter água e usam os muros para inscrever avisos, como preço do serviço etc.). E aliciam estudantes para distribuir drogas.

Alguns importantes órgãos de gestão e fiscalização do ensino acolhem, sem a investigação racional, acusações contra dirigentes bem intencionados. Qualquer estudante com objetivos de mera contestação, ou pais que preferem o conflito à conversa e almejam resultados políticos (desde a eleição de diretores e secretários até a corrida por uma cadeira na Câmara de Vereadores) manipulam a Educação para atingir seus objetivos. E os dirigentes, com os salários que todos sabem ridículos, assoberbados com os afazeres, ainda têm de perder tempo para defender-se de acusações levianas formuladas por maus alunos ou, pior ainda, por supostos líderes estudantis que, com o tempo dedicado “à causa”, já seriam doutores acadêmicos, se os partidos que detêm o controle de entidades estudantis (?) lhes permitissem de fato estudar.

É fato que há professores ruins, mas são tantos ou menos que o índice de policiais corruptos; a diferença é que não se tem medida coercitiva contra o mau professor. É mau professor o que não tem conteúdo nem competência didática e (ou) pedagógica; é mau professor o que se vale da posição para assediar alunos (atitude anti-ética que se mistura, muitas vezes, com o crime de pedofilia); é mau professor quem faz da cátedra um púlpito eleitoral de qualquer natureza, sobretudo de política partidária.

A escola pública brasileira assemelha-se, hoje, a um “Complexo do Alemão” espalhado. Já passa da hora de uma ação eficaz para sanear o sistema. E, ao mesmo tempo, é indispensável que se cuide, já, de reavaliar a remuneração e as condições de trabalho dos profissionais da Educação. Os professores devem ter a chance de viver com um só emprego. Merecem, para tanto, ser incluídos na PEC 300 – essa que propõe a remuneração digna para policiais e bombeiros militares de todo o país: quatro mil reais para professor; para mestre, sete mil reais.

Enfim, meu recado ao pai que riu ao saber que a filhinha de oito anos mandou a professora “limpar o quadro com o c*”:

– Cuidado, moço! Daqui a uns quinze anos, sua filha poderá matar uma professora, em lugar de ofender com palavras.


* * *


Luiz de Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com.