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segunda-feira, dezembro 20, 2010


Tudo muda... Muda mesmo?

Presidente DilmaGovernador Marconi



Como será 2011, hem? A mudança do referencial nos calendários não significa transformação drástica, como do dia para a noite e vice-versa, mas a continuidade da vida com a passagem das festas para um marasmo que só se acaba na quinta-feira, após o carnaval. E 2011 começa sob novos signos – no Brasil, o de Dilma Rousseff; em Goiás, de Marconi Perillo. Sob tais signos, nestes dias que antecedem a posse, ocorre a corrida por cargos de primeiro e segundo escalões.

Tem sido assim nos novembros e dezembros dos anos pares, alternando-se as pretensões entre os poderes municipais e, na outra camada, os estaduais e o federal. Há aqueles que não aceitam cargos públicos porque seus afazeres privados são mais gratificantes, financeira e emocionalmente; e os que são capazes de abrir mão de tudo para ostentar a “liturgia” do cargo remunerado pelo Erário.


Ah, e por falar em remuneração, vivemos, na semana, alguns impactos interessantes... Um deles foi a escolha, pela revista Time, do homem de referência mundial, isto é, a “personalidade do ano”; o escolhido foi o “criador” do site de relacionamento Facebook. Mas a mesma matéria televisiva destacou, com base no filme “A rede social”, que “o cara” do ano deu um golpe em seu sócio, o brasileiro Eduardo Saverin. Mark Zuckerberg, de 26 anos, é dono de uma fortuna inimaginável: sua empresa vale mais de 40 bilhões de dólares.

No âmbito doméstico brasileiro, a cara de pau dos parlamentares ao aprovarem seus salários, sob o cínico argumento de que um reajuste na média de 134% para um “pequeno grupo” impacta pouco, enquanto que aumentar o salário mínimo equivale a uma sangria sem tamanho para quem paga a ralé.

Aposentados? Aumento anual de 5,9%, somado ao desinteresse para com o destino dos velhinhos. Fico imaginando se a imprensa deve ou não fazer um levantamento: antes da “redentora” – apelido para a ditadura que se implantou sob o pretexto de combater o comunismo –, os parlamentares brasileiros ganhavam pouco e os vereadores sequer tinha subsídios (apelido dos salários deles). E antes de Brasília, parlamentares não tinham tanta verba para “trabalhar. Mas os militares do golpe, para facilitar as coisas, premiaram regiamente os do Legislativo figurativo, e temos hoje o mais caro parlamento do mundo).

Marquezelli ri; à toa? Não...


Ah! No parágrafo anterior, entendam por parlamento o conjunto de todas as casas – Senado, Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas, Câmara Legislativa (do Distrito Federal) e as Câmaras Municipais (mais de 5.500 em todo o país); o aumento votado em Brasília tem “efeito cascata”. Ou seja, o aumento será aplicado nos Estados e no Distrito Federal e em todos os municípios, num total superior a – pasmem! – dois bilhões de reais.  Um gasto pequeno, portanto, segundo Nelson Marquezelli, autor da proposta. O aumento foi aprovado no dia 15 de dezembro; no dia anterior, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo rejeitou as contas de campanha dele (Marquezelli),que foi reeleito.

Enquanto isso, chegava a notícias de que a OEA condenou o Brasil por deixar impunes os responsáveis pelo desaparecimento de 62 pessoas na Guerrilha do Araguaia. O nosso Supremo Tribunal descarta revisar a estranha Lei da Anistia; e o ministro da Defesa, Nelson Jobim declara-se contrário à punição para torturadores (houve torturadores civis e militares, gente). Ou seja, ele protege quem torturou, estuprou e matou.


Jobim, o do PMDB
A presidente que se empossa daqui a poucos dias já o confirmou no mesmo cargo. Ele não defende o Brasil e nossa História, mas a impunidade para autores de crimes que, no conceito universal, são inafiançáveis e imprescritíveis. Viola, assim, convenções internacionais e, pior ainda, a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Dilma, que foi presa durante três anos, no transcurso da adolescência para a juventude, foi barbaramente torturada (palavras dela mesma). Ao preservar Jobim no cargo, parece-me que sofre algo parecido com a Síndrome de Estocolmo.



* * *


Luiz de Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com

3 comentários:

Celso Moraes Faria disse...

Prezado poeta,

Parabenizo-o pelo seu texto de hoje, Tudo muda... Muda mesmo?, em que há demonstrações de uma visão clara e imparcial a respeito do universo sociopolítico que nos cerca, abrangendo o âmbito nacional e estrangeiro, destacando figuras e situações que fazem a gente pensar.
Conforme a cartilha dos mágicos e prestidigitadores (o poeta é um mágico das palavras, pois não?), você deixou o melhor para o final do seu texto: associar a figura da nossa mandatária maior (valham-nos, deuses!) à Sindrome de Estocolmo, com relação ao episódio Nelson Jobim, revela não apenas criatividade e domínio da escrita, mas também muita coragem. Coisas que faltam em nosso mundo, hoje em dia. (Por falar nisso, nessa história nebulosa que a Dilma conta, quem teria sido – mesmo – o seu torturador?)

Que eu possa continuar lendo seus textos, são sempre bons e bem-vindos momentos.

Maria Helena Chein disse...

Lu,

li suas duas últimas criações, o poema e a crônica.
Poesia de muita sensibiliade para reflexão sobre o Natal de hoje.
O artigo aponta, questiona os absurdos que enlameiam, mais uma
vez, a classe política. Barbaridade! Vergonha nacional. E fica tudo na mesma.

Vai um beijo.

Maria Helena

Mara Narciso disse...

Não aceito a impunidade, mas discordo de que se deva levantar defuntos e punir os torturadores de ambos os lados. Os contra-revolucionários não eram anjos e nem podiam ser. Tinham de reagir conforme os militares agiam, e eles foram torturadores bárbaros. Ainda assim, acho que devemos deixar os mortos em paz, "pois eles não levantam mais". O voto em Dilma Roussef foi pela continuidade. Não espero mudança nenhuma.