Amigos leitores,
O Diário da Manhã, em sua edição de sexta-feira, dia 11/02/2011, publicou uma carta minha nestes termos, com excelente ilustração por um dos artistas da casa. Eis a íntegra da minha carta:
A folga do agente AMT
O aumento da frota de veículos automotores é prenúncio de caos em todas as cidades e rodovias brasileiras, todos sabem disso. Usuários das redes viárias, condutores, pedestres de todos os conceitos e, talvez, até os cães sabem que houve mudanças; menos os administradores dos serviços públicos. A bem da verdade, administradores e agentes.
Esta semana, tentava estacionar no pátio do Mercado Central e encontrei uma vaga. Muito difícil, uma viatura da AMT – Agência Municipal de Trânsito, órgão da Prefeitura de Goiânia para todas as questões da ação de ir-e-vir, parou de modo totalmente irregular, ocultando a faixa divisória. Na fila em frente, um carro saiu; preferi a nova vaga. Ao desembarcar, notei que uma viatura de outro órgão municipal manobrava pacientemente para ocupar a vaga que eu desprezara; brinquei com os ocupantes, que, com o mesmo humor, ridicularizaram o colega da AMT; o passageiro recomendou ao motorista que parasse bem próximo, de modo que o infrator não tivesse como abrir a porta.
Foi então que notamos: algum outro motorista, igualmente chateado, escreveu num papel que colocou no parabrisa do faltoso: “Multado. Dê o seu exemplo”.
Quando saí, a viatura do Trânsito Municipal não estava mais lá; o porteiro, divertindo-se com a situação: “Ele (o fardado) ficou sem-graça”. Vale registrar que o estacionamento no pátio do mercado custa ao usuário R$ 2,50, mas os veículos da Prefeitura não pagam, pois o espaço é da municipalidade. Os comerciantes do Mercado entendem que o usuário consumidor não devia pagar, mas um carimbo no bilhete de estacionamento reduz somente parte do custo. E o gaiato da AMT acha-se, cheio de poder e “fé pública”, no direito de fazer o que bem entende.
Luiz de Aquino, escritor e jornalista.
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No dia seguinte, dia 12, o Sr. Jairo Souza, da Agência Municipal de Trânsito de Goiânia, manifestou-se indignado, chamando-me, já no título, de ignorante. A mágoa do agente está justificada nas tentativas de legitimar a si mesmo ou a algum colega seu que estacionou a viatura da instituição de modo irregular, ocupando duas vagas no exíguo pátio de estacionamento do Mercado Central – espaço também pertencente ao Município.
Ele me qualifica de ignorante no título, mas no primeiro parágrafo reconhece minha competência como jornalista. Muito obrigado! Devo compreender que o agente de Trânsito aprendeu rapidamente a lição; vejam como redigiu o titulo, e sigam o texto de sua carta, buscando explicar o inexplicável e justificar o injustificável:
Ignorância do Escritor
Ao ler o Diário da Manhã de ontem, pude ter certeza da distorção da imagem do agente de trânsito ou de, n o mínimo, falta de ética e despreparo de alguns profissionais. O jornalista e escritor Luiz de Aquino escreveu o texto “A folga do agente da AMT”. A mensagem, tendenciosa e pessoal, já começa no titulo, chama a atenção e faz o leitor se interessar pelo que vai ler. Uma tática muito eficiente dos jornalistas.
Mas a “folga” do agente AMT quer dizer que ele está ali trabalhando, fiscalizando. Certamente não estava naquele local a lazer ou para fazer compras. O Código de Trânsito resguarda ao agente de trânsito, no exercício de sua função, livre circulação, parada e estacionamento (Art. 29, VII do Código de Trânsito Brasileiro). Muitas vezes é preciso estacionar de uma maneira incorreta para fazer a fiscalização. O interessante é que viaturas de órgãos da segurança pública (sic) estacionam em calçadas (o que é resguardado pelo CTB) e não se ouve um terço dos desabafos que os agentes ouvem.
Talvez quando o senhor Luiz de Aquino tenha voltado ao estacionamento a viatura não estava mais lá por ter saído para atender outra ocorrência e não por ter ficado “sem graça” com o comentário sem fraca despejado sobre aquele trabalhador. Somos poucos agentes para o quantitativo de veículos e ruas da Grande Goiânia, e na maioria das vezes esperar por uma vaga significa um atendimento mais lento dos outros munícipes, que precisam dos serviços da AMT. Cada profissional, ao ser emprenhado em uma missão busca cumpri-la de forma mais eficiente e eficaz possível. O agente ao estacionar fora do local apropriado certamente prestou assistência necessária naquele local. O jornalista e escritor Luiz de Aquino, ao escrever e ilustrar seu texto mal-intencionado, conseguiu despertar a revolta e ódio em milhares de leitores aos agentes da autoridade de trânsito que seguem o Código de Trânsito Brasileiro para cumprir seu papel.
Jairo Souza, agente de trânsito, via e-mail.
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A repórter Eliane Barros, dos quadros do DM, saiu em minha defesa antes mesmo que eu tomasse conhecimento da defesa de Jairo Souza:
Ignorância do agente
(Resposta ao artigo publicado no sábado, 12 na página 20).
Escrevo em resposta a opinião do agente de trânsito Jairo Souza, publicado no último sábado, 12, sobre sua visão de “ignorância” do jornalista e escritor Luiz de Aquino. É claro que de ignorância o senhor agente entende muito, afinal saberia que o escritor Luiz de Aquino é um dos maiores nomes do jornalismo opinativo em Goiás, sendo respeitado por todos onde quer que vá? Se Jairo Souza tirasse um tempo para se manter informado, saberia disso, porém, sua “ignorância” não lhe permite.
A imagem dos agentes de trânsito para nós (população) não foi mascarada pelo texto do escritor, mas sim, por atitudes praticadas pela grande maioria deles. Sempre ignorantes e “donos da razão”, agem como se fosse verdadeiros militares, quase dando voz de prisão por questões simples. Como repórter na editoria de cidades, em 2010 fiz a cobertura de um fato desagradável ocorrido na estreia dos jogos da Copa do Mundo com dois agentes. Nesse dia, tive a certeza de que são realmente arrogantes no exercício de suas funções. O saldo da arrogância foram dois agentes surrados, o irmão de um deles com um dente quebrado por familiares dos agredidos na porta do 1º DP de Goiânia.
Conclusão: Os agentes de trânsito querem agir como policiais militares do Batalhão de Trânsito, e sequer estão preparados para abordagens perigosas. Os citados acima, por exemplo, fizeram dessa forma. Apanharam muito para saberem que algumas ações, fora a de “multar”, devem receber reforço policial. O exemplo disso ocorreu com meu irmão. Numa ocasião, foi abordado por militares do Batalhão de Trânsito. Educadamente o policial o avisou do erro cometido no trânsito e lhe pediu os documentos da motocicleta e habilitação. Ele foi verbalmente advertido e dispensando.
Em outra ocasião, dessa vez com dois agentes da AMT, foi diferente. Os agentes gritaram e o humilharam com palavras pejorativas, como quem precisa mostrar que está no comando. Imaginem se fazem isso com um bandido? Levam tiro, afinal, os agentes andam desarmados e mesmo assim querem fazer além do seu papel de multar. Na ocasião (com meu irmão), foi necessário que a PM interviesse liberando-o da mal sucedida abordagem dos agentes da AMT e avisando que o mesmo não cometia infração alguma na situação. A sociedade goiana conhece e sabe: agentes de trânsito andam pelas ruas como verdadeiros donos da razão, impondo mais medo até que a própria Polícia Militar. Sim, porque se me aplicarem uma multa por motivo pessoal, será a palavra dele (que tem fé pública) contra a minha, mera cidadã. Portanto, caro agente Jairo, assim como ostenta respeito pelas ruas e o exige, respeite os jornalistas, em especial o senhor Luiz de Aquino. Ele sim, tem o respeito da sociedade goiana, sem precisar impor. Aprenda com ele a ter seu espaço e respeito perante os goianos, ou mude de profissão.
Eliane Barros, jornalista.
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Decidi que tenho, também, de ajustar meus argumentos:
Agora, a tréplica
O agente Jairo fez questão de ignorar o que eu disse: seu colega (ou terá sido ele próprio? Ele não esclareceu se tem procuração ou missão de defesa dos agentes AMT, por isso suponho que sua carta seja um esforço de autodefesa) estacionou como um péssimo motorista, simplesmente; como a função de agente de trânsito pressupõe não apenas conhecimento das leis mas também perícia na condução de veículos, concluo que ele estacionou mal por livre intenção, escorado nas prerrogativas citadas pelo agente Jairo, de parar ou dirigir como bem entende. Isso, a rigor, é abuso de autoridade.
Engana-se ele sobre a omissão quanto ao fato de veículos dos órgãos de Segurança Pública estacionarem como bem entendem ou, o que é trivial (inclua-se aí também os funcionários da AMT), ignorarem completamente o cinto de segurança. Noutras Unidades Federativas, o assunto já foi tema de reportagens várias e as autoridades sempre responderam que tomariam providências; em Goiás, isso jamais acontece.
Eu não disse no meu texto que o agente foi comprar chuchu ou rapadura para si mesmo ou o chefe – Jairo é quem insinua algo parecido. Ele deixa de comentar, junto com o valor (que todos sonhamos ver nos agentes de trânsito de Goiânia) o arbítrio de alguns colegas seus, emitentes de multas inexistentes, sustentados pelo argumento da “fé pública”. Nos últimos anos, multas por uso de celulares ou falta de uso do cinto de segurança têm sido expedidas sem que os supostos infratores sejam notificados. Com isso, a defesa cai por terra – é a mais nítida evidência do abuso de autoridade.
A má educação dos agentes para com as pessoas, seja na condição de condutores ou de pedestres, é notória, como se vê na argumentação de Eliane Barros, repórter.
Eu disse, já no início da minha carta, que o contingente de guardas é muito inferior ao que preceitua o Código de Trânsito Brasileiro; isso é uma evidência de que as autoridades municipais da capital descumprem o citado Código. Os agentes mal-intencionados também abusam da autoridade que lhes é conferida, escorados na falta de seus superiores. Os que assim agem são, realmente, mal-intencionados, não eu que, como jornalista e cidadão, denuncio essas mazelas.
A lei, Sr. Jairo, dá-lhe essa tal “fé pública”, a mesma em que seus colegas (e talvez o Sr. também) se escudam para ligar sirenes quando não é necessário ou estacionar obliquamente, invadindo a vaga ao lado, como se isso fosse a medida exata para solucionar um grave impasse ou salvar uma vida. O Sr. sabe, não é este o caso. Esclareça, Sr. Jairo, que a jurisdição de seu trabalho é o município de Goiânia; ou a AMT, agora, é uma agência metropolitana?
E sobre fé pública, quero dizer-lhe que eu, jornalista e escritor, tenho-a também no que se refere a aceitação, pelo público, das coisas que há mais de quarenta anos escrevo em jornais, revistas e livros. Para isso, não precisei de fardas nem de leis.
Por fim, dedicado agente, se milhares de pessoas na população goianiense tem ódio dos agentes AMT, a causa jamais seria a minha carta, e sim a ação deletéria de seus colegas no trato com o público. Disso todos sabem, não seria necessário uma pequenina matéria da minha lavra a levantar multidões, como os eventos que resultaram na queda do ditador egípcio.
Mas quem tem telhado de vidro que se cuide. O goianiense, Sr. Jairo, não é bobo.
Luiz de Aquino – jornalista e escritor