Páginas

quarta-feira, dezembro 28, 2011

“Meu mais novo velho amigo”







“Meu mais novo velho amigo”


As mensagens de Ano-Novo – que a gente já chamou também de Ano-Bom – são repetitivas, giram em torno dos prenúncios de uma felicidade sempre sonhada, jamais sentida no presente e constatada somente quando passado o tempo. Mas continuamos a sonhar com dias melhores, alegrias imaginadas, encontros desejados. Ah, e com dinheiros extras também – e sempre em grande soma!

Há quem deseje saúde, para si e para os outros. E amores. E colóquios, e compromissos para a vida toda, na saúde e na doença. E a gente aplica as simpatias conhecidas, procura com boa atenção novidades do ramo, compra roupa nova, escolhe adereços especiais (verdadeiros amuletos infalíveis) – enfim, aos sonhos aliam-se gestos e danças, preces e provérbios, tudo em busca da felicidade que, parece, jamais se teve!

De minha parte, lá pela metade do tempo que vivi, ouvi a frase citada linhas acima a propósito da felicidade. A pessoa me falava de como não sentimos a felicidade, mas um dia constatamos que fomos felizes. Desde então, passei a observar melhor os momentos, os eventos, as pessoas, o ambiente, as luzes e as cores, os cheiros e tatos. E aprendi a sentir quando estou feliz. A soma dos desafios dolorosos com o sentimento pleno da superação dessas dores, mais a paciência indispensável para perceber as alegrias e os prazeres, a realização nos encontros e na harmonia, a consciência do poder da amizade e, ainda, a capacidade de apreciar tudo isso, com a competência de saber guardar na memória – tudo isso nos faz sentir que somos felizes.



Não quero sonhar 2012. Quero, sim, encerrar 2011 nestas horas últimas, seja dia ou noite, do mesmo modo como faço há algumas décadas – apreciando o realizado como quem saboreia frango com pequi em Hidrolândia, ou acarajé com cerveja numa praia da Bahia. Quero sentir as bolinhas do espumante ao festejas as 100.000 visitas ao meu blog (http://penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com) justo no dia de Natal; quero o prazer de uma cerveja num boteco do Setor Universitário, desfrutando a boa prosa e as ricas lembranças de Fernando Antônio, que me saudou neste Natal como “meu mais novo velho amigo”.

“Mais novo velho amigo”. Eis aí um título que nenhuma câmara de vereadores, nenhuma faculdade, nenhum clube de serviços nos pode dar – somente um amigo! E Fernando Antônio é esse amigo. Amizade que se consolida agora, pouco mais de quatro décadas desde que nos conhecemos.

Fachada do velho e saudoso Liceu: capa do cedê em MP3
Ele, Fernando, foi meu alunos nos tempos de Liceu, antes do Y. Era um garoto de 15 anos, gordinho e feliz, que não gostava de ser chamado de gordo. Em casa, desfrutava de um ambiente rico de livros e sapiências, proporcionado pelos livros e cultivado pelos pais. Eu, professor, tinha 24 anos. A vida me tornou escritor e jornalista; deve, fez engenheiro e especialista em “processamento de dados” – nome anterior do que agora chamamos “informática”.


Já contei aqui, há cerca de três semanas, do encontro de antigos estudantes do Liceu no Bartolomeu Restaurante, de iniciativa, dentre outros, de Pedro Dimas, Pedro Vasco e  Fernando. Eles convocaram os colegas, cutucaram alguns professores (que alegria reencontrar o prof. José Maria e a diretora Teresinha Vieira, bem como Sônia França e Marieta Cruz!) e deu-se a festa!

Aqueles meninos, hoje grisalhos, calvos ou de cabelos tingidos, continuam especiais para todos nós! Fernando foi quem levou uma camisa do  uniforme da Banda daquela época (1969/71); eu empertiguei meu uniforme de aluno; Pedro Dimas idealizou um cedê com músicas da época, selecionadas por Fernando Antônio (cento e sessenta e cinco músicas nacionais e estrangeiras! Uma audição de mais de seis horas; somente esse disco realiza uma verdadeira “festa de arromba”, para usar o título de uma das canções).

Nada menos que 165 canções (em MP3) para marcar bem o temo...

Resumindo, 2011 foi um ano bonito, cheio de problemas e dificuldades que contornei ou solucionei, caso a caso; alguns de tais item atravessam a fronteira da data, e sei que serão igualmente findos. Angariei novos amigos, expurguei alguns que escolheram posar de ex-amigos – e tudo isso me faz muito feliz. Talvez alguns dos que, inesperadamente, entraram no meu coração venham a esvair-se na mesma névoa que remove as más memórias, mas hão de me causar tanta alegria como quando chegaram.


Autógrafos de ex-alunos e ex-professores presentes


Ficam, pois, minhas boas vindas aos novos amigos, mas muito especialmente ao Fernando Antônio e outros da mesma equipe (e estirpe) dos velhos tempos liceanos. Gosto muito de ser seu “mais novo velho amigo”!


Fernando Antônio e eu, com a camiseta da Banda (uniforme de 1970; acervo dele)


* * *

segunda-feira, dezembro 26, 2011

Cem mil!

100.000 visitas!





                 Amigos meus, esta marca chega-me com um especial presente de Papai Noel, e o Bom-Velhinho, agora, é representado por cada um dos que me lêem ou já leram um dia, pois cada vez que alguém abriu este Blog somou para que isto acontecesse. 
          Muito obrigado! Espero que meus textos continuem despertando interesses, de modo a jamais esbarrarem na pieguice,  no lugar-comum e muito menos em compromissos que resultem de modo negativo. Minha missão - penso - é trazer entretenimento, despertar a sensibilidade e, muito mais especialmente, o compromisso que temos para com o nosso próximo e o futuro. 
                   Deus lhes compense!

sábado, dezembro 24, 2011

Ferramentas da Língua


Prof. Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, dicionarista.


Ferramentas da Língua



As línguas, de qualquer povo e época, são verdadeiras engenhocas ricas e complexas – umas mais, outras menos. divirto-me com os que, em ares geniais e conceito simplório, diagnosticam: “A língua portuguesa é muito difícil”. Penso, no meu modo de leigo pleno e assumido, que as línguas, de qualquer natureza e região, têm graus similares de dificuldades. O caso é que, aprendendo rudimentos de língua estrangeira, muitos dos menos esclarecidos pensam que a língua dos outros é mais fácil que a nossa. Ledo engano, não é mesmo, Leda Selma? (Que a Márcia Maia me desculpe, mas tenho sempre que citar a excelente poetisa, contista, cronista e cultora-mor da Língua Pátria nestes casos).

Volto ao tema: tenho pela Língua que falamos um amor tão grande que me condeno por não sabê-la muito melhor. Sei que é uma máquina abstrata, repleta de peças e juntas, rolamentos e bronzinas, pistões e molas, tudo azeitado em finíssimo óleo de poesia, juntado com maestria e que, por vezes ou quase sempre, exige a interveniência de alguma ferramenta – por vezes, a engenharia da gramática; e quase sempre, o rigor feliz dos dicionários, e estes são tão variados quanto o que contêm nossas caixas de ferramentas.

Os dicionários vêm a ser as ferramentas mais usuais. Há os de sinônimos, os ortográficos, os de traduções, os de regimes (de verbos, de adjetivos, de substantivos...) e até mesmo os dicionários específicos de algumas profissões.

Capa da reedição do Dicionário da Língua Brasileira: pioneiro.

Dicionários brasileiros diferem dos portugueses, dos de Angola,. Cabo Verde e Moçambique, bem como de outras terras e povos lusófonos. E dos dicionários publicados no Brasil, nós, os goianos, temos dois motivos de orgulho. O primeiro deles é o Dicionário da Língua Brasileira, do padre Luiz Maria da Silva Pinto (goiano de Pilar). O livro foi publicado em 1832 e é o primeiro dicionário brasileiro. Tenho uma edição fac-similada do livro, editado de modo um tanto apressado, de modo a parecer, inicialmente, um caderno horizontal.

Nova edição, revista e ampliada, do icionário de Ideias Afins

A segunda peça é o Dicionário Analógico (ideias afins), do professor Francisco Ferreira dos Santos Azevedo. Já dispunha de um exemplar da primeira edição (segunda tiragem) e, agora, acabo de ser presenteado com a novíssima versão da obra primorosa do Professor Ferreira. O mimo chegou a mim  pelas mãos de um neto do mestre vila-boense, Geraldo Fonseca Júnior, que teve o cuidado de colher um autógrafo de sua mãe (filha do autor), a Sra. Teresinha Ferreira Fonseca.


Esta segunda edição traz um carinhoso prefácio do compositor Francisco Buarque de Holanda, famoso usuário da obra, que o recebeu de presente de seu pai, o mestre Sérgio Buarque de Holanda. “Com esse livro” - escreveu Chico Buarque – “escrevi novas canções e romances, decifrei enigmas”. E tem ainda um impecável prólogo do lexicólogo Leodegário A. de Azevedo Filho.

Autógrafo da filha do autor, Sra. Teresinha F. Fonseca (o prof. Ferreira faleceu em
meados da década de 1940; sua obra só foi publicada em 1950).


O mimo de Geraldo Fonseca Júnior fez-me o Natal mais feliz, certamente! Se eu, antes, já era grato à memória do Professor Ferreira, agora estou agradecido a ele e a sua mãe, a Sra. Teresinha, por tão delicada dedicatória, expressa em caligrafia invejável. Deus lhes dê também um Natal feliz!

* * *

Ora, se discorri linhas acima sobre a engenharia da Língua e suas ferramentas, quero agora dedicar agradecimentos muito, muito cordiais aos que, sem medo de se comprometer, comentaram minha crônica anterior – “Muito barulho por nada” -, em que teci críticas  e sugestões a propósito da pirotecnia em torno do cumprimento de uma obrigado legal (ainda que muito pobre), que é o pagamento do piso nacional aos sofridos professores da rede estadual de ensino de Goiás.

Meu abraço fraterno, agradecido e solidário, pois, a Jô Sampaio, Klaudiane Rodovalho, Fátima Rosa Naves, Ivonildo F. Duarte, Tatiele (professores em Goiás), Sueli Soares (RJ), Fernando Quintela (RR) e Mara Narciso (MG). Suas opiniões estão no meu blog – penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com – e vale a pena lê-las!

Além dos comentários acima referidos, muitos leitores (grande parte, professores) dirigiram-se diretamente a mim pelo Facebook. Não sei se alguns escreveram diretamente para a editoria de Opinião do DM, pois nem sempre o espaço comporta todas as cartas recebidas de leitores, daí a minha manifestação neste espaço.

Só não se expressaram as assessorias da Secretaria de Estado da Educação e da Governadoria do Estado.


* * *


quinta-feira, dezembro 15, 2011

Educação em Goiás: "Muito barulho por nada"


"Muito barulho por nada" (*)


Divirto-me vendo jovens xingando-nos – a nós, os idosos – de velhos. Ninguém quer morrer… mas esses jovens, parece-me, querem viver muito e continuar jovens. Isso é tão impossível quanto uma mulher ficar meio grávida. Eu, particularmente, gosto muito da minha idade; sempre tive uma alegria enorme ao fazer aniversários e, assim, acumular informações que transformo em conhecimento. A isso, algumas pessoas chamam de experiências, e experiências podem ser as que nos são passadas (e que processamos) ou as que vivemos.

De todas as minhas experiências, orgulho-me, muito, das que adquiri no exercício dos trabalhos a que me dediquei, como profissional ou como amador. E ao longo da vida fiz-me, no início, cobrador de títulos, vendedor de livros em domicílios, bancário... E “escolei-me” para ser professor e jornalista, aprimorando o prazer de ler e escrever, de saber conversar e orientar os mais moços, tanto como professor quanto como pai, e como arauto dos fatos, na condição de jornalista em funções de repórter, fotógrafo e editor.

Ainda nos tempos de universitário e professor na rede estadual e escolas privadas, o salário “pró-labore” no Estado equivalia a 150% do salário-mínimo da época. Mais tarde, como jornalista, tínhamos um piso salarial equivalente a oito vezes a base salarial. Hoje, um professor é remunerado, na rede pública, com cerca de dois “mínimos”, ainda que, para ser professor, exijam o diploma de formação superior e aprovação em concurso público.

Por estes dias, o governo de Goiás anuncia, com muita pirotecnia (é uma metáfora, claro) que cumprirá o piso nacional para os professores – mas, em troca, revoga as gratificações por especializações e institui 10% a mais para quem tem Mestrado e 20% para os que têm Doutorado.

Eu li direito? Eu ouvi direito?

Estranho; estranho muito mesmo! Quanto custa, em prestações mensais, um Mestrado? E um Doutorado? (As maiúsculas são intencionais e dispensam explicações) E o custo pessoal, o tempo que se rouba do lazer e das obrigações familiares, não conta? Dois a três anos no Mestrado para acrescentar pouco mais de 130 reais no contracheque? Ou cerca de 250 pelos quatro a cinco anos de doutorado?

Estranho muito, também, as autoridades da Educação festejarem o fato de cumprirem a lei que manda pagar um piso. Deveriam cumprir isso silenciosamente – e sem cortar as gratificações existentes.

Festejam o fato de instituir-se em Goiás as eleições para diretores de unidades escolares. E falam em meritocracia – o que me parece antagônico. Nos distantes tempos dos diretores nomeados, havia, sim, indicações políticas, mas os diretores demonstravam competência ou perdiam o cargo. A eleição cria um clima de campanha em que (ninguém me contou; eu vi e ouvi!) professores candidatos disputavam os votos oferecendo benesses como a liberação dos uniformes – medida “conquistada” pelos alunos por medida equivocada de uma autoridade judiciária (isso acontece em quase todas as escolas públicas; menos nas da Polícia Militar) – até a tolerância do atraso em duas aulas. É uma nítida compra de voto não em espécie ou bens materiais, mas por uma intenção antecipada de prevaricação.

Piso salarial de pouco mais de 1.300 reais! Um disparate!... Festejar isso? Festejem coisas melhores – como a restauração da dignidade de escolas como o Lyceu de Goiânia (que deve voltar a ser integrado ao da Cidade de Goiás, respeitando a História), o Instituto de Educação (que, comenta-se por aí, já está sucateado e, a qualquer momento, será alienado para que ali se erga um grande condomínio residencial vertical, para que – aí, sim – as grandes construtoras festejem!), o José Carlos de Almeida (antigo Grupo Modelo, pioneiro na cidade) e o Pedro Gomes, de tantas glórias!

Devíamos festejar a instituição da jornada integral, tanto para alunos quanto para professores. Um piso salarial três vezes maior que isso, com jornada de 40 horas, numa só escola; aí o professor elaboraria projetos e planos, daria aulas, faria avaliações e correções e não precisaria ter dois ou mais empregos e, por seu poder aquisitivo, seria melhor situado na sociedade – ou seja, recuperaria o respeito que, antes, a sociedade brasileira dedicava aos mestres.


(*) Com licença, William Shakespeare...

 * * *

sexta-feira, dezembro 09, 2011

Outra vez sob a Águia





Outra vez sob a Águia


A luz do dia chegou filtrada. Nuvens espessas, com espessura de quilômetros, prometem assustar-nos com temporais. Por isso, e só por isso, os raios do Sol negaram-nos o brilho sobre as cores das coisas, do azul de céu, das águas e do verde, das ruas e das peles das pessoas (nos olhos, não; o brilho dos olhos vem, quase sempre, de nós mesmos; vem de dentro).

Nada, em nossa vida, é igual; nada se repete. Um dia é um conjunto imensurável e indizível de fatos e imagens, de sentimentos e de sonhos e – vou repetir – nada se repete. Nem mesmo o tom do bom-dia com que nos saudamos em casa, na rua, no trabalho... Ao longo da vida, revisitamos lugares, revemos pessoas, renovamos ações e gestos, palavras e pensamentos – mas tudo é diferente a cada instante. É aquele sempre recordar Heráclito e sua observação sobre o homem e o rio.

Este ano, 2011, dá-me a idade em que o algarismo 6 faz sombra, dobra-se para reafirmar um sessentão; ou sexagenário. Reli livros, escrevi muita coisa – sempre peças pequenas, nenhum compromisso com um grande livro, nada... participei outra vez da coleção Goiana em Prosa e Verso, idealizada e realizada pelo amigo e irmão Kleber Adorno, em parcerias nobres da Prefeitura de  Goiânia com a Editora da PUC de  Goiás e a Editora Kelps. Vi meu pai despedir-se devagarinho da vida, até a apoteose na véspera do Dia da República – mas vi nascerem filhos de muitos amigos, netos de avós felizes.

Preocupei-me, mas ocupei-me muito; tive instantes, muitos deles, de apreensões, mas tive também os de alegrias e regozijos. Como disse, lancei novo livro, escrevi em livros de alguns amigos, fui citado em outros. Este 66º ano deu-me razões de sobra para crer que a vida é  linda! Reencontrei amigos (bom te rever, Brasigóis! Goiás é sua casa, berço e lar, não é mesmo?), descobri e revelei novos autores.

Deixei de ir ao Rio de Janeiro para os encontros tradicionais de ex-alunos do Colégio Pedro II. Estive muito poucas vezes no Liceu (Lyceu de Goiânia). A Pirenópolis também não fui tantas vezes quanto era do meu desejo. Nada a lamentar – seria injusto para com os prêmios que Deus me dá. E por não reclamar, sinto-me ainda mais premiado: um telefonema de Fernando Antônio Castro Quinta, outro de Pedro Dimas e mais uma festa acontece: um grande grupo de ex-alunos do Liceu – adolescentes de 1970 – reúne-se para recordar. Convidam ex-professores, escolhem a noite de sábado, 10 de dezembro, e o local é o Bartolomeu – do também ex-aluno Pedro Vasco. Ouço dizerem que convidaram os professores da época:

– Todos aqueles alunos que você punha pra fora de sala estarão lá – informou-me o Fernando Antônio.

Fiquei ligeiramente apreensivo: será que pensam em vingança? Claro que não!, mas eu não perderia a chance de brincar com isso... Bem! Eu gostaria muito de documentar esse encontro, mas escrevo antes que ele aconteça, obviamente. Lembrei das caras daqueles garotos e garotas, do uniforme em disciplina impecável, da alegria do pátio, da inevitável ironia dos alunos... Tanta coisa linda e boa! Hoje ostentamos rugas, cãs (cabelos brancos; explico porque a palavra é quase desconhecida)... Aliás, e a propósito de cabelos, hoje somos pessoas de cabelos brancos, cabelos tingidos e sem cabelos – mas o importante é estarmos felizes.

Por me sentir assim, e evocando a águia que simboliza o colégio secular, escrevi:


Esses meninos sob a Águia...

Era um tempo de homens rudes, 
mulheres doces - seres severos… 

Tempo de nós muito jovens.


Sonhamos crescer, lutar... Quem sabe? 

Alcançar liberdade – palavra perigosa, 

vigiada e guardada a chave.


Meninos grandes de uniforme bege e branco; 

jovens mestres de jaleco, pastas, livros

e giz ante o quadro escuro...


Quadro negro, quase sempre verde... 

Lousa, massa e cimento

berço de textos e contas – lições.


Calça cáqui, sapatos pretos, saias medianas; 

meninas de meias brancas, muito alvas 

– rigor religioso, aquele!


No peito, a águia! Vigia solene, 

asas  abertas ao voo 

viagem no tempo a vir!



E o sentimento de fé e sonhos. Marcamos: 
 sine die, seja sábado e noite, 
mas em quarenta anos (ao menos).

* * *

Luiz de Aquino - moço professor de 1970, feliz outra vez entre vocês!


Lyceu: nosso templo de aprendizado, lembrança imortal, berço de amizades...





sexta-feira, dezembro 02, 2011

Privatizem a Educação!


Lyceu de Goiânia: A Prefeitura náo conclui a calçada, o Estado náo valoriza a história do colégio tradicional

Privatizem a Educação!


Alinho-me com os defensores da educação pública e gratuita, em todos os níveis, desde sempre, quero dizer, desde que cursei a Escola Pública (nome que se dava ao Grupo Escolar no Distrito Federal do Rio de Janeiro), o Colégio Pedro II e o Liceu de Goiânia (no meu tempo, apelidado oficialmente de Colégio Estadual de Goiânia).

A Faculdade de Filosofia da Universidade Católica de Goiás – hoje, Pontifícia Universidade Católica de Goiás – foi uma escolha livre, orientada pelos meus professores de Liceu. Naquele momento, e ainda que a Faculdade de Filosofia (hoje, com as devidas mudanças, Faculdade de  Educação) da Universidade Federal de Goiás estivesse do outro lado da Praça Universitária, havia, sim, a nítida preferência pela metodologia dos padres jesuítas que dirigiam aquele centro de formação de professores para o Ensino Secundário (ginasial e colegial).


Naquele tempo, as décadas de 1960 e 1970, professor era profissional respeitado. Naquele tempo, estudar em escola pública, sobretudo nos níveis primário e secundário (tudo o que antecede a universidade) era nobre – a escola privada era para o aluno relapso (aquele que não conseguia passar em exames de admissão e de seleção).

Aí, veio a famigerada Lei nº 5.692. A ditadura dava um golpe de misericórdia no ensino, que não ia lá muito bem, mas piorou o bastante para depreciar de vez o ensino público. Quem lucrou com isso? Ganha um pirulito quem marcar um X ao lado de “Donos de escolas particulares”. Incluam-se aí as redes religiosas – católicas e protestantes – e os barões do ensino. Um cursinho de São Paulo espalhou-se pelo Brasil afora (ou adentro, tanto faz), instituindo no sistema de ensino as franquias, tal como ensinavam fabricantes internacionais de refrigerantes e outras marcas menos populares.


O que viram os quadros-de-giz nas escolas públicas

Dói no coração de qualquer ex-aluno do Lyceu de Goiânia (agora, com Y; mas a gente escrevia Liceu) ver o prédio histórico e seus muros agredidos, sempre sujos de lama e marcas de pichadores. O prédio da Rua 15, construído por Mauro Borges e inaugurado por Ribas Júnior, é o que mais sofre: até os quadros-de-giz são pichados.

Recentemente, participei de momentos literários em três colégios de Goiânia – o estadual Waldemar Mundim, no Jardim Guanabara; e os municipais Geralda de Aquino, na Cidade Jardim, e Trajano de Sá Guimarães, no Parque Amazônia. Três escolas muito diferentes do Lyceu... Na Trajano e na Waldemar Mundim, não vi a marca dos vândalos; na Geralda de Aquino, aonde fui numa noite, não tive tempo para observar esse detalhe, mas se o tem é de menor escala, não me feriu os olhos (nem o coração).

O Colégio SESC Cidadania, em Goiânia.
O Estado tenta escapar da pecha de péssimo gestor de ensino investindo em colégios cedidos para a gestão da Polícia Militar. Nada contra, pois instituições como SESI e SESC mantêm excelentes escolas (meu filho Lucas cursou o que chamo de antigos ginasial e colegial no SESC Cidadania; estou muito feliz por isso, e nesta última semana ele e seus colegas despediram-se do colégio do Jardim América com indisfarçáveis emoções ); congregações católicas e denominações protestantes já são tradicionais no ensino brasileiro. Mas das polícias militares – e não restrinjo isso apenas a Goiás – esperamos segurança; mantenha ela seus colégio, mas é absolutamente necessário que a Educação seja gerenciada e aplicada pelo sistema de Educação – Ministério da Educação e Secretarias estaduais e municipais do ramo.

Mas – repito – o Estado (nos três níveis) tem se mostrado incompetente ou, ao menos, muito despreparado para cumprir o dever de casa. Sendo assim, e usando o argumento do sistema de telefonia, entre outros, que o Estado brasileiro desista de gerir escolas; privatize tudo e crie uma versão para os ensinos pré-escolar, fundamental e médio de modo a assegurar a presença de todas as classes sócio-econômicas no sistema nacional de ensino.

Há mais de 50 anos acompanho as lutas pela qualidade de ensino. Existem ilhas de excelência até mesmo na rede pública (vi o empenho e a alegria de estudantes e professores das escolas Waldemar Mundim, Geralda de Aquino e Trajano de Sá Guimarães, entre outras a que tenho comparecido), mas existem a perseguição pessoal e(ou) política aos que tentam oferecer algo de diferente em alguns educandários (que triste! Neste particular, tenho de citar o meu Lyceu).

O que tenho visto é um certo bem-estar do professorado da rede privada e a incontrolável angústia que predomina entre os mestres da rede pública.

Então, senhores políticos descompromissados com o futuro: assumam sua intolerância para com o certo e saiam do armário dos covardes: privatizem! E, de preferência, nos setores de cultura e educação, confiem nas instituições classistas fora do sistema oficial, como SESI e SESC. Professores são formados nas mesmas escolas, seja para o ensino público, seja para a rede privada. Mas o poder público, no que tange à Educação, está falido. E professor só é desvalorizado se empregado da rede pública.


* * *