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sexta-feira, julho 06, 2012

Com estudantes, em Nerópolis


Eu, feliz, entre professoras e estudantes no Colégio Mauro Borges

Com estudantes, em Nerópolis


Costumo dizer às pessoas, especialmente às que se deprimem por “perder” um projeto na vida, que os sonhos, quando não se realizam, devem ser substituídos. Conformismo? Não: condicionamento pela sobrevivência. O importante é escapar da depressão e dos seus efeitos.

Como toda criança, sonhei com a vida adulta, fiz planos de família e, sobretudo, de profissão. As crianças sabem, sem que alguém lhes ensinem, que é muito importante ser feliz com o trabalho. Era assim, ao menos – hoje, os sonhos dominantes entre os pequeninos é a “corrida para o abraço” após o gol, ou os aplausos da platéia quando do desfile. E há as variantes: ser atriz ou ator, ganhar medalha nas Olimpíadas, disputar votos para ganhar um lugar no céu, em Brasília, ou nos palácios regionais.

Eu sonhei diferente. Queria ser  professor. Quis, tentei, fui. E quando muito pouco faltava para eu ter o diploma, algumas gestões de ciúme e delação tiraram-me das salas de aulas. Havia a perseguição sistemática e, em sua esteira, a ameaça de prisão, e prisão sugeria tortura, humilhação, ostracismo. Fui obrigado a mudar o sonho. Elegi o que me vinha logo em seguida – ser jornalista. E sem sonhar com isso, fiz-me escritor de livros muitos anos depois dos primeiros versos, das primeirinhas historinhas  inventadas. O primeiro livro chegou tardio, aos 33 anos. Mas a escrita, para mim, era prática de duas décadas.

O jornalismo foi o modo da sobrevivência; a escrita, o do prazer. Então, ainda que distante das escolas, achei uma fórmula feliz de trabalho. E o ofício dos livros, inevitavelmente, encaminhou-me de volta às salas de aulas. E o prazer de estar com jovens estudantes é enorme! A adolescência, penso eu, é o momento da vida em que mais processamos o aprendizado; na infância, assimilamos; na adolescência, processamos; quando adultos, aplicamos.


Mauro Borges Teixeira, patrono do Colégio

Há poucos dias, tive esse prazer de modo redobrado. A escola, em si, já me seria acolhedora pelo seu patrono: Colégio Estadual Mauro Borges (em Nerópolis). Mauro Borges governava o Estado em 1963, quando voltei do Rio de Janeiro (aonde fui para poder estudar o Ginasial). Eu estava na Avenida Goiás quando os aviões da FAB ameaçavam Goiânia com toneladas de bombas caso o jovem governador não entregasse o cargo; naquele dia, Dona Josefina, sua avó materna, faleceu sob o som das esquadrilhas.
Com Fernanda Carine, diretora do Colégio Mauro Borges

Nos primeiros anos deste novo século, ajudei-o como editor, quando da publicação do seu livro de memória – Tempos Idos e Vividos, Minhas Experiências. Esse convívio foi, também, o cumprimento de um sonho; teria gostado de trabalhar com ele – pensei sempre – e tive esse privilégio. Naquela manhã uns dias atrás, revivi, de certa forma, esse convívio, ao ser entrevistado pelos estudantes do 9º Ano, Turma A (Ana Paula, Tatiane, Vitor, Helena, Carlos Antônio, Hugo, Bárbara, Maria Eduarda, Fernanda, Everaldo, Daniel, Hygor, Luana, Lucas, Carlos Eduardo, Wânia, Alisson, Edmilson e Edna). Ouvi perguntas inteligentes e desafiadoras, com a coragem que poucos repórteres demonstram, mas sustentadas por posturas respeitosas, dignas – coisas de estudantes que querem, mesmo, apre(e)nder alguma coisa... E que sabem que é bom buscar com os mais velhos.

Allyne Pimenta

Estive lá a convite da professora e mestre Allyne Pimenta; fui recebido pela diretora Fernanda Caroline e também pela professora Fernanda Farias. Respondi ao que me perguntaram (Júnior Cotonete, meu amigo cinegrafista, documentou tudo; e a cada pergunta, sorria, gozador: “Ih, Luiz, eles estão te apertando mesmo!). O encontro durou cerca de uma hora – acho que ficaríamos por outras horas,  se possível nos fosse – e culminou com um saboroso lanche. Prometi voltar em agosto; espero que me recebam outra vez.

* * *

7 comentários:

Bárbara Marques dos Santos disse...

Nossa.Amei a crônica...Não tenho nem palavras pra descrever o quanto estou feliz pelo Colégio Mauro Borges,muito obrigado e felicidades para o Senhor.
Contamos com sua presença em agosto.
Bárbara.

Tania Rocha disse...

Poeta Luiz De Aquino,
A iniciativa da escola Mauro Borges ,de convidar um professor escritor para falar aos seus alunos, é sem sombra de dúvida, uma ação de respeito e compromisso para com eles. É uma prática na qual sempre acreditei; ouvir a experiência de uma pessoa,que tem na bagagem de vida, o conteúdo que o senhor acumulou com sua profissão de professor ,de jornalista e de grande escriba,é uma oportunidade rara ,que irá enriquecer e aguçar esses jovens que estão por decidir seu futuro.Parabéns à escola,parabéns ao senhor por disponibilizar seu tempo em prol de tão bela causa!

Mara Narciso disse...

Pelas fotos e pelo texto leve e saboroso, vejo que o encontro foi uma delícia. Você parece remoçado, elegante. O convívio com os jovens dá energia extra para vencer o dia. Parabéns!

Anônimo disse...

Muito interessante!

Anônimo disse...

Mais interessante ainda.

Allyne PImenta disse...

Obrigada,Luiz, por nos proporcionar tamanha alegria e conhecimento.
Sua presença em nossa escola, renovou os nossos, talvez, já casados, espíritos em relação à educação e como fazê-la diferente e atraente. Você nos deu a oportunidade de sonhar, planejar, e ver tudo se realizar. Vi, nos olhos de nossos alunos, o brilho de saberem que estavam fazendo parte de tão famosa "cidadania". Você e sua grandiosa humanidade em demonstrar mais uma vez , à sua maneira, que "popularizar" não é , de forma alguma, tornar-se menor. Saiba que você cresceu muito mais no coração de pessoas simples, porém que amam verdadeiramente o que estão fazendo. E quem melhor que o "poeta do amor" para entender sobre amor... não é mesmo?
Obrigada, infinitamente, por este momento que, com toda minha certeza, será eterno.
Professora Allyne Pimenta

Allyne PImenta disse...

Obrigada,Luiz, por nos proporcionar tamanha alegria e conhecimento.
Sua presença em nossa escola renovou os nossos, talvez, já casados, espíritos em relação à educação e como fazê-la diferente e atraente. Você nos deu a oportunidade de sonhar, planejar, e ver tudo se realizar. Vi, nos olhos de nossos alunos, o brilho de saberem que estavam fazendo parte de tão famosa "cidadania". Você e sua grandiosa humanidade em demonstrar mais uma vez , à sua maneira, que "popularizar" não é , de forma alguma, tornar-se menor. Saiba que você cresceu muito mais no coração de pessoas simples, porém que amam verdadeiramente o que estão fazendo. E quem melhor que o "poeta do amor" para entender sobre amor... não é mesmo?
Obrigada, infinitamente, por este momento que, com toda minha certeza, será eterno.
Professora Allyne Pimenta