Ir e vir; e aprender?
Pronto!
Por cerca de uma semana, embasados em razões legítimas, os caminhoneiros
brasileiros pararam nas estradas com seus máquinas poderosas. E o governo
nacional resolveu negociar, e negociou sem falsetas, conseguindo o fim da greve.
Há
mais de cem dias os setenta mil – sim: 70.000 – professores das universidades
federais brasileiras estão em greve por razões também justas, mas o governo do
Brasil faz de conta que não sabe disso.
Agentes
da Vigilância Sanitária nacional também estão parados – a epidemia de dengue
que se expanda e o resto que se exploda! Fiscais da Receita Federal também
cruzaram os braços; a mulher presidente da República – essa que violenta a
gramática ao assinar diploma legal forçando a feminilização (?) de um substantivo
comum de dois gêneros – encontra uma solução “sábia”: convocar agentes
estaduais e municipais do mesmo segmento para substituir os federais em greve.
Mas não combinou isso com os grevistas e estes retém algo de trivial – as
senhas que possibilitam o funcionamento de seus sistemas de trabalho.
Os
grevistas estão com as chaves do cofre, do almoxarifado, da cozinha e até do
banheiro, senhora presidente! Tal como os caminhoneiros tinham as cancelas das
rodovias. Os professores... Ah, professores são outra história! A senhora sabe
que eles nada valem, que se contentam com muito pouco, que não trancam o
sistema de arrecadação, não tolhem o abastecimento, não deixam defuntos na rua
por longas horas, na madrugada ou sob o sol.
Professores,
senhora presidente, servem apenas para formar cidadãos, arejar mentes, oferecer
mão de obra especializada; e quem precisa disso? Cidadãos arejados são péssimos
eleitores, acabam votando de acordo com suas convicções bem formadas e isso não
fortalece seu governo nem sua sucessão. Mão de obra especializada o governo
manda buscar lá-fora, sai mais barato do que as situações que os cidadãos
bem-formados (e bem informados) hão de causar para o sistema.
Há
uns poucos anos, meu pai, já na casa dos 85, com a saúde delicada a exigir sempre
algum cuidado, precisou vir de Caldas Novas para tratamento. Fui buscá-lo, de
carro. Não demorei mais que uns trinta minutos em sua casa, retornando com
urgência a Goiânia. Mas ao alcançar a estrada, no trecho entre a cidade e o
posto da PM Rodoviária, uma patrulha de soldados do destacamento ou quartel de
Caldas Novas dava segurança a um grupo de fazendeiros que colocara máquinas
agrícolas na pista. Um sargento explicou-me que eu não poderia passar, pois os
produtores rurais faziam um protesto.
Poxa!
E o direito de ir-e-vir, que é garantido na Constituição federal, como fica? E
o sargento: “Meu senhor, estou cumprindo ordens”. Um fazendeiro aproximou-se,
fortalecendo a autoridade do sargento e estufando o peito: “Este movimento é
liderado pelo deputado Fulano”. Era, sim. O jeito foi voltar, seguir para
Ipameri, numa volta de cem quilômetros e noventa minutos a mais. Nem mesmo a
idade e o aspecto doentio de meu pai sensibilizou o fazendeiro – gente de
Caldas Novas, conhecido velho – e o sargento.
Como
se vê, governos têm sempre pesos e medidas diferenciados. As universidades
federais em greve, em todo o país, há mais de cem dias, são coisa inexpressiva.
Os professores precisam fazer um pacto com os caminhoneiros, os lixeiros e o
segmento policial encarregado de recolher mortos pelas ruas. Assim, talvez, a
senhora presidente se sensibilize.
***
4 comentários:
Queria ver greve de jogadores de futebol, "cantores" sertanejos, profissionais do "séquiço" e outros... Talvez a "presidenta" se sensibilizasse!
Quando nos sentimos injustiçados, é coisa sem conserto. Imagino como deve ter sido essa volta (dar a volta)numa viagem de volta levando um pai ancião e doente. Vejamos o lado positivo da resolução rápida da greve dos caminhoneiros: caso o Governo tenha aprendido,as próximas greves terão curta duração. Todas medidas com o mesmo relógio.E que assim seja.
Gostei da crônica, muito bem pensada......respondendo a sua pergunta: porque educação nesse país de "presidenta" é irrelevante.
Obrigada pela lembrança. Abraços
Texto de fôlego, Luiz. Vou repassar para meus contatos. Um abraço direto de Brasília.
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