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sábado, novembro 10, 2012

As flores, em vez de amores


As flores, em vez de amores


Uma oferta de amor à cidade
“Entre as prendas com que a natureza
alegrou este mundo onde há tanta tristeza
 a beleza das flores realça em primeiro lugar”

(Vinícius de Morais) 








Os ipês guardaram as cores, vestiram suas fardas verdes e assim ficarão até as vésperas das chuvas, ano que vem; agora é a vez de buganvílias, resedás e da festa flamejante dos flamboyants africanos que dominam as paisagens tropicais brasileiras como se estivessem em casa.

Nas ruas de Goiânia, desde os primórdios da primeira década enfeitam-nos os outubros. Encantaram os olhos de minha saudosa Cilene Andrade, filha dileta da virtuose pianista-chorona Tia Amélia, que chegou à nova capital de Goiás num outubro exuberante. O avião estacionava junto à esquina das avenidas Paranaíba e  Tocantins – esta, o caminho do aeroporto de então ao Palácio das Esmeraldas; e à noite, após uma serenata de nunca mais se esquecer, com Júlio Alencastro Veiga ao violino, na sacada do Grande Hotel, olhava a Avenida Goiás rumo ao Palácio, e novamente vislumbrava aquele caminho de flores como caprichosa alcatifa erguida do solo...
E este amarelo, jovem e belo? 
Sim! Goiânia, nesta época, engalana-se das flores de fogo; flamboyant é palavra francesa que quer dizer flamejante. Deliciei-me de documentá-los na Praça do Sol, oficialmente chamada Joaquim Edson Camargo, mas o populacho não sabe sequer que esse nome era de um importante maestro e professor (do Liceu), pai da cantora Eli Camargo. Percorri também trechos de alguns bairros, como Bueno, Pedro Ludovico, Bela Vista e todo o percurso da Avenida Goiás Norte, desde as palmeiras do trecho inicial (dividindo Crimeia Leste de Crimeia Oeste) até deparar-me com as flores alegres no Urias Magalhães, até chegar ao Campus Samambaia, da Universidade Federal de Goiás, onde a festa das chamas continua.

Pensei que escreveria um poema. Para quê? A Natureza, agência de notícias do Pai Criador, dá seu recado em imagens de alegria e escreve poemas em cada pétala, embelezando este domingo já novembro de nuvens chuvosas.
Essas flores pós ipês amarelos, rosas, roxos e brancos, que enfeitaram Goiânia em setembro, tiraram de mim toda a tristeza que me despertou mais cedo num domingo de não-pensar.


Deduzi que é melhor assim. Ninguém capaz de pensar merece sobrepor-se ao encanto da Natureza – recado solene de Deus aos homens de corações sensíveis.






* * * 

Um comentário:

Marciana Carvalho disse...

Tem razão, Aquino. Os versos de um poema podem ser escritos utilizando apenas estas flores belíssimas que Deus nos presenteou enxergar. Abçs. Marciana Carvalho