Os troféus do Elifas
Ganhei um troféu. Uma belíssima peça em barro, concebida e morfoseada pelas mãos hábeis de Elifas Modesto, que preside o Santuário da Arte e, inquieto como sempre foi, agita o marasmo que, nos últimos anos, vem marcando o segmento intelectual da cidade, num modo geral.
Digo “modo geral” porque estes anos iniciais do século mostram-nos jovens que conversam em silêncio com suas minúsculas máquinas cibernéticas, circulam discretos na multidão e poupam nossos ouvidos da algaravia que marcava a nossa juventude, especialmente a adolescência.
Deus meu, como éramos
barulhentos! E como afrontávamos os adultos com ideias conflitantes, como
debatíamos, como contestávamos! Os coroas da minha época sofreram com a minha
turba de rapazes e moças – alguns desses coroas ainda vivem e já são,
obviamente, bem velhinhos; e nós (aqueles meninos) já ostentamos cartões de
idosos para estacionar com privilégios, temos atendimento especial em bancos e
outras casas e somos chamados para falar de coisas de antigamente.
E aí vem o Elifas! Conheci-o
lá pelos meados da década de 1990, levado à sua casa pelo nosso mui querido e
saudoso Aldair Aires. Vi Elifas pintando; com que rapidez produz um quadro! Não
o vi esculpindo, mas imagino que a destreza seja a mesma. Na cabeça, por
dentro, imagino que ele tenha uma porta como essas de bancos para permitir que
algo saia para dar lugar a alguma novidade. Olho o que ele pinta, aprecio o que
ele esculpe e concluo, com ágil facilidade, que, fosse ele poeta, haveria de nos pôr diante de textos
assustadores, surpreendentes, inovadores!
Fazer o quê? Dei um laço na
gravata, cobri-me com um casaco e lá fui eu. Logo, logo fui chamado; ao lado de
Elifas alinhavam-se Beth Abreu, escritora, diretora regional do Instituto
Brasileiro de Culturas Internacionais; Getúlio Targino Lima, presidente da
Academia Goiana de Letras; Edival Lourenço, que preside a UBE de Goiás; e Aidenor Aires, o líder do
Instituto Histórico e Geográfico de Goiás.
Destaque especial para as
vozes magistrais de Goiana Vieira e Maria Eugênia – e não falo dos seus geniais
instrumentistas, o espaço é mínimo.
Em resumo: o Elifas surpreendeu-nos com aqueles troféus – primorosas estátuas da sua lavra. Nenhum dirigente de entidade cultural caprichou tanto, ofertando mimos compostos por ele próprio, um a um!
Minha devoção, caríssimo
mestre das cores e da argila! Você, Elifas, trabalhando formas, em três ou duas
dimensões, faz poesia sem palavra!
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