Páginas

sexta-feira, maio 31, 2013

Sobre o canto dos pássaros, a voz da mestra


Sobre o canto dos pássaros,
a voz da mestra



A propósito da crônica da última semana neste espaço,
recebi outro texto da professora Mara Rúbia, ensinando-me e
a todos nós um pouco mais sobre sabedoria:


Muito interessante a discussão que você levantou sobre o tema e que, com esperteza, a intitulou como – Os pássaros, o saber e o trabalho.

Como a asa é importante para o pássaro, assim é o leitor para o escritor. Portanto, a literatura para ser democrática me permite opinar acerca de seu texto. Há apenas uma parte nele que não achei tão viável ou pertinente, já que no título você evidencia os pássaros, o que, com certeza, gera boa expectativa no leitor ou pelo menos perspectiva de uma discussão positiva sobre esses seres. A parte é:  

“Não entendo como sabedoria o fato de os pássaros reagirem, sobrevivendo, às tempestades. O homem fez e faz muito mais, sempre. Não há sabedoria nos pinguins que navegam banquisas no caminho das correntes marinhas que buscam o Norte e, à medida que o gelo se reduz e some, nadam na mesma corrente em busca de regiões menos frias – isso é o instinto. É como mariposas circulando lâmpadas. Como não há sabedoria nas andorinhas que migram do rigor dos Invernos em busca dos Verões no hemisfério oposto.”

Em mim gerou uma forte sensação de crítica ou talvez de depreciação das ações dos bichos. Poderia discorrer sobre o que, então, faz os tais pássaros e outros animais agirem de forma “bonita”, “sábia”, apesar de agirem apenas por instinto...

A discussão trata tão somente de como nós e os animais agimos ante “as tempestades” da vida. Obviamente que o homem é o que pensa, portanto, o que faz, inventa, domina...


A sabedoria que levantamos sobre os mesmos é figurada e você bem entende sobre figuração – vive de literatura diária.

Em se tratando de racionalidade é claro que entre o homem e os animais aquele detém a sabedoria, pois pensa, calcula, raciocina; porém nem sempre a utiliza efetivamente. Nesse sentido, o homem é posto como esperto, inteligente, mas, às vezes, não põe em prática a sabedoria que lhe permite discernir qual o melhor caminho a seguir, a melhor atitude a adotar nos diferentes contextos que a vida lhe apresenta. Ter sabedoria por ser pensante, contudo não utilizá-la quando necessário, não define o homem como um ser que utiliza a sensatez, a ponderação, reflexão, perspicácia, tino, senso e discernimento.

Aristóteles descreve sobre a sabedoria prática, da habilidade para agir de maneira acertada, processo nem sempre utilizado pelo homem, que constantemente age de forma insensata, extravagante, estúpida...

Após o nascimento da dialética entre nós (por causa dos pássaros, não pelo saber e o trabalho), quero dizer que amei a crônica! Abraço ao escritor querido, Mara Rúbia”.


E sob esse ensinamento sábio, retiro a minha petulante contestação à sabedoria dos animais. Ao que chamamos instinto – e que falta nos faz esse instinto, tantas vezes! – e a professora Mara Rúbia diz ser sabedoria, curvo-me como mero fazedor de figuras a que apelamos com ares de poeta, quando, no fundo, recorremos a substitutivos por nos faltarem o essencial. Obrigado, de coração!


* * *

quinta-feira, maio 23, 2013

Os pássaros, o saber e o trabalho

Os pássaros, o saber e o trabalho


Recebi da professora Mara Rúbia (da Rede Municipal de Ensino, Goiânia) o seguinte texto:

“Já era quase viração do dia quando Deus observava aquela cena: duas professoras dando água na colher para uma pequenina ave. Não era nem Primavera nem Verão – quando dizem que é comum as aves jovens caírem de seus ninhos –, mas a frágil avezinha estava lá, na Escola, que não tem um belo jardim cheio de rosas. Lembrei-me – “Olhai as aves do céu”... Fiquei sensibilizada, achei aquela cena interessante e admirável - uma pequena ave, um copo com uma rosa vermelha e duas professoras alimentando quem queria se alimentar. Diferentemente do pequeno homem que na escola rejeita o alimento-saber. Quem deveria ser mais sábio? O homem ou a ave?

No livro O Futuro da Humanidade, Augusto Cury nos remete à seguinte reflexão – ‘Mais sábios que os homens são os pássaros. Enfrentam as tempestades noturnas, tombam de seus ninhos, sofrem perdas, dilaceram suas histórias. Pela manhã, tem todos os motivos para se entristecer e reclamar, mas cantam agradecendo a Deus por mais um dia’. Tanta sabedoria tem um porquê: certamente as aves aprendem em cada voo pelo mundo. E Mário Quintana dizia que os pássaros alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. Penso que pelo menos partem cheios, satisfeitos, saciados.

Imaginei como ficariam as mãos das professoras após a partida do pequeno pássaro! Não se sentiriam vazias, pois o alimento foi consumido. Naquele momento as duas foram árvores para aquele passarinho, o destino dele estava em suas mãos. Vendo aquele pequeno pássaro, fiz analogia com nossos “pássaros pequenos” que não sentem a mínima fome do saber, tampouco desejam alçar voos. Mas, como o sabiá que canta sem esperar quem o escute, ensinemos. Eis que alguém, um dia, irá voar... (Mara Rúbia)”.

Muito bem concebido, professora Mara Rúbia! A analogia é das melhores. O pássaro que as mestras alimentaram voltou à sua rotina, ao seu “habitat”, à sua natureza. Mas dar de mãos humanas o alimento ao pássaro é gesto caritativo, humano; para mim, a cena ensina (perdoe-me pele eufonia sibilante) que devemos ser solidários, mas que se o gesto cristão – ou  melhor, o gesto humano – nos emociona e engrandece quem o pratica, o beneficiário segue seu caminho já esquecido da dádiva:  a chance de voltar à vida.

Dar alimento ao animal ferido é, pois, ação humana; até mesmo outro animal da mesma espécie ignoraria a infausta ave caída. Ele, o passarinho, aceitou a água sem compreender que era alvo de uma ação humanitária, solidária. O gesto das mestras despertou em você um sentimento de Primavera ou Verão, vendo na rosa em um copo um completo jardim. O jardim, Mara Rúbia, existe mesmo, mas ele não está no rigor do Inverno nem na áspera transfiguração outonal: existe no seu coração de emoções, esse coração de que tratam os poetas.

A sabedoria não é dos pássaros, nem dos macacos, nem das minhocas ou dos leões; a sabedoria é das pessoas que compreenderam ser fundamental alimentar o animalzinho ferido, como insistem em pôr a água do conhecimento nas mentes dos pequeninos inquietos. Esse não-querer que você destacou nos pequenos humanos ante o aprendizado é efêmero e há de ser contornado; as crianças têm, sim, desejo de saber, mas o que deve estar em desencontro é que nem todos os professores querem dar dessa água aos pequeninos pássaros humanos.

Não entendo como sabedoria o fato de os pássaros reagirem, sobrevivendo, às tempestades. O homem fez e faz muito mais, sempre. Não há sabedoria nos pinguins que navegam banquisas no caminho das correntes marinhas que buscam o Norte e, à medida que o gelo se reduz a some, nadam na mesma corrente em busca de regiões menos frias – isso é o instinto. É como mariposas circulando lâmpadas. Como não há sabedoria nas andorinhas que migram do rigor dos Invernos em busca dos Verões no hemisfério oposto.

Mas quanta sabedoria no seu coração de mestra! E que olhar o seu, capaz de colher imagens que se tornam poemas!


* * *



sexta-feira, maio 17, 2013

Aos de casa, as batatas


O Beatle remanescente, em Goiânia, a 6 de maio, tietado por gafanhotos. A foto é de Dina Sousa (colhi na Internet)

Aos de casa, as batatas


Ah, a velha cantilena! Que vocação estranha é essa nossa, de alcance quase unânime no país, de ovacionar o que vem de fora e condenar ao ostracismo o que é nosso, hem? É histórico isso. Não fui ver Paul Macar… como é mesmo que se escreve? Ah!  McCartney – achei no Google. É que nunca fui chegado a idolatrar estrangeiros (aprendizado da adolescência rebelde com grande dose de consciência), salvo grandes e graves exceções, como Sabin, Gandhi, Sinatra, Armstrong, Da Vinci etc. e tal.


Amauri Garcia, talento goiano na música e na notícia
Mas, voltando ao tema, adoramos dobrar colunas  cervicais  (neste caso, deviam ser serviçal, ou servil mesmo) ao adventícios e visitantes. Lembro-me que, no final da década de 70 – há mais de 30 anos, pois – passou por aqui, com espetáculo no Estádio Serra Dourado vazio, um xou com o sugestivo nome de “Sabor bem Brasil” em que atuavam Grande Otelo, Clara Nunes, Caçulinha, Luiz Gonzaga, Valdir Azevedo, João Bosco e Altamiro Carrilho. Pois esse elenco de virtuosos da nossa música não conseguiu pôr uns poucos milhares de pessoas na plateia. Mas o ex- Beatle, ah!... Como dizia Tom Jobim: “Não vale! São quatro e falam inglês desde que nasceram”.

Dois baluartes: o poeta e crítico literário Gilberto Mendonça Teles com o cantor e compositor Pádua. Só podia ser em Pirenópolis!

A coisa se repete na esfera doméstica. Quero dizer, em Goiás, basta vir de fora para fazer sucesso.

Paro por aqui, já que a Leda Selma ameaça vir aqui, à minha casa, puxar-me as orelhas. Ela está certa: somente eu me exponho. Os “líderes” culturais da cidade, de todos os segmentos, posam, alinhados, de subservientes súditos, cabisbaixos, olhos semicerrados, sem coragem de sequer balbuciar: “O rei está nu”. Estão nus o rei e toda a sua corte, mas não serei eu, pois, quem mostrará o umbigo fosco e sujo de Sua Majestade, nem a verruga nas nádegas de alguma princesa, a fimose de algum conde ou... Sim, deixemos pra lá!


...............................................................................................

COBRANÇA

Alguns "afilhados" agiram como manda a regra de bem-viver, presenteando-me com sua obra. Aguardo o mesmo dos outros...

E é por deixar pra lá que marquei uma linha com o pontilhado. Tenho aqui, comigo, uma meia-dúzia de livros recém saídos das prensas da Editora Kelps, permutados com colegas escribas de prosa e verso. Alguns, de “afilhados”, quero dizer, de escritores amigos, a maioria estreantes, a quem mostrei o caminho, emprestei a lamparina e apontei o rumo no emaranhado de túneis. No todo, entre os 204 novos livros com o mesmo conceito de capas, indiquei pelo menos oito, nos quais escrevi prefácios e comentários para orelhas e contracapas. Fico muito feliz com isso –  a missão intransferível de orientar os que procuram rumos.

Mas, gente, nem todo “afilhado” é bem educado para, num gesto comum que equivale a bom-dia, ofertar-me seu livro – e são livros de estreia! E não é mero esquecimento, pois cobrei de cada um deles, pois, se lhes proporcionei um texto, é importante que eu tenha, em estante especial, seus exemplares publicados.

Portanto, queridos “afilhados”, ajam! O “padrinho” está enciumado – e com razão, logicamente.


* * *

  

domingo, maio 12, 2013

Falar e escrever


Não  exigir qualidade literária, mas tratamento digno para com a Língua - que, em síntese, é a nossa verdadeira pátria.

Falar e escrever


Ah, língua brasileira! Não haverá, jamais, acordo internacional capaz de propiciar ao linguajar humano uma homogeneidade, seja qual for. Alegam os defensores do famigerado acordo que a escrita, em língua castelhana, é padronizada desde a Terra do Fogo, a fronteira Sul entre o Chile e a Argentina, até as margens do Rio Grande, que separa México e EUA; e também nas ilhas oceânicas em que pisaram os naturais de Espanha.

A escrita será igual; a linguagem, não – afirmam. Sim, isso é perfeitamente compreensível, haja vista termos aprendido que as vogais têm sons abertos – a, e, i, o u –, mas, ultimamente, os coleguinhas jornalistas dos veículos falados referem-se à Avenida Ê – mas até há bem pouco tempo dizíamos Avenida E (é). Sei que há forte influência dos paulistanos e sulistas, presenças marcantes em Goiás desde o início do agronegócio; então, porque eles falam “éstra” no que entendíamos, até recentemente, como “extra” (ê)?

É certo que apreendemos e incorporamos muito do que ouvimos de nordestinos, nortistas, sulistas e cariocas, mas o sotaque de nossa herança passa, obviamente, por transformações interessantes. Está desaparecendo, por exemplo, o modo de falar das nossas cidades auríferas – Vila Boa de Goiás, Jaraguá, Meia-Ponte, Corumbá, Santa Luzia, Bonfim... quem viveu os anos que vivi (estou na segunda metade da minha década de 60) sabe que a musicalidade do falar goiano está muito diferente, agora.

Gosto de ouvir nossas palavras cortadas, abreviadas; de uma, apenas, não gosto da síncope: gueiroba em lugar de guariroba. Na escrita, alguns escribas, de livros e de jornais, substituem a bonita forma pequi por piqui, alegando a pronúncia. Ora: a gente escreve futebol e pronuncia futibol. E há quem banque o chique escrevendo – especialmente como nomes próprios – theatro em lugar de teatro. E falam “tê-atro”, em vez de tiatro, como seria o regular da nossa fala local.

“Vontá dimbora durmi”, é frase comum no falar coloquial. E responder, gritando, a um chamado com o infalível “Tô ino”, em lugar de “Estou indo” é goiano demais da conta! Mas o que mais se nota – e a frase já se espalha por todo o país, especialmente entre os entrevistados na tevê - é  “O marrapossível”. É o que respondem políticos e técnicos, delegados e coronéis, professores e populares diante dos repórteres.

Ah, os repórteres! Destes, no rádio e na tevê, ouço sempre e me divirto: “departamento pessoal” em vez de “departamento de pessoal”. O mesmo se dá quando devem dizer “corpo de delito” – o “de” é novamente omitido. E a moda, que saiu das falas dos “da imprensa”, alcança agora advogados e delegados de polícia.

Na escrita, porém, essa que foi “padronizada” pelo acordo entre os países de línguas lusófonas, o bicho pega! Mesmo profissionais que deviam saber misturam C com S, não sabem onde entra o Ç e usam X, SS e Ç como se isso fosse tão normal quanto escrever Pollyanna ou Hytallo. Ou Rhackell.

* * *


sexta-feira, maio 03, 2013

A vez dos teatros


A vez dos teatros



Gostei de saber e cuidei de divulgar imediatamente a campanha que enceta o ator Ivan Lima, fundamentado em lei municipal de São Paulo quanto à construção de teatros nos xópins. A intenção é trazer o exemplo para Goiânia – claro, no princípio de que devemos, sim, aprender e repetir o que se mostra positivo em outros pontos do país e que pode, perfeitamente, ser usado entre nós.

Trata-se de estimular a construção de casas de espetáculos, propiciando à cidade meios de aperfeiçoamento do aparelho de cultura – o que equivale dizer entretenimento e aperfeiçoamento cultural. Vejam o que escreveu Ivan Lima no Facebook:
         
         “Acorda, Goiânia: pela legislação de São Paulo, as áreas dos teatros não são computadas pela prefeitura para o cálculo da outorga onerosa, uma taxa paga ao município de acordo com a construção. Desde 1991, todos os shoppings da cidade com mais de 30 mil m² são obrigados a ter ao menos um cinema e um teatro com 250 lugares cada. Em São Paulo desde 1994 uma lei concedeu benefício fiscal aos teatros, que ficaram isentos da outorga onerosa.  Desde 2003, o benefício foi ampliado para cinemas: todo shopping com um projeto de teatro aprovado tem direito de construir um cinema na mesma proporção sem pagar. Alguns shoppings, obtiveram o benefício e hoje tem TEATROS dos mais diversos tamanhos. Acorda, Goiânia! Vamos construir teatros nos shoppings!”.

A medida há de envolver, muito especialmente, o Executivo da cidade e a Câmara Municipal. É preciso sensibilizar o prefeito e os vereadores, mas é preciso que as entidades culturais de todos os segmentos, com ênfase para os grupos de teatro e de música, as escolas de tais artes e todos os consumidores de arte da cidade e proximidades se manifestem!

A expressão é interessante – “outorga onerosa” – que vem a ser uma taxa específica (ou conjunto de taxas) de construção. Teatros e cinemas ficam isentos de tal custo (que não é dos menores), como incentivo a tais escolhas. Se dá certo em São Paulo, certamente dará certo em Goiânia. Mas, insisto, as instituições culturais de qualquer natureza precisam se manifestar. Aliás, incomoda-me – e a muitos dos que se empenham nessas causas – o silêncio inexplicável dessas instituições, sobretudo das entidades representativas culturais. Incomoda-me, e muito! E a muitos os que concordam comigo – e esses “muitos” são muito mais do que se possa imaginar – a impressão que fica é a de que alguns dirigentes cuidam apenas de seus interesses e do brilho de seus  próprios umbigos.

Por enquanto – e é este o meu propósito neste texto – quero conclamar os artistas e apreciadores de arte que se mobilizem nesta campanha de Ivan Lima.

Noutra ocasião – e tenho tempo para isso – falarei da estranha escolha de pessoas de letras em favor das embalagens de alguns, em detrimento do conteúdo dos que realmente interessam. Aguardem-me!


* * *