Coerência ou consciência
Nascer e morrer com a mesma opinião não
indica coerência, mas falta de raciocínio.
A frase ocorreu-me num diálogo no Facebook. Creio
que o cidadão comum brasileiro, como me situo, cansou-se de ser técnico da
Seleção e tornou-se, de súbito, analista de questões sociais. No caso, esse
protesto nacional por tudo, que começou ante os aumentos das passagens de
ônibus e logo surgiram vários outros temas, levando às ruas pessoas
insatisfeitas com a vida nacional e a farra com o Erário, em suas várias
versões. Uma garota, com talvez 18 anos, tinha um cartaz nas mãos, assim: “É
tanta coisa errada que não cabe num só cartaz”.
Nesta quinta-feira, 20 de junho, vesti
camiseta branca e fui pra rua! A minha última passeata fora em 1992 (poxa. lá se
vão 21 anos!). Vestia camisa preta; desfilei ao lado de estudantes jovens de
caras pintadas – era o movimento que tirou “de lá o presidente Collor. Desta
vez, saí sem a raiva daquele 7 de setembro que ligou o alarma do impeachment. Agora,
neste 2013, não me senti como na canção de Zé Ramalho – Admirável Gado Novo:
não havia um líder ao microfone a dizer-nos o que fazer ou gritar. Bem: havia,
sim, alguns carros de som, com locutores chatos que, sem se dar conta da potência
do equipamento, gritam. Mas neste evento que parou Goiânia, com mais de 60 mil
pessoas nas ruas, ninguém os seguia, alem de uns gatos pingados. Todo mundo se
manifestava guiado apenas pelo propósito de dizer aos políticos: “não estamos
satisfeitos”. E, para tanto, ostentavam cartazes os mais variados.
Nada de bandeiras; assim que chegamos lá,
Lucas (meu filho) e eu, encontramos Orfeu Maranhão, velho amigo e colega
jornalista. E logo de cara unimo-nos com os jovens ao lado (a grande maioria na
era nascida em 1992), gritamos “Sem partido!” em coro, muitas vezes, contra as bandeiras e as faixas de um
conjunto de siglas que se diziam “esquerda socialista”. Comentei: “No nosso
tempo, isso seria redundância; hoje, já não me atrevo a tentar entender”.
Juventude corajosa! As moças, muito
determinadas, chamavam os rapazes à ação: gritar, gesticular e responder com
firmeza às ameaças dos portadores de faixas dos partidos, que nos olhavam com
ódio, dois deles vociferaram ameaças e xingamentos. Respondemos à altura. Em
minutos, o grupo tirou de lá o carro de som e as bandeiras e faixas: ficou-se
mesmo “sem partido”.
Os cartazes eram de bom humor: “Que
vergonha! A passagem está mais cara que a maconha”. Ou: “Feliciano, me cura:
quero pegar sua mulher”. E gritos de guerra igualmente pitorescos, além dos
severos “Sem violência! Sem vandalismo”. Um grupo, seis garotas e dois rapazes,
gritava: “Não jogue pedra! Jogue a calcinha”.
Mas, humor à parte, quero dizer que me
senti muito orgulhoso dessa juventude de agora – aliás, são adolescentes e os
mal-entrados na juventude, nem
todos podem se dizer adultos. Quando eu e Orfeu cantávamos com eles suas cantigas
e gritos de guerra, olhavam-nos divertidos e felizes. E este tiozinho aqui, aos
67 aninhos de pura rebeldia, mais de meio século de passeatas e protestos,
felicita a geração que conseguiu postar-se na rua com firmeza, dignidade e
autoridade bastante para expurgar as bandeiras dos partidos oportunistas e pôr
a correr, com palavras de ordem e vaias, os que tentavam conturbar a marcha.
Viva a juventude de Goiás!
* * *
2 comentários:
Lindeza de crônica!!
Que bom constatar, mais uma vez, que aí dentro vive um jovem... Um poeta que eu gosto muito!!
Bom domingo!!
Bj
É preciso ter voz e manifestar toda a sua indignação, porém já vivi num país pior do que o de hoje.
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