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sábado, junho 22, 2013

Coerência ou consciência


Coerência ou consciência



Nascer e morrer com a mesma opinião não indica coerência, mas falta de raciocínio.

A frase ocorreu-me num diálogo no Facebook. Creio que o cidadão comum brasileiro, como me situo, cansou-se de ser técnico da Seleção e tornou-se, de súbito, analista de questões sociais. No caso, esse protesto nacional por tudo, que começou ante os aumentos das passagens de ônibus e logo surgiram vários outros temas, levando às ruas pessoas insatisfeitas com a vida nacional e a farra com o Erário, em suas várias versões. Uma garota, com talvez 18 anos, tinha um cartaz nas mãos, assim: “É tanta coisa errada que não cabe num só cartaz”.

Nesta quinta-feira, 20 de junho, vesti camiseta branca e fui pra rua! A minha última passeata fora em 1992 (poxa. lá se vão 21 anos!). Vestia camisa preta; desfilei ao lado de estudantes jovens de caras pintadas – era o movimento que tirou “de lá o presidente Collor. Desta vez, saí sem a raiva daquele 7 de setembro que ligou o alarma do impeachment. Agora, neste 2013, não me senti como na canção de Zé Ramalho – Admirável Gado Novo: não havia um líder ao microfone a dizer-nos o que fazer ou gritar. Bem: havia, sim, alguns carros de som, com locutores chatos que, sem se dar conta da potência do equipamento, gritam. Mas neste evento que parou Goiânia, com mais de 60 mil pessoas nas ruas, ninguém os seguia, alem de uns gatos pingados. Todo mundo se manifestava guiado apenas pelo propósito de dizer aos políticos: “não estamos satisfeitos”. E, para tanto, ostentavam cartazes os mais variados.

Nada de bandeiras; assim que chegamos lá, Lucas (meu filho) e eu, encontramos Orfeu Maranhão, velho amigo e colega jornalista. E logo de cara unimo-nos com os jovens ao lado (a grande maioria na era nascida em 1992), gritamos “Sem partido!” em coro, muitas vezes,  contra as bandeiras e as faixas de um conjunto de siglas que se diziam “esquerda socialista”. Comentei: “No nosso tempo, isso seria redundância; hoje, já não me atrevo a tentar entender”.

Juventude corajosa! As moças, muito determinadas, chamavam os rapazes à ação: gritar, gesticular e responder com firmeza às ameaças dos portadores de faixas dos partidos, que nos olhavam com ódio, dois deles vociferaram ameaças e xingamentos. Respondemos à altura. Em minutos, o grupo tirou de lá o carro de som e as bandeiras e faixas: ficou-se mesmo “sem partido”.

Os cartazes eram de bom humor: “Que vergonha! A passagem está mais cara que a maconha”. Ou: “Feliciano, me cura: quero pegar sua mulher”. E gritos de guerra igualmente pitorescos, além dos severos “Sem violência! Sem vandalismo”. Um grupo, seis garotas e dois rapazes, gritava: “Não jogue pedra! Jogue a calcinha”.

Mas, humor à parte, quero dizer que me senti muito orgulhoso dessa juventude de agora – aliás, são adolescentes e os mal-entrados na  juventude, nem todos podem se dizer adultos. Quando eu e Orfeu cantávamos com eles suas cantigas e gritos de guerra, olhavam-nos divertidos e felizes. E este tiozinho aqui, aos 67 aninhos de pura rebeldia, mais de meio século de passeatas e protestos, felicita a geração que conseguiu postar-se na rua com firmeza, dignidade e autoridade bastante para expurgar as bandeiras dos partidos oportunistas e pôr a correr, com palavras de ordem e vaias, os que tentavam conturbar a marcha.

Viva a juventude de Goiás!

* * *


2 comentários:

Wanda disse...

Lindeza de crônica!!
Que bom constatar, mais uma vez, que aí dentro vive um jovem... Um poeta que eu gosto muito!!

Bom domingo!!

Bj

Mara Narciso disse...

É preciso ter voz e manifestar toda a sua indignação, porém já vivi num país pior do que o de hoje.