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sábado, setembro 21, 2013

Obstáculos ao mestrado


Obstáculos ao mestrado



Na semana que termina, esteve em Goiás o psiquiatra e educador Augusto Cury – veio demonstrar seu projeto de educação que estimula atividades com o propósito de estimular a inteligência.

Todo mundo – pais, educadores, intelectuais e até mesmo políticos aplaudem! Mas... Bem, sou do tempo em que ter o ginasial completo já era boa referência; o colegial era luxo; o superior, uma relíquia arduamente conquistada! Era o tempo em que o cidadão, caso fosse aprovado no concurso do Banco do Brasil, interrompia os estudos – seu futuro já estava assegurado.

Poucos são os graduados do meu tempo a buscar pós-graduação; e raríssimos eram os cursos no país – o comum era correr atrás de bolsas para se aprimorar no exterior. Agora, multiplicam-se as escolas pelo Brasil afora (ou adentro); e com a inegável queda na qualidade e no conteúdo do ensino de base, todos têm que ser formados, especializados, mestres e doutores. E pensar que Nelson Rodrigues sequer concluiu o ginásio!

O poder público acena com bandeirolas de estímulos à pós graduação – mas só na teoria: conheço vários professores da rede pública que se queixam das sistemáticas negativas de diretores e subsecretários para que possam dedicar-se à conclusão de suas dissertações e teses.

Há casos em que as dificuldades vêm de cima – dos núcleos administrativos da máquina da Educação; outros são negados ou obstaculizados por diretores da unidade escolar.

Fácil de entender: quantos diretores têm títulos de mestre e/ou doutor? A eleição para diretor escolar tem dupla face: foi criada para eliminar o critério da indicação política, mas o que se vê é o mesmo que em muitos casos das eleições para conselheiros tutelares – um mero exercício de campanha e urna, pois a meta desses diretores e conselheiros é a próxima eleição municipal – no fundo, querem ser vereadores.

Pois é... no tempo da minha escolarização, professor era profissional admirado; mal pago, mas respeitado; mal pago, mas culto; mal pago, mas bem vestido (não no que se refere a grifes, mas à equivalência do traje com a dignidade profissional). Hoje, é preciso especialização, mestrado e doutorado, sim. E, ainda assim, já vi currículo de doutor com a palavra “proficional” na capa! Isso mesmo: pro-fi-cio-nal, com C em vez de SS. Não mostrei o erro, receei que o doutor colocasse cedilha.

Conheço doutores que odeiam ler; conheço mestres, autores de livros, em cujas casas não existe sequer uma estante para os livros essenciais. Ou seja: o sistema estimula o crescimento, mas este se dá na certificação sem que a equivalência aconteça. Entretanto, conheço muitos que são dignos de seus títulos e de seus estudos, pois os pecadores, felizmente, são ínfima minoria.

O mesmo, porém, não posso dizer de servidores eleitos; a própria campanha eleitoral os corrompe. A inveja os faz amargos e perversos. As autoridades investidas sabem do que se passa e, não raro, ordenam ou toleram as coisas mal-feitas, sobretudo quando o mal-feito é uma afronta à lei e um acinte ao já desgastado e sofrido professor.

Será que isso muda, gente? Um dia, talvez?


* * *

2 comentários:

beth teles disse...

Rezo para que mude, porque também vim de um tempo em que eu sonhava ser professora. Fiz magistério, depois direito e a pós. Nossa, e eu queria apenas ser professora!!!
Mas o tempo passou e o que era muito, tornou-se pouco. agora temos
"Obstáculos ao mestrado" e depois aos doutorados e assim segue a vida, meu mestre poeta e escritor.

Mara Narciso disse...

As nossas mazelas mudam de nome, mas continuam grandes. O títulos de mestre e doutor vieram substituir os títulos de nobreza, porém com maior arrogância dos detentores dos atuais títulos. Pode não resolver tudo, mas o pessoal está estudando durante mais tempo. Isso, de alguma maneira deverá reduzir a burrice geral.