A escola que
nos falta
Há alguns dias, vendo o
telejornal Bom Dia, Brasil – da TV Globo – atentei para uma análise de
Alexandre Garcia acerca da Educação que se pratica no Brasil (ou, antes, do
desinteresse com que os governos tratam a Educação, nos três níveis). A
matéria, no todo, mostrava ranchos de pau-a-pique, cobertos com palha de
palmeiras; a ausência de instalações dignas não apenas no que era a única sala
de aula, mas as moitas do mato próximo valendo de instalações sanitárias; a
indignidade dos veículos usados para o transporte escolar; o descaso geral nas
relações dos poderes públicos para com o processo da Educação e sobretudo nas
relações de trabalho do professor, coisa que se estende para todos os
profissionais do ramo, em maior e menor escala conforme se esteja em unidades
federativas mais abastadas.
O veterano jornalista chamou
a atenção para um referencial muito importante: o Brasil sequer andou perto de
ser lembrado para algum Prêmio Nobel – mas o Chile tem dois, e a nossa vizinha
Argentina, cinco! E brincou: “Cinco a zero para a Argentina”.
A presidente Dilma Roussef
anunciou, há poucos dias, o nome de Cid Gomes – engenheiro e político – para o
Ministério da Educação. Aqui, abro um parêntese: raríssimas vezes tivemos um
educador na Pasta da Educação. Ao tempo em que se chamava Ministério da
Educação e Saúde, os médicos detinham a primazia na escolha – para o ministério
e para as secretarias estaduais. E desde a separação, o cargo é dado a
políticos, tal como agora se repete.
Contudo, Cid Gomes anunciou
uma medida interessante: a realização de um exame nacional para professores,
nos moldes do ENEM ou do ENAD. Segundo ele, o propósito não é demitir ninguém,
afastar ninguém; o que se quer é avaliar o professorado e, assim, promover
medidas de melhoria na qualidade profissional.
Nas muitas décadas desde quando alguns dedos engessados
apontaram-me e conseguiram afastar-me do magistério, passei a freqüentar as
escolas básicas para falar de literatura e cidadania com estudantes e
professores. Assim, busquei manter-me informado sobre o andamento e as andanças
do ambiente escolar; assisti, a uma distância próxima, à decadência do ensino
(fala-se muito que a escola privada é muito superior à pública; o que sinto é
que a rede particular não evoluiu, apenas a pública decaiu, pois os políticos
tiraram seus filhos da rede pública).
Em suma: a designação de um
político para a Educação repete o desinteresse. Existe uma diferença abismal
entre professores educadores (os que se formam para isso em cursos de Pedagogia
e Licenciatura) e os professores universitários (a rigor, mestres de ofícios
vários, sem formação pedagógica). O órgão máximo da Educação nacional deveria
ser regido por um educador cercado de educadores. O ex-ministro Cristóvão
Buarque sugeriu que o Ministério da Educação cuidasse da educação básica e que
o ensino superior se atrelasse a outra pasta – a da Ciência e Tecnologia; esta
seria, sim, uma medida expressiva no rumo do aprimoramento da causa
educacional.
A este tempo, há que se
voltar com maior atenção à formação academicista na escola de base. A
proliferação do entretenimento de má qualidade – como o que se faz na música
brasileira, nivelada por baixo com artistas de pouca formação tanto na
elaboração das melodias quanto na concepção das poemas-canções que se acasalam
para o resultado canto e instrumental – é responsável, também, pela queda do
nosso padrão escolar.
Não basta, pois, generalizar
as escolas de tempo integral. É indispensável que se trabalhe uma valorização
vertical da qualidade do que se ensina, com a larga prática da atividade
artística acasalada com currículos melhor elaborados.
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