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quinta-feira, abril 17, 2014

Petrobrás, Garcia Marques e o prefeito xenófobo

Sempre há muito o que se se ler, ainda. Ou reler. Adeus, Gabo!
Poucas horas após redigir esta crônica, enviá-lo ao DM e postá-la neste blog, ouvi a notícia do falecimento de Gabriel Garcia Marques, de quem desfrutei de maravilhosos textos de ficção e depoimentos. A Literatura Mundial, realmente, está de luto, mas expresso a minha prece a Deus, em graças por tê-lo cedido à Humanidade nestes anos da minha anônima existência. Amém! L.deA.

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Petrobrás, Garcia Marques e
 o prefeito xenófobo


Notícia triste, ainda que inevitável: Gabriel Garcia Marques, o grande escritor colombiano, prêmio Nobel de Literatura pelo romance Cem Anos de Solidão (prefiro O Amor nos Tempos do Cólera) está com câncer. Mais detalhadamente: tem metástase, quer dizer, os tumores já se espalham. A notícia está nos veículos impressos e obviamente na mais moderna das mídias – a Internet.

Ao dizer, acima, que a notícia é triste, ainda que inevitável, denuncio dramas do ofício jornalístico – esta obrigação diária das  más notícias, quando o bom seria haver mais foco nas boas-novas.


Tristes, também, essas que envolvem a Petrobrás (com acento, que sou nacionalista, uai!). Graça Foster, com todos os erros de um português ruim, desmitificou a fábula de que comprar uma sucata por quase quatro vezes o seu valor real seria um bom negócio. Nisso, deixou a mancha da mentira sobre quem divulgou que o preço original da tal refinaria de Pasadena (que os globais chamam de “Passadina”) valia apenas 42, 5 milhões de dólares.

O valor real da tal refinaria era de 360 milhões de dólares.

E aí veio o que nos parecia, antes, ser o pivô de toda a história, o diretor Nestor Cerveró, a esclarecer o que foi divulgado como obscuro: todo o processo foi exaustivamente estudado, esmiuçado, envolveu o seu próprio grupo de trabalho e até mesmo uma empresa de consultoria norte-americana; o negócio poderia não ter sido “um bom negócio”, em termos, mas foi um negócio regular, segundo o parecer obtido e encaminhado ao Conselho presidido pela (na época) ministra Dilma Rousseff.


Cerveró, assim, deixa de ser vilão para se tornar boi-de-piranha. E o que fica é a impressão de que o Conselho, como é comum em tais Conselhos, funciona com uma pessoa (seu presidente, ou seu presidente e uma assessoria técnica) que “examina” um processo, expõe aos seus pares o que leu e/ou concluiu e aguarda votos; e os pares votam apoiando o que manifesta aquele que expôs o caso.

Em meio a isso, a notícia de que o prefeito da pequenina e ótima cidade de Carlos Barbosa, no Rio Grande do Sul, prefere substituir as comemorações de sua excelente performance na avaliação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) por uma advertência – é preciso evitar que baianos e goianos invadam nossa cidade e a fome apareça.

Pegou mal, hem? Vi no DM, vi no Facebook, botei a boca no trombone, contei que aqui acolhemos bem a gauchada que migra para todo o Brasil, que destrói nosso cerrado para plantar eucalipto, soja e cana e nós os aceitamos bem; mas somos rechaçados (como eu próprio ouvi de um gaúcho, há alguns anos, que “de São Paulo pra cima é tudo nordestino, uma raça que não trabalha enquanto a gente aqui se mata para sustentar toda aquela cambada”. Entendi ver no prefeito palrador o mesmo pensamento e fui cortado da lista de amigos de uma poetisa de Porto Alegre, que me acusou de nivelar-me a ele, quando ela, sim, referenda o pensamento xenófobo (sim: alguns gaúchos pensam que somos todos estrangeiros).

Enfim, ao apreciar o “affaire” da vez na Petrobrás, repito a sensação que vivi em 1979, quando os exilados puderam voltar à pátria: nossos ídolos têm pés de barro! Descobrir isso é como depurar nossos sentimentos. É o mesmo que ver afastar-se alguém que tivemos por amigo.

É que desfazer uma amizade que sequer poderia ser considerada assim dá-me a mesma alegria da conquista de um novo amigo. A gente sempre quer se cercar do que nos parece melhor.


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5 comentários:

Ludovina Braga Machado disse...

Li sua crônica. Muito boa como sempre. Com Gabriel Garcia Marques aprendi muito lendo suas obras, especialmente com "Cem anos de solidão", os problemas que arranjaram para a Petrobrás deixam qualquer brasileiro indignado e eu não fujo a regra. Com relação a esse "prefeitinho", deixou passar uma ótima oportunidade de ficar calado, esse cretino. A você meu amigo jornalista meus aplausos.

Luiz de Aquino disse...

Ludovina Braga Machado, obrigado pelo comentário solidário. Uma gaúcha removeu-me de sua lista de "amigos" no face e eu a bloqueei, claro; e ela exigiu mais, que eu apagasse seu e-mail, o que fiz com grande alegria. Isso significa um pouco mais: eles, os separatistas, odeiam-nos de fato e odeiam ainda mais que demostramos nossa indignação. Mas não me calarão batendo o pé ou as bravatas daquelas três facas...

Mara Narciso disse...

Amigos arrepiam-se quando falo o que preciso. Taxam-me de louca. Sem loucos estaríamos nas cavernas no século XXI. Os conformados não saem do lugar. É preciso de gente como Gabriel Garcia Marques,para tomar posições determinantes, outros que esmiúçam documentos e encontram os culpados por jogar fora nosso dinheiro, e é indispensável também expurgar os xenófobos e excluir com pompa e circunstância a lista de contatos virtuais, na qual há aqueles que não têm nada em comum com a gente. Apenas desapreço. Já vão tarde de um lugar que nunca deveriam ter entrado.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lucelena de Freitas disse...

Voltei, e li sua crônica. Tenho um orgulho imenso por ser brasileira, paulista e filha de nordestinos. Lamento profundamente que em nossa terra que acolhe e acolheu tantas raças, tantos povos hajam pessoas que não conhecem o Brasil e nem os seus irmãos brasileiros. Aliás em um país tão grande, de dimensões continentais acredito que não seja possível conhecer a história e a cultura de cada estado e portanto creio que não nos cabe o direito de julgar ou medir um povo. Só me resta unir-me à sua indignação.