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sexta-feira, agosto 29, 2014

Harlen Maria, escritora


Harlen Maria, escritora


Na noite de 22 de agosto, sexta-feira, o espaço cultural da Vila São Cotolengo, em Trindade, enfeitou-se alegria: uma escritora, que em tempos de antes valeu-se daquela instituição, escolheu a tradicional casas de caridade para sua estreia como escritora. E reuniu ali expressivas pessoas de sua própria vida – como o padre Everson e a fonoaudióloga Geana Alves Tomás, além da psicóloga Maria Luiza de Carvalho.

O livro é apenas o primeiro, pois a autora cuida, já, da redação do próximo. Este é “Harlen – Autobiografia de uma jovem movida pela fé”. Harlen tem hoje 34 anos (não considerem isso uma inconfidência de minha parte, pois no livro ela dá sua data de nascimento); pouco após completar 15, ela, que era modelo e estava de viagem marcada para os primeiros compromissos no exterior, cometeu algo determinante: um mergulho em água rasa.

O resumo é porque não pretendo copiar seu livro nem antecipar informações e emoções a que o leitor tem direito. Quero contar apenas que revivi, na solenidade de lançamento desse livro, a emoção que, há poucos anos, Harlen despertou em mim ao contar de sua trajetória desde o acidente até o tratamento na Vila São Cotolengo. Ela fraturou, naquele fatídico mergulho, três vértebras na altura do pescoço, resultando em tetraplegia. Vieram-lhe a depressão, o desânimo, uma frustração indescritível – aquilo a que, popularmente, chamamos de “entregar os pontos”.

Se a dor daquela adolescente resultava nisso, imagino o que viveu sua mãe (pouco após essa tragédia, outra sacudiria a família: seu irmão mais velho faleceu num acidente rodoviário). E Harlen preferiu, em vez de se tratar, numa jornada que demandaria anos e muitas cirurgias, recolher-se à fazenda; e ali, prostrada na cama, inclinada, diante de uma janela, visava a paisagem e os movimentos de seu outro irmão na lida.

Nasceu um bezerro e Harlen distraía-se com a novidade. E o rebento tinha as extremidades das patas retorcidas, “feito minhas mãos”, contou-me ela, quando a conheci. A vaca caminhou uns poucos passos e se deitou; mas o bezerro não conseguiu levantar-se; impulsionado pelo instinto, arrastou-se até as tetas da mãe e sorveu o colostro.

O irmão de Harlen olhou para ela e determinou: “Você viu, né? Ele se virou e foi atrás, mas você fica aí, sem fazer nada!”. Ela recorda que aquilo “foi como um tapa na cara”. Chamou a mãe e disse-se disposta ao tratamento.

Fé, determinação e paciência. E Harlen, aos poucos, conquistou seu lugar na vida e ganhou auto-estima, devolveu à mãe – à família, enfim – um pouco da felicidade perdida. Trabalha como consultora de beleza, cursou Teologia, é palestrante (excelente motivadora, com seu exemplo) e escritora. 

Bem: este espaço é limitado. Voltarei ao assunto em breve. Um beijo, Harlen, enquanto aguardamos o próximo livro!

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sexta-feira, agosto 22, 2014

Guardar a língua ou morrer por ela

Guardar a língua ou
 morrer por ela


Diziam os “mais velhos” dos tempos de eu menino que “o peixe morre é pela boca”. Era o tempo em que as mães e as mestras nos ensinavam coisas a partir de provérbios. Coisa boa: eu vejo naquela prática o uso popular da literatura oralizada, pois os provérbios são passados pelas gerações. Naquele tempo em que se estudava Latim, descobri que provérbios vinham da antiga Roma dos Césares.

Infelizmente, alguns sujeitos da minha época decoraram para as provas mas não aprenderam para a vida. Refiro-me ao sexagenário que, travestido de senador da República mesmo sem votos, apresenta uma proposta surpreendente:  a de eliminar o H do alfabeto na escrita nacional.

O Brasil bancou um acordo ortográfico que sofre graves resistências nos demais países lusófonos (não vou esclarecer a palavra; os leitores que vão a dicionários ou perguntem aos vizinhos, pois pesquisar e discutir são práticas saudáveis). Até agora, o benefício só apareceu na indústria livresca brasileira, que gastou milhares de toneladas de papel, a um custo ambiental que assusta Marina Silva; Portugal e as nações africanas da mesma língua desprezam tal acordo.

Agora vem a nota mais triste, meus conterrâneos! O senador “representa” Goiás no Senado! E é preciso dizer que nós, goianos, letrados ou medianamente escolarizados, ou mesmo de poucas letras e ainda analfabetos, não temos culpa do que fez esse senhor!

Destaque: discuti o tema em duas ou três páginas do Facebook. Não existe, no nosso pequeno universo de leitores, escritores ou pessoas de bom papo, absolutamente ninguém que concorde com a estranha idéia. Um jornalista, amigo muito querido, aventou se a coisa não teria passado pelo deputado Tiririca; respondi-lhe que não, que o palhaço deputado é sábio o bastante para evitar uma idiotice de tal teor.

E já que falamos de políticos (?) despreparados, a outra historinha de hoje vem de uma também amiga de conversas no Facebook. A moça é uma trabalhadora exemplar: gari no interior de Goiás e, na mesma localidade, vende comida na feira, em fins de semana. Tem que trabalhar muito, afinal tem quatro filhos entre crianças e adolescentes e não tem ajuda. A duras penas, e acreditando certamente, também, em ditos dos mais velhos, dedicou-se a estudar.

A duras penas, como sempre, formou-se Pedagoga há poucos meses. Imaginem a delícia de uma alegria assim! Com tanto sacrifício e vencendo obstáculos de toda natureza, ela – uma bela mulata que o politicamente correto quer apelidar de afro-descendente – tem agora um diploma, conquistado com o esforço mental de seu aprendizado e o desgaste físico do trabalho árduo.

Pois bem: a primeira-dama de sua cidade formou-se, parece-me que também há pouco, em Serviço Social. Encarregada da ação social pelo marido prefeito, essa senhora de linhos e jóias comentou com a moça que precisa de uma auxiliar dedicada; a jovem pedagoga, sabendo do que se tratava, ofereceu-se, pois julga-se capaz. A primeira-dama subiu nas tamancas! Perguntou se a colega pedagoga (que ela não ouça dizer que são colegas) “não se enxerga, não tem espelho?”.

Minha amiga pôs-se a chorar. Eu teria gastado grande parte do meu rico vocabulário de baixo calão e de idéias afins; eu perguntaria se ela também não se olharia no espelho, pois apesar de sua elevadíssima auto-estima, o maridão poderoso deve nivelá-la por baixo quando freqüenta os bordéis noutras plagas (sei lá se isso acontece; mas, só para ofender, eu teria dito). Não bastasse isso, alguém puxa-saco do poder comentou com a minha amiga: “É isso aí, você fica muito melhor na vassoura do que na sala de aula”.

Pensei: o DNA dessa primeira-dama é o mesmo do senador? Ah, deve ser...

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sexta-feira, agosto 15, 2014

Esta crônica faz 10 anos! (O que se diz)

Esta crônica faz 10 anos!

Remexer velhos papéis ou, neste caso, fuçar nos velhos arquivos do computador – prática boa que me enleva porque, ao reler velhos textos, viajo no meu próprio passado e recordo muita coisa. Aqui, cito pessoas queridas que mal tenho visto, ultimamente – afinal, esta é uma crônica escrita em 17 de agosto de 2004 – há dez anos, pois! E publicada logo após. Agora, é revivê-la! L.deA.




O que se diz


Comprei os dois livrinhos na rodoviária da Praça Mauá (em frente ao cais do porto), disposto a lê-los na viagem (era 1962) a Brasília, 24 horas dentro do ônibus. Os livros: “Criança diz cada uma” e “Histórias de rir, de sentir, de pensar...”, ambos do mesmo autor, Pedro Bloch – médico pediatra e fonoaudiologista; jornalista; dramaturgo... Um montão de coisa, o Pedro Bloch; um desses a quem a gente nunca fica constrangido ao chamar, solenemente, de Doutor (assim mesmo, com todas as letras e inicial maiúscula, porque ele merece). Para um adolescente de hoje, talvez a leitura não faça sentido; mas, para os do meu tempo, além de alguma atividade física como futebol, praia, beira de córrego e similares, ler era mais importante que ver tevê, que estudar e que ir ao cinema.

O mérito de Pedro Bloch ao montar esses livros foi o de selecionar histórias que nos fazem rir, sentir e pensar. E isso é bom demais, gente! No fundo, o que ouvimos é a maior parte do que nos alegra ou nos entristece; do que nos ensina; do que, enfim, nos faz crescer. Gosto de uma roda de conversa fiada – mas com pessoas inteligentes. E a inteligência, a gente sabe, independe da escolaridade ou da pose do sujeito.

Por isso lamentei o fechamento do Bardella; por isso gosto da Mercearia Serve Sul; por isso gosto de estar com pessoas de boas tiradas (meu neto Luiz Henrique, meu filho Lucas; e, entre os adultos, Xinin, o delegado Marcelinho Pão-e-Vinho e o irascível Jorge Braga (quando está de bom humor), o Tuti, o Fleuri Viegas e muitos outros mais).

Dia desses, no Sítio da Pá Virada – que é como o Braga chama seu “lotifúndio” em Bela Vista – fiquei observando o anfitrião preguiçosamente posado na rede, olhando para a silhueta de um pinheiro muito esguio. Aliás, lá tudo é esguio, a começar do dono e do Mestre Cuca, o Beludo, passando ainda pelo cavalo apelidado de Promota (gorda e forte, só a vaca Rachel). Perguntei se estava preocupado com alguma coisa.

– Estou, sim, respondeu o JB – tá vendo esse pinheiro? (sim, eu estava). É o Sales. Pinheiro Sales. Assim que o sol parar de lamber as galhas dele eu tomo minha cerveja; aprendi com o João Bênio que a gente não bebe durante o dia.

Ora, ora... Achei muito apropriada a homenagem. Primeiro, pela aparência do pinheiro, que lembra, efetivamente, seu xará o Sales; depois pelo que ele significa, controlando o copo do irrequieto cartunista.

Outra frase que me fez rir foi dita por uma amiga (não conto o nome por razões óbvias). Ao cumprimentá-la, um amigo acariciou-lhe o rosto com ambas as mãos. A moça, divorciada há dois anos, teve uma reação engraçada: ficou séria, com voz temerosa e lhe pediu: “Faz assim não...”. O amigo, meio sem-graça, perguntou: “Faz mal?”, e ela, súbita:

– Não... Faz tempo.



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domingo, agosto 10, 2014

O voto e o apreço

O voto e o apreço

Publiquei no espaço que ocupo no Facebook, há poucos dias, um apelo: que não me enviem “santinhos” de candidatos, pois já tenho a minha chapa montada. E preciso esclarecer: reservo-me o dever de buscar informações e consolidá-las para proceder às escolhas que o caso exige.

Jamais pedi votos para os meus candidatos – porque costumo respeitar o poder de escolha de cada um. Meus filhos e irmãos, toda a minha família, sabem bem dos meus princípios, nunca tentei impor nada a ninguém, dou-lhes plenas condições de se informar e, uma vez informados, tomar suas decisões.

Quando votei pela primeira vez, o golpe militar estava instalado. A pressão estava generalizada (sem trocadilhos), com perseguições, prisões e as inevitáveis e sempre muito imaginativas delações.

Sob esse clima, toda uma geração, hoje próxima dos 70 anos, para mais e para menos, se desenvolveu – ou se deu mal, conforme cada caso. Dentre os que se deram mal, incluo os que ficaram ricos com os beneplácitos que o “poder” oferece. E bem-aventurados, para mim, são os que venceram as intransigências e, hoje, realizam algo de positivo para a comunidade – filhos e netos das vítimas e dos algozes daquele tempo.

Naqueles primeiros anos, éramos jovens estudantes. Muitos militando no movimento estudantil, sem penduricalhos com os partidos oficiais. Até hoje tenho uma certa resistência quanto ao envolvimento do movimento estudantil com partidos legalizados, pois partidos em campanha expõem-se em demasia, realizando alianças para mim inexplicáveis.

Poderia lembrar aqui os nossos artifícios para escapar dos delatores, da vigilância do aparelho de repressão, dos diretores e professores fidelizados com o sistema, mas estou atento, nestas semanas daqui até 5 de outubro, ao processo das campanhas. Desde muito antes, e por apreciar as mudanças para melhor no sistema de Saúde do Estado, enxerguei no Dr. Antônio Faleiros um candidato digno do meu voto – uma gota d’água no oceano das urnas, mas é o meu ato de escolha, digno da minha condição de cidadão.

Sempre agi assim. Nem sempre fui feliz – e já gastei este espaço das minhas crônicas para declarar inutilizado, pelo candidato por mim sufragado, o voto dado com confiança. Umas poucas vezes, mas houve, sim! No primeiro caso, era um governador que, na megalomania de seu primeiro mandato, traía os votos conscientes e declarava que trocava de boa vontade o voto de um “ doutor” (pessoa letrada, na gíria dele) por mil votos das “pessoas humildes”, porque com o mesmo esforço ele conseguiria, sim, mil votos na periferia e não podia confiar plenamente no voto de alguém “que se diz consciente”.

Ao escolher Faleiros, baseei-me num passado que remonta a 1987, o ano em que Henrique Santillo foi empossado governador e nomeou o jovem médico mineiro Secretário de Estado da Saúde. Foi ele quem criou o SUDS (Sistema Unificado Descentralizado de Saúde), instituição que antecede (certamente, foi o exemplo que possibilitou a nova iniciativa) ao SUS (Sistema Único de Saúde), o maior plano de saúde gratuito de todo o mundo!

Não bastasse isso, do passado, Antônio Faleiros, outra vez secretário de Estado da Saúde, adotou nos hospitais e outras unidades de saúde do sistema estadual a Gestão Inteligente, pelas organizações sociais. Os resultados são visíveis e indiscutíveis, com o público usuário (pacientes e seus familiares) aprovando as novas medidas em 90%. Hoje, a gestão dos bens de saúde é altamente positiva, e os procedimentos profissionais ganharam a condição de “relações humanizadas”, quanto ao atendimento.

O que se tem hoje é um modo digno de se tratar a Saúde Pública. A criação da Rede Hugo (Hospitais de Urgências de Goiás), dos Credeq (Centros de Referência e Excelência em Dependência Química), os AME (Ambulatórios Médicos de Especialidades) e, na continuidade, os Consórcios Intermunicipais de Saúde, do que resultará atendimento mais ágil, próximo e eficaz, reduzindo o fluxo de ambulâncias e demanda médica e laboratorial na capital do Estado.
Resumindo: ao escolher Antônio Faleiros para secretário, o governador Marconi Perillo apostou na eficiência que conhecemos no quatriênio de Henrique Santillo – e apostou com segurança, pois obteve ainda maiores resultados neste governo do que naquele, ainda que se considerem todas as circunstâncias das duas épocas. E este meu voto, de valor numérico talvez insignificante, é a minha expressão consciente de que escolho, sim, o melhor.

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sábado, agosto 02, 2014

Diálogo versejado (com Christina Herrmann)


Diálogo versejado (Dueto com Chris Herrmann)




DUSSELDORF(Chris)

O espelho diz-me sorridente
Da poesia doce e veemente
Que tu trazes no peito
Refletindo-o direito
Tua face contente
Sob o céu quente
Saudade mente
Dor mente
Do seu
Dorf
Dor
D+




ALÉM DO ESPELHO
(Luiz)
Li além do espelho; não me iludiu
o reflexo, o reverso: e o poema
escrito no peito, era feio,
era torto e imperfeito.
Era eu o poema, era
meu o peito e era
eu quem mentia
e escondia
aonde ia
a luz,
o dia.


Esse diálogo, improvisado por mim, se deu em dezembro de 2006. A poetisa brasileira Christina Herrmann, moradora em Dusseldorf, poetizou sua cidade alemã; gostei do que li e respondi-lhe com o texto assemelhado em tempo e métrica.

Hoje, pesquisando uma palavra nos meus guardados, deparei-me com o exercício lúdico de poesia e, na emoção de desejar o reencontro, publico nossos versos (revivendo, na lembrança, um sarau em Ipanema, no Rio de Janeiro, no decurso de 2007, quando trocamos versos sonoros com a mesma parceria da criação de “Dusseldorf” e “Além do Espelho”.

Beijos, Chris Herrmann!

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