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sexta-feira, dezembro 26, 2014

A escola que nos falta



A escola que nos falta



Há alguns dias, vendo o telejornal Bom Dia, Brasil – da TV Globo – atentei para uma análise de Alexandre Garcia acerca da Educação que se pratica no Brasil (ou, antes, do desinteresse com que os governos tratam a Educação, nos três níveis). A matéria, no todo, mostrava ranchos de pau-a-pique, cobertos com palha de palmeiras; a ausência de instalações dignas não apenas no que era a única sala de aula, mas as moitas do mato próximo valendo de instalações sanitárias; a indignidade dos veículos usados para o transporte escolar; o descaso geral nas relações dos poderes públicos para com o processo da Educação e sobretudo nas relações de trabalho do professor, coisa que se estende para todos os profissionais do ramo, em maior e menor escala conforme se esteja em unidades federativas mais abastadas.

O veterano jornalista chamou a atenção para um referencial muito importante: o Brasil sequer andou perto de ser lembrado para algum Prêmio Nobel – mas o Chile tem dois, e a nossa vizinha Argentina, cinco! E brincou: “Cinco a zero para a Argentina”.

A presidente Dilma Roussef anunciou, há poucos dias, o nome de Cid Gomes – engenheiro e político – para o Ministério da Educação. Aqui, abro um parêntese: raríssimas vezes tivemos um educador na Pasta da Educação. Ao tempo em que se chamava Ministério da Educação e Saúde, os médicos detinham a primazia na escolha – para o ministério e para as secretarias estaduais. E desde a separação, o cargo é dado a políticos, tal como agora se repete.

Contudo, Cid Gomes anunciou uma medida interessante: a realização de um exame nacional para professores, nos moldes do ENEM ou do ENAD. Segundo ele, o propósito não é demitir ninguém, afastar ninguém; o que se quer é avaliar o professorado e, assim, promover medidas de melhoria na qualidade profissional.
 Nas muitas décadas desde quando alguns dedos engessados apontaram-me e conseguiram afastar-me do magistério, passei a freqüentar as escolas básicas para falar de literatura e cidadania com estudantes e professores. Assim, busquei manter-me informado sobre o andamento e as andanças do ambiente escolar; assisti, a uma distância próxima, à decadência do ensino (fala-se muito que a escola privada é muito superior à pública; o que sinto é que a rede particular não evoluiu, apenas a pública decaiu, pois os políticos tiraram seus filhos da rede pública).

Em suma: a designação de um político para a Educação repete o desinteresse. Existe uma diferença abismal entre professores educadores (os que se formam para isso em cursos de Pedagogia e Licenciatura) e os professores universitários (a rigor, mestres de ofícios vários, sem formação pedagógica). O órgão máximo da Educação nacional deveria ser regido por um educador cercado de educadores. O ex-ministro Cristóvão Buarque sugeriu que o Ministério da Educação cuidasse da educação básica e que o ensino superior se atrelasse a outra pasta – a da Ciência e Tecnologia; esta seria, sim, uma medida expressiva no rumo do aprimoramento da causa educacional.

A este tempo, há que se voltar com maior atenção à formação academicista na escola de base. A proliferação do entretenimento de má qualidade – como o que se faz na música brasileira, nivelada por baixo com artistas de pouca formação tanto na elaboração das melodias quanto na concepção das poemas-canções que se acasalam para o resultado canto e instrumental – é responsável, também, pela queda do nosso padrão escolar.

Não basta, pois, generalizar as escolas de tempo integral. É indispensável que se trabalhe uma valorização vertical da qualidade do que se ensina, com a larga prática da atividade artística acasalada com currículos melhor elaborados.

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sábado, dezembro 20, 2014

Política e negócios. E Língua

Política e negócios. E Língua


Esta semana, ouvi no rádio uma palavra nova: “economicidade”. Fui pesquisar e achei-a no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras. Como está lá, também, “empregabilidade”. E como o meio nacional dos negócios usa esses termos! Muitos neologismos, às vezes, outras vezes expressões em desuso que alguém descobre em textos antigos, sei lá!

Uma novidade que me incomoda mesmo é “empreendedorismo”. Associo-a a outros substantivos do mesmo formato e sou conduzido a pensar que a palavra deveria ser “empreenderismo”, já que trata da ação de empreender. Mas fazer o quê? Não sei de onde partiu – foi coisa muito recente – aquilo de substituir “jogos para-olímpicos” por “jogos paralímpicos”. Pelo pouco que conheço da Língua, esta “última flor do Lácio inculta e bela”, a fusão do “a” final de “para” (a sugerir paralelismo) com a inicial “o” de “olímpico” deveria eliminar o “a”, ficando “parolímpico”, e não essa maluquice de “paralímpico”.

Se foi invenção de coleguinhas da área de esporte, danou-se! É que não se fazem mais jornalistas como antigamente: os chamados “cronistas esportivos” do passado sempre me pareceram mais cultos. Aliás, a regra se aplica a vários segmentos profissionais, infelizmente. Como bem analisou Alexandre Garcia, recentemente, é por conta da péssima qualidade da Educação no Brasil que nunca conquistamos um Prêmio Nobel (o Chile tem dois; a Argentina, cinco!).

Se seguirmos o raciocínio que pode ter norteado quem inventou isso de “paralímpico”, é provável que chamemos a próxima edição dos milenares torneios gregos de “Jogos Límpicos”. Os seguidores de Galvão Bueno devem deliciar-se com essas bobagens.

Na linha dessa permissividade calcada nas falhas do nosso sistema educacional, chegamos ao meio político: o deputado petista que relatou os trabalhos da CPMI da Petrobrás apontou mais de 50 pessoas para serem processadas, por sua sugestão; mas isentou todos os políticos envolvidos nos trambiques!

Ora... O segmento dos negócios anda praticando cursos de capacitação como jamais se fez na história deste país! Eu mesmo, induzido por alguns amigos, fui cursar quase cem horas de treinamento para me tornar “Coach” – coisa que está na moda, gente! É interessante, sim, mas é incrível notar o quanto os “treinees” são desinteressados quanto ao verniz das coisas da cultura. Aliás, cultura para eles limita-se apenas aos comportamentos setoriais. Esse meio tem a mania de “inglesar” suas falas. Assim, eles não falam em caso quando querem exemplificar algo – eles dizem “case” (a pronúncia é “queise”). Não param para um lanchezinho (lanche é uma boa palavra inglesa bem aportuguesada; até parece palavra nossa), mas realizam um “coffee break”. Eu, hem?

São as falácias na Língua Portuguesa, causadas pelo despreparo dos que se acham muito sabidos – afinal, eles integram o segmento mais bem pago. Falar bem para quê? E esse comportamento (ou “cultura”) é o mesmo dos políticos que sofismam em seus discursos e relatórios, agindo e propondo medidas que satisfaçam o poder maior ou seus partidos – verdadeiros bastiões de blindagem eficaz, desde que o sujeito se mostre mais fiel que os cãezinhos de suas escolhas.

E arremato com o nosso modo goiano de demonstrar insatisfação: 

– Ah, nem!


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domingo, dezembro 14, 2014

Negócio de poesia


Encontro de muitos amigos, festa para não esquecer, sob os auspícios da EBM. 

Negócio de poesia


Escrevo para formalizar a gratidão. Para chegar a este novo livro,  Poesia Completa, vali-me de toda a minha vida de vivências (aprendizados e experiências; umas felizes, outras amargas, que a doçura se dá num momento ou não chega a tempo, ainda que muito desejada). Afinal, revisei cada poema dos que publiquei em 11 títulos anteriores, num total de 14 livros (pois que em dois deles agrupei respectivamente três e dois livros: Sarau e De Amor e Pele).
Presença ilustre de Amaury Meneses, artista plástico. Obrigado, meu Mestre!
Tudo começou com aquilo de cantar em serenatas, já aos quatro anos de idade, acompanhando meu pai; tinha, já naquela época, o gosto de dormir ouvindo minha mãe em leituras de um livro chamado Histórias da Carochinha. Depois veio a escola e os gibis; depois, a descoberta da poesia – algo parecido com as canções, mas sem melodia.

Com Danilo Verano, Amauri Garcia, Thiago Blazissa e Júnior.
E veio o curso ginasial, o estímulo do professor J. G. de Araújo Jorge; o convívio com poetas na minha turma de colegial, no Clássico do Liceu de Goiânia. E mais tanta coisa boa! Até que José, Waldeci e Antônio Almeida, os Irmãos Kelps, liberaram-me em volume este livro, que contou com a paciência e a competência de Sandra Rosa e Tatiana. E a visão artística da Cacau, a minha querida Anna Carolina Cruz, filha da Wanessa Cruz (da Arte Plena), que ciceroneou-me em contatos mil.
E houve também o Iúri Rincon Godinho, e ainda a Jô Sampaio, que assinam apresentação e prefácio do autor e da obra. E o Júnior, que cuida de projetos. E o Danilo com seu trio.
Os filhos Lucas, Léo, Fernando e Élia Maria. E o neto Gabriel
Wanessa acertou com a Marília, do Espaço EBM – uma dessas construtoras que vêm modernizando ainda mais esta moderna Goiânia de tanta riqueza arquitetônica. Atrás desse conceito, o das construções (Cacau, a minha parceira de capa, prepara-se para a formatura em Arquitetura), temos toda a engenharia, os processos legais e formais da gestão urbana, a geração de empregos que mobiliza um exército de técnicos e operários. Isso me alegra! É a atividade humana em (r)evolução.
Com os acadêmicos Miguel Jorge e Moema de Castro e Silva Olival, da AGL.

A acolhida surpreendeu-me! Pessoas talentosas em seus afazeres vários, mas saltou-me aos olhos e sentidos a alta capacidade de relação – aquilo que, nos anos dourados, diziam ser “fino trato”. Senti isso nos comentários dos amigos aos quais a área de contatos da empresa telefonou finalizando o convite.

Só posso agradecer, de coração e de lágrimas (sim, sou emotivo e não faço reserva disso). Sem vocês, Marília e equipe, a minha festa não teria tanto brilho.

Eu e o cartunista JLima (Arteiro Geral)
Ah! Resta ainda dizer que, feito uma homenagem, inseri na folha de guarda do livro  caricaturas e retratos que, ao longo de quase 40 anos desta carreira livresca, colecionei; são carinhos de amigos artistas, cartunistas, gente que capta no traço a nossa alma. Simbolizo-os na figura única presente, o talentoso J. Lima (Arteiro Geral), já que os outros não puderam me atender. Eles, os artistas do traço, dizem que uma imagem vale por mil palavras – daí a minha homenagem de agradecimento na forma apenas de seus desenhos de mim.

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sábado, dezembro 06, 2014

Poesia de ontem para sempre

O livro-homenagem do poeta Ademir Hamu à sua neta Leninha


Poesia de ontem para sempre



Meu velho amigo Ademir Hamu presenteia-me duplamente com seu novo livro: Leninha - Poesia, Samba e Rock. Ele, que é um misto de médico e professor, de poeta e homem feliz, batizou-se em letras e livros com Travessia de Gente Grande, nos primórdio dos anos  80 – a última década do mundo mágico da MPB.

Depois, vieram seus filhos, Bebel e Lucas, e outros livros, até uma série já inaugurada de biografias de vila-boenses notáveis – importante contribuição para a o historiografia de Goiás, mormente para a antiga capital. Em meio a isso, outros volumes de poesia da lavra do incansável goiano nascido em Paracatu, Minas Gerais.

Ora: goianos somos, quase todos, filhos de baianos, maranhenses e outros nordestinos; mas principalmente de mineiros e, em menor incidência, de adventícios de outras regiões. Bom mineiro, melhor goiano – assim é o meu amigo Ademir, o poeta dermatologista. Tornou-se tão goiano que, claro, ele é hoje minoria absoluta em sua família de goianos nativos.

Nessa trajetória livresca, deu-me carona em algumas de suas obras, do que me orgulho. Mas neste Leninha - Poesia, Samba e Rock ele me fez presente: o livro festeja sua neta primeira, a Leninha (filha de Bebel e Hugo). Trata-se de um belíssimo álbum de fotografias, cuja montagem visual (diagramação e capa) traz as ricas assinaturas do casal Luciana Fernandes e Alessandro Carrijo (a quem devo a riqueza visual do meu As Uvas, Teus Mamilos Tenros, com desenhos de Pollyanna Duarte).

Ademir ilustrou as fotos de Leninha com versos universais de poemas e canções, misturando versos de expoentes brasileiros (de Manuel Bandeira e Vinícius de Morais até Cazuza e os modernos sertanejos) com notáveis estrangeiros: Steve Wonder, Ray Charles, Bob Marley, Maiakovski... Não dá para citar todos, mas a surpresa que me coube foi a de figurar em duas ocasiões do livro!

A capa concebida por Anna Carolina
Cacau, com minhaa caricatura por Nathan


A coincidência se dá por receber este mimo justo quando eu conferia, na Editora Kelps, o resultado final do meu livro Poesia Completa, que lançarei no dia 11, quinta-feira, na sede da empresa EBM, na Alameda Ricardo Paranhos. Recordei-me que foi lá Kelps, há 30 anos, que publiquei meu terceiro livro (De Mãos Dadas com a Lua; o segundo de poemas). Era o segundo feito pela pequena Gráfica Pirâmide (primeiro nome da Kelps): antes, só o já citado Travessia de Gente Grande, de Ademir Hamu).

Enfim e em síntese: este meu novo livro é o conjunto de 11 volumes anteriores – que, se publicados título a título, seriam 14 volumes de poesia, pois naquele a que chamei Sarau juntei três livros, e dois outros constituíram o mais recente, De Amor e Ontem.

Esta crônica é, pois, um duplo convite: busquem conhecer Leninha - Poesia, Samba e Rock e venham ao lançamento do meu Poesia Completa. O mundo é muito mais bonito com poesia!

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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.