Este autor e Luiz Augusto P. Sampaio, em evento literário |
A nossa primeira lista telefônica
Luiz Augusto Paranhos Sampaio – professor de Letras
vernáculas e Modernas; advogado e professor de Direito; Procurador da
República; articulista e cronista (pioneiro: é dele o primeiro livro de
crônicas sobre Goiânia, Café Central,
de 1964), membro e ex-presidente da Academia Goiana de Letras – é um
intelectual incansável. Acaba de enfeixar seu livro Primeira Lista de Assinantes de Telefones de Goiânia, 1943,
importante documentário da vida social, empresarial e política da então
incipiente capital de Goiás, com cerca de 50 mil habitantes e pouquíssimas vias
pavimentadas.
Até os anos iniciais da década de 1970, o telefone era um
luxo (o telefone fixo; os celulares surgiriam mais de vinte anos após). Em 1943
(dois anos antes do meu nascimento) a telefonia local se fazia com a
interferência indispensável de uma telefonista. Era assim: tirava-se o fone do
gancho (apoio para a peça que se chamava fone e continha duas cápsulas – a
bocal e a do ouvido); uma voz feminina (sempre) se identificava dizendo
“Telefonista”, e o usuário recitava o número para onde se devia ligar. A
telefonista operava um sistema de fios e completava a ligação.
Na década de 70, muitas cidades brasileiras ainda tinham
suas redes telefônicas operada pelo mesmo procedimento. E foi no segundo lustro
(1975-9) que a Embratel, holding do
sistema telefônico brasileiro, todo federalizado, renovou drasticamente o
sistema, dotando todas as localidades de telefones automáticos (expressão que
aparece no poema Vou me embora pra
Pasárgada, de Manuel Bandeira), ou seja, aqueles dotados de um disco com
dez orifícios, identificados com os algarismos de 1 a 0 (após o 9); os de
teclado surgiriam depois, já na década de 80.
Os mais modernos celulares têm memória bastante para conter
tudo de que precisamos. Antes, as listas telefônicas eram indispensáveis. Elas
continham todos os assinantes de uma rede, em duas ordens – a lista alfabética,
geralmente por sobrenomes, e a de endereços. E tinham também as “páginas
amarelas” ou “lista classificada” - traziam somente empresas, entidades,
instituições e profissionais liberais.
O que o imortal Luiz Augusto Paranhos Sampaio nos anuncia,
pois, é a Primeira Lista de Assinantes de
Telefones de Goiânia, 1943. Nesse livro, Sampaio biografa os assinantes
(aproximadamente 500) que fizeram parte dessa primeira lista de telefones – na época,
com quatro dígitos. Diz ele:
– Estão relacionados os pioneiros, os primeiros órgãos
públicos e sua história, as lojas que vendiam "fazendas"( tecidos
para o vestuário das damas da época), os telefones de emergência, os da
Chefatura de Polícia (à época, somente por esses aparelhos era possível falar
com os policiais civis ou militares), os indicadores profissionais dos médicos,
hospitais (pouquíssimos , apenas clínicas), advogados, do Fórum, dos empórios,
dos odontólogos, das vendas, dos bares, do Tribunal de Apelação (hoje, de
Justiça), da única torrefação de café, da Vasp, das "firmas" que
faziam o trajeto de Goiânia para a antiga Capital do Estado, das farmácias
(poucas) atualmente há 1.260 drogarias, alfaiataria, de O Popular, da Rádio
Clube, dos cinemas, dos fotógrafos, da "garage" (sic) do Estado, do
Liceu (que na lista consta como sendo Colégio Oficial de Goiaz, telefones 1167
e 1168, situado na Rua 21) e muitos outros. Lutei muito para saber sobre os
antepassados desses assinantes. Alguns fizeram pouco caso e não forneceram
dados sobre seus avoengos. Foram três anos de pesquisas. Pensei em escrever
sobre a segunda lista, a de 1949, em que vários assinantes apareciam com os
mesmos telefones, mas é essa bem mais ampla, com "reclames" (era como
se chamavam as propagandas).
Sabemos que o interesse do poder público é mínimo no que
tange à história – haja vista o “tombamento” (literal) de incontáveis
construções de época, numa capital de apenas 83 anos! Obras escritas, então,
bem como mapas e cartas do fazimento de Goiânia desaparecem a todo instante. Há
bem pouco tempo, a Câmara Municipal realizou (?) uma Comissão Especial de
Inquérito, conhecida como “a CEI das pastas vazias” – esse título nos dá uma
ideia de como as administrações municipais tratam seus documentos.
Venha, pois, o livro de Luiz Augusto Sampaio! Com ou sem
apoio oficial.
*****
Luiz
de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras.
7 comentários:
Gostei das informações sobre fatos que muitos desconhecem.
Que maravilha!
Goiânia mudou muito, apesar da cidade hoje ter mais coisas, uma quantidade maior de shoppings, ser mais rica, com muito mais prédios envidraçados, eu tenho saudade de uma Goiânia mais pacata e com mais valores, mais preservada, de pouco tempo atrás. Gostaria muito de ver esse livro.
"Meu Deus! Isto fala!" (Dom Pedro II para Graham Bell, na Filadélfia)
Impúbere, pouco usei os telefones à manivela, operados pelas telefonistas, mulheres incansáveis, que quando não enlouqueciam, morriam surdas. Na década de 60, no Rio de Janeiro, já estavam disponíveis os aparelhos dotados de discos (CTB), ao alcance de uma parte da população (os suburbanos, como sempre, prejudicados). Houve uma verdadeira explosão, quando o Governador Carlos Lacerda fundou a CETEL - Companhia Estadual de Telefones, expandindo os serviços a todo o Estado/Cidade. Tornei-me assinante!
Aí, em Goiânia, cidade que, infelizmente, pouco conheço, organizar uma lista telefônica com 500 assinantes, de 1943, deve ter sido um árduo trabalho, embora muito interessante. Espero que seus conterrâneos valorizem os 3 anos de pesquisa do Professor Sampaio, em obra única. Viva o patrimônio intelectual!
Muito obrigado, meu confrade Luiz de Aquino, pela nimia gentileza de escrever a crônica, por sinal muito lida, sobre meu próximo livro, livro este que o Iuri diz que quer publicar, entretanto é de sua preferência fazer outros na frente, sobrestando o meu.Um abraço.
Do ponto de vista histórico, deve ser um livro indispensável. Ainda mais em um país sem memória, como o nosso.
Desde que Noé desceu da arca eu cobro este livro do Luiz Augusto Paranhos Sampaio. Agora, com a interferência do Luiz De Aquino Alves Neto, ele sai hehehe
Fui aluno do prof, Luís Augusto. Ano de 1956, no Ateneu Dom Bosco. Ele era jovem e eu um menino com 11 anos. Era o admissão. Meu colega Rafton, falecido há poucos anos, tb estava junto. Bons tempos. Parabéns, professor. Baratinha.
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