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quinta-feira, agosto 18, 2016

Campinas, Goiânia (crônica da cidade-mãe)

Meu amigo Benevides de Almeida emociona-me com esta crônica, que recebi como um primeiro passo dele no sentido de nos proporcionar um livro de memórias de sua experiência de cidadão e jornalista histórico. Ele se refere a um vídeo que pode ser visto em https://www.facebook.com/conhecagoiania/videos/1809948369239774/?pnref=story). Obrigado, Bené!
L.deA. 




A Campininha que o meu amigo Luiz 

de Aquino não conheceu

Benevides de Almeida (*)


Li o post do amigo Luiz Aquino falando da nossa Goiânia dos anos 60/70 -https://www.facebook.com/conhecagoiania/videos/1809948369239774/?pnref=story - período em que ela atingiu o maior percentual de crescimento físico com a antiga empreiteira Encol salpicando o centro da cidade de prédios que não ultrapassavam os 15 andares. O goianiense estufava o peito de orgulho. Afinal, isto aqui estava virando cidade grande. Quando foi anunciada então a construção do edifício Aquarius Center (Av. T-63, Setor Bueno), fora do triângulo do Manto de Nossa Senhora – formado pelas avenidas Paranaíba, Tocantins e Araguaia, com a Praça Cívica no vértice - que chegou à marca dos 20 andares, o goianiense foi à loucura. Está consolidado: ninguém mais segura Goiânia.

Mas isto é do tempo que tem como referência a chegada do Luiz de Aquino a Goiânia, que o acolheu como filho adotivo e ele correspondeu como filho legítimo. Luiz não é como um desses bastardos que aportaram por aqui para ficarem ricos e receberam títulos de cidadania, passando a ocupar posições de destaque nas galerias dos grandes vultos goianienses no lugar dos verdadeiros heróis da epopeia da nova Capital: os construtores – serventes e pedreiros. Estes foram arregimentados pessoalmente por Pedro Ludovico para a edificação dos primeiros prédios públicos e que aqui ficaram ao final de suas jornadas profissionais. Eles sim, tornaram-se goianienses não por lei elaborada nas conveniências de interesses políticos, mas por mérito que não precisa de citação num papel emoldurado pendurado na parede. A grande homenagem que se presta a eles vai durar milênios. Está personalizada pelos chamados “negrões da praça Cívica”, monumento dedicado às três raças que participaram o erguimento de Goiânia.

É claro que há exceções neste contexto das concessões de cidadanias, algumas das quais chegaram a ser rejeitadas pelos homenageados devido a nuanças de trivialidade que adquiriram por passarem a ser distribuídas como milho dentro do galinheiro. Os que fizeram jus à honraria de serem agraciados com o gentílico goianiense merecem todo nosso respeito por terem sido, realmente, comprometidos com o desenvolvimento desta cidade. Conheço alguns.

O repórter Benevides na 24 de Outubro, que ainda terminava na Praça Joaquim Lúcio (era o tempo de Fusca, Vemag, Simca...).


Eu quero falar mesmo é da Campininha, a Chacrinha, como a chamavam os esnobes de Goiânia que o Luiz não conheceu, bem antes de 1963, época em que ela começou a se confundir com o perímetro urbano de Goiânia em todo o delineamento da fronteira oeste da Capital. Foi quando a prefeitura impregnou a cidade com o jargão na propaganda oficial do município: "Goiânia constrói cinco casas por dia".

Quero lembrar a Campininha do Atlético de Fabinho, Epitácio e Pitinho. A Campininha do bar do Chiquinho de Castro (mais tarde prefeito de Goiânia); do Bar do Chico, quase em frente ao primeiro, na 24 de Outubro; do Bazar Paulistinha rodando os rocks doidos do Little Richard, também na 24 de Outubro; da paquera dos adolescentes em frente ao Colégio Santa Clara, do meio dia à uma hora, quando as meninas saíam das aulas, com destaque para as lindas filhas vestidas de azul e branco do José Luiz Bittencourt, que veio a ser governador de Goiás; das jardineiras-de-bico fazendo lotação na linha Campinas - Goiânia; do ônibus papa-fila levando as normalistas para o Instituto da Educação na Vila Nova; do cine Tocantins; dos prostíbulos da Avenida Bahia; da rádio Difusora; do Campinas Palace Hotel; do coreto em estilo colonial (parece) da Praça Coronel Joaquim Lúcio; do Mercado Municipal; do Cine Eldorado com suas 55 luminárias afixadas no teto; do vai-e-vem dos engraxates nos fins de semana; do 5º. Distrito Policial, cuja guarnição composta de alguns policiais militares conhecia todo mundo (quem, dos campineiros antigos, não se lembra do soldado Jorge, que pegava os menores zanzando pelas calçadas dos prostíbulos da avenida Bahia e os entregava aos pais?); da velha matriz em frente o Santa Clara; do Lindomar Castilho(era Cabral na época) e do Josaphat Nascimento soltando a voz nos bares da cidade-mãe ou no programa "A Hora da Sineta" apresentado pelo Omar Barbosa, no auditório da Rádio Difusora; do Zé da Folha, figura popular que executava Violetas Imperiais assoprando folhas de ficus, comuns na arborização das ruas; das acanhadas dependências do Sesc de Campinas antes de ir para a rua Rio Grande do Sul; da menina Rosa, por quem me apaixonei aos 12 anos e ela por mim, mas ambos tínhamos vergonha de nos revelarmos um ao outro, o que era motivo de risadas e chacotas pelo resto da turma: Adilson, Antônio, Edson, Waldir, Edvaldo, Donato, Silvinho, Alair, Dete, Waltinho, Jurandir, Osterninho, Petrônio e muitos outros; do campo do Vasquinho, quase no final da 24 de Outubro; do raspadinho paulista; do pirulito na tábua; dos hipnotizadores de araque que todos os anos se apresentavam nas novenas da Praça da Matriz e a molecada fingia que estava sob o controle deles, que acreditavam nisto, para delírio dos adultos; do Posto Guimarães, que durou meio século ou mais na 24 de Outubro; dos ensaios da fanfarra do Liceu de Campínas para disputar com a do Liceu de Goiânia na Parada da Independência...


Paro por aqui, viu, Luiz? É coisa demais para se lembrar! Um ano de Campinas dá para se escrever um livro. Essas reminiscências tiraram minhas emoções do sério!


*****


(*) Benevides de Almeida é jornalista, aposentado, testemunha viva da história desta cidade. 

Um comentário:

Luiz de Aquino disse...

O jornalista Benevides de Almeida foi, para todos os que desfrutamos de seu convívio, o repórter-símbolo nesta Goiânia dos anos 70 e 80, principalmente! Ouvi de muitos jovens colegas que se inspiravam nele para obter as melhores informações, para cativar fontes de referência e principalmente para dar ao texto "o tempero" que o Bené tão bem sabia aplicar em suas reportagens.

Tive-o como companheiro na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Goiânia, como editor na Folha de Goiás (que se escrevia, erroneamente, Goiaz) e pude usufruir de riquíssimas trocas de informações sobre a realidade e a história de que jamais um bom jornalista pode prescindir!

Por isso a minha alegria ao merecer dele esta crônica, que complementa o meu depoimento sobre os cinemas goianienses da nossa juventude (aliás, Bené sempre foi excelente nessa coisas de complementar informações sobre praticamente tudo do nosso quotidiano!).