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domingo, agosto 14, 2016

Mulher – ícone da espécie!



Mulher – ícone da espécie!


Agosto de seca e ventos, redemoinhos tubos avermelhados ocre terracota do chão ao céu, razão de susto, medo e beleza. Menos maléficos que as queimadas que dizimam o cerrado, atingem as matas e só agradam aos que, sem escrúpulos, almejam lucros de exportação de soja cana et cetera e tal, transformando o cenário, empobrecendo a natureza com a erradicação biológica de plantas e animais e, pior que tudo o mais, minguando as nascentes neste Planalto Central das Águas Emendadas...

É isso, meu amigo Altair Sales Barbosa! “A força da grana que ergue e destrói coisas belas” extrapolou a metrópole que encantou Caetano Veloso. Os ventos do Sul trouxeram os excedentes da extinção das matas das serras sulinas e fez das araucárias imagens de saudade em folhinhas e cartões postais – coisas também extintas pelo advento temerário da tal tê-í, ou seja, a tecnologia da informação, produto imediato da cibernética portátil e popularizada, como o automóvel popular, o celular e a falta de educação.

Manhã de sábado, um médico dá entrevista a um programa matinal na Globo. No patamar dos setent’anos, envergonho-me ao ver um médico – antes, profissionais privilegiados pela detenção de admirável bagagem cultural – expressar-se com dificuldade, sem compreender as funções das preposições e conjunções em seus devidos lugares.

E por falar em médicos, que beleza esse time feminino de futebol que – agora, sim – enverga com dignidade o manto canarinho do que aprendemos a chamar de “a nossa Seleção”! Os rapazes, encantados e seduzidos, contaminados mesmo, pelos salários astronômicos e a fama nas mídias, restituíram-se sem escrúpulos. Mas a equipe de Marta fez valer um valor esquecido nos meios esportivos em que a pecúnia vale mais que o propósito definido em estatutos – a dignidade pessoal, o respeito à nação torcedora e o compromisso com os símbolos desta nação.
Marta, cinco vezes a Melhor do Mundo. O que ela faz não é trabalho?
A vitória nos pênaltis, no comecinho da madrugada deste sábado, foi emocionante! Algo que a rapaziada da CBF perdeu há anos, mas que as meninas da mesma Confederação Brasileira de Futebol assumiram, tal como vemos, com naturalidade, as mães assumirem papel de mãe-e-pai ante a fuga dos machos covardes que não sabem ser responsáveis.

E vem aquele outro médico (foi desse que me lembrei) dizer que os homens trabalham mais que as mulheres. Fico por entender esses profissionais, que se creem semideuses, a proferir tanta idiotice sem lastro de informações indispensáveis! Sou de um tempo em que um cidadão era chamado para ser ministro por deter condições sociais (políticas ou classistas) adequadas e conhecimentos específicos e gerais que os tornassem aptos. Hoje, a coisa advém de trocas mesquinhas e inconfessáveis – como isso (os da imprensa sabem sempre...) de se nomear agiotas com poderes suprapartidários, alguns com condições “morais” sobre o chefe a ponto tal de “responder” por todo o governo – como uma espécie de primeiro-ministro informal.


O ministro da Saúde não sabe o que faz uma mulher com esses brinquedinhos...

Esse doutor Ministro da Saúde deve ter sido criado e forjado numa estrutura de mãe, avós, tias e irmãs dondocas de pouca utilidade num contexto social – até mesmo no núcleo familiar. Deve ser dos que acreditam que as empregadas domésticas que conheceu não passam de fêmeas animais – ensinamentos que os oligarcas transmitem aos filhos como aprendizados de avoengos escravistas, escravagistas.

Deve ser dos tais que perguntam a alguém:

– Mas você só leciona? Não trabalha?

Sim, porque profissionais desse naipe adoram ser chamados de “professores”, mas não reconhecem o mestre-escola como peça fundamental de seu crescimento – afinal, ele é semideus!
Madre Tereza de Calcutá, que Deus nos cedeu por 87 anos. Ela nunca trabalhou, também?
E este escriba, pai e muitas vezes avô por via de meus filhos e sobrinhos, vale-se deste Dia dos Pais para homenagear a mulher atleta, a mulher mãe, a mulher trabalhadora, dona de casa, matriarca, namorada, parceira no lar e na sociedade, bem como as incontáveis e sempre incompreendidas amantes!

Viva a Mulher! Abaixo os conceitos irracionais!


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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

2 comentários:

Sônia Elizabeth disse...

Belíssima crônica, Luiz De Aquino. Agradeço em nome de todas as mulheres.


Sônia Elizabeth

Luiz de Aquino disse...

Retoque: na minha crônica desta semana, eu disse (supus) que o ministro da Saúde era médico, pois que, à exceção de José Serra, a Cadeira é reservada sempre aos "esculápios". Mas não, e peço desculpas (se bem que eu sequer lhe sabia o nome)! Lendo o artigo de Cileide Alves, "A gafe do ministro e a familiocracia na política brasileira" (https://trendr.com.br/a-gafe-do-ministro-e-a-familiocracia-…), fiquei sabendo que o homem se chama Ricardo Barros e é engenheiro.
Mas a gafe continua injustificável e este esclarecimento apenas ratifica meus argumentos sobre a má qualidade dos ministros nos últimos tempos (mais precisamente, desde FHC) - e a atual equipe não se diferencia das de Lula e Dilma, também.