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sexta-feira, abril 14, 2017

Diretas-Já em Goiás, por Iuri Godinho

Iuri Godinho conta: 

O jornalista Iuri Rincon Godinho, membro da Academia Goiana de Letras, autor de Diretas Já em Goliás. 



Diretas Já em Goiás



Um dia, o Brasil parou para ver Goiás. Era 1984, vivíamos um tempo em que as mudanças não podiam mais ser adiadas. O próprio Partido Democrata Social, PDS (nome novo para a Arena, Aliança Renovadora Nacional), sentia que seu valor na avaliação popular estava mais baixo que ação da Petrobrás após o escândalo das propinas. O segundo partido era o PMDB (ao nome Movimento Democrático Brasileiro, antepôs-se a palavra Partido – antes proibida pelos militares, e agora exigida).

O sonho “votar para presidente” incendiou o país como um rastilho de pólvora em torno de um imenso tanque de gasolina. Um jovem deputado federal de Mato Grosso, Dante de Oliveira, apresentou uma emenda constitucional para restaurar o voto direto, que o Congresso, manipulado pelo comandante da República, conseguiu evitar. Meses depois, o mesmo Congresso elegeu, por voto indireto, o candidato que o povão teria elegido na eleição direta.

Os primeiros anos da década de 80 foram marcados pelas decisões das massas, em todo o país, pelas mudanças – e as queríamos já!

Havia - para nós, goianos – um fator fortíssimo para nos mobilizarmos no empenho pelas Diretas-Já, naqueles anos de 1983 e 84: a eleição fragorosa do governador Iris Rezende Machado, em 1982 e as expressivas figuras dos senadores Henrique Santillo, pela sua verve e coragem oposicionista, e Mauro Borges, um ícone desde 1961, quando enfrentou os generais que pretendiam impedir a posse do vice-presidente João Goulart quando da renúncia de Jânio Quadros.

Iris era, mesmo, o grande capitão. No dizer de Tancredo Neves, “é só o governador assobiar que o povo (goiano) atende correndo”.



Mas estou chovendo no molhado. Toda essa minha fala é, na realidade, para contar do último feito do meu amigo e confrade acadêmico Iuri Rincon Godinho, jornalista e poeta. Há poucos dias, ele lançou o livro “Diretas Já em Goiás”, no qual ele narra, em ótima linguagem jornalística, o fato da mobilização em Goiânia, considerada “a maior mobilização popular no país, em termos proporcionais”, daquele 12 de abril de 1984.

Para nossa vergonha, algum segurança barrou o compositor Braguinha (João de Barro), autor de Carinhoso e As Pastorinhas, de subir ao palanque – ele viera de Brasília especialmente para cantar no comício, no palanque em que reinou Fafá de Belém ao cantar o Hino Nacional Brasileiro à capela, com um arranjo especialmente feito para ela.


O livro de Iuri é, para mim, um dos melhores livros jornalísticos que já li – e já li muitos, e muito bons! Ele tem não só a competência técnica que se exige de um bom jornalista – técnica em que se incluem conhecimentos de História, de Geografia, de “realidade regional” (apelido que os professores criaram para suprir carências na formação básica), com forte percepção política e sociológica dos fatos. A isso, acrescente-se o indispensável talento literário de Iuri Rincon Godinho, do que resultou um texto conciso, mas límpido e claro, “com molho e tempero”, como diria Brasigóis Felício.



Justo por isso, o nonagenário romancista, político e jurista, membro efetivo e ex-presidente da Academia Goiana de Letas, Ursulino Leão, discursou, menos de 48 horas após o lançamento de Diretas Já em Goiás, em sessão ordinária da AGL, exaltando o feito do confrade, conclamando seus pares a fazerem como ele, que leu “de uma só sentada” todo o livro.

Faço coro ao confrade Ursulino:

– Leiam, caríssimos leitores! Vale a pena!


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Luiz de Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras.


2 comentários:

Sueli Soares, professora e advogada. disse...

Boa noite!

Aproxima-se o dia 21 de abril, o que me causa alguma perturbação. Enquanto lia a crônica, vinha-me à lembrança o ano de 1985. Viajei até a atualidade e, sinceramente, não consigo vislumbrar, a curto prazo, dias melhores. É difícil aceitar esse desenfreado pluripartidarismo e suas indecentes alianças, a título de governabilidade. Ainda ontem, comentei a respeito de adversários e ex-cúmplices. Vi, com a euforia dos meus saudosos trinta e poucos, os movimentos pelas eleições diretas aqui, da minha cidade. As imagens que chegavam da nova capital eram fantásticas. Gostaria de adquirir o livro que você sugere.

Leda Selma, presidente da Academia Goiana de Letras disse...

Peço-lhe emprestadas, para dizê-las a você, ou melhor, à sua crônica, o que disse sobre o livro do Iúri. E resumo: nota 100, seu texto, amigo! Obrigada por permitir-me lê-lo. Lêda