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domingo, julho 30, 2017

Conversa de boteco

Conversa de boteco como não há mais



Esta geração que já atingiu a sétima década – ou seja, já se marca pelo prefixo “sex”- tem lembranças das graves mudanças sociais da adolescência, notadamente quanto ao progresso dos métodos contraceptivos, permitindo a (antes) tão sonhada liberdade sexual. Sim, aqueles anos de 1960-70 foram de transformações e preparação para tempos melhores, no que toca ao comportamento humano entre os gêneros. Pena que...

Sim! Nada acontece sem gerar resultados no azul e no vermelho. Vivemos (já sou septuagenário) aquelas transformações, lutamos por liberdades, valemo-nos de slogans e até mesmo de ideologias políticas que nos permitissem combater o conservadorismo que restringia o alcance da liberdade – individual, sexual, ideológica e capaz de praticar o respeito às diferenças.

Infelizmente, em todos esses itens restam sempre os ranços da discriminação (o que chamam, às vezes erroneamente, de preconceito). Sei de uma senhora, em idade de poucos anos a menos que a minha, que não gosta de homossexuais nem de pretos. A uma amiga que a rotulou, respondeu: “Não é preconceito, não – é conceito”.

Putz!, diria o saudoso Henfil nas páginas do Pasquim, o grande jornal nanico que se tornou porta-voz dos nossos anseios. E viva os eufemismos, hem?

Enfim, os gays puderam assumir sua sexualidade, os pretos ergueram suas cabeças, os velhos – que não eram respeitados – ganharam até um estatuto. E lá pelos últimos anos da década de 80 e boa parte da seguinte, a última do século passado, muito se falou e se conceituou sobre a ética. Sei de mim, que já passara de 40 anos, que aqueles valores éticos – não os códigos profissionais, mas os que regiam as relações generalizadas – eram praticados em casa, ensinados na escola e disseminados nas tropas de escoteiros e bandeirantes (na época, não havia escoteiras, as garotas adolescentes, chamadas de meninas-moças, eram mantidas afastadas dos meninos adolescentes, apelidados de rapazinhos).

Sei bem que aqueles valores eram por nós mantidos como esteios ou vigas mestras de nossas vidas adultas. Em 1970, foi-me fácil processar uma das unidades da disciplina Educação Moral e Cívica, a da Axiologia, com fundamentos na educação em família, no aprendizado das escolas e nos preceitos escoteiros.

Em suma, a minha geração deveria ter por padrão um comportamento menos desleixado do que esse que norteia nossa política. A nação está decepcionada, machucada, magoada com os representantes que elegeu, pois a prática da corrupção sem qualquer escrúpulo, às claras, à luz do dia ou dos holofotes, os argumentos nojentos que os políticos e seus asseclas tecnocratas vociferam nos noticiários de rádio e tevê seriam motivo para represálias sociais e legais em qualquer outra parte do mundo, mas tornamo-nos um povo contaminado pela liberdade desde aqueles anos chamados de “redemocratização”.

Desenvolvemos como item do respeito ao próximo a supervalorização do individual sem o competente limite ao direito do outro. Ou seja, toleramos alguém ser errado e até criminoso sob o argumento da “escolha individual”, mas omitimo-nos ante os males que essa liberdade individual exacerbada cause a terceiros.

Fui claro ou tenho de dar nomes a Temer, Meireles e à caterva que os bajula?


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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

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