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quinta-feira, agosto 17, 2017

Emoções da Caminhada

Emoções da Caminhada, ainda...



Sempre me intriguei com as medidas. Elas, ainda que traduzidas num mesmo número, mostram-se variáveis, nunca são iguais.

Explico (ou tento): tomo por base a largura da minha rua, de muro a muro, o de cá e o do lado oposto. Sei que são 12 metros, aproximadamente, e noto que se trata de uma estreita faixa entre as construções. Certa vez aprendi que rua não é só a faixa onde transitam os veículos, mas incluem-se as calçadas, isto é, a rua é integrada também pelos imóveis edificados, daí não ser correto dizer que certa casa ou edifício está “à rua X”, mas sim “na rua tal”.

Bem, eu falava de medidas e não de conceitos. E disse dos 12 metros horizontais que são a largura da minha rua. Ocorre-me que a mesma medida, na linha vertical, parece ser bem maior, tanto para quem olha do alto ou ao que avalia de baixo para cima.

O mesmo se dá com a medida do tempo. “Daqui a 15 dias” (ou dez anos) é algo distante, remoto, em dadas circunstâncias parece algo inalcançável – mas o mesmo tempo, quando referente ao passado, torna-se algo bem menor. O que está por vir pode nos causar ansiedade, mas o passado mostra-se pequenino.

Tudo isso para chegar, uma vez mais, à tradicional caminhada, como que romaria, de Goiânia a Aruanã, nos meses de julho de todos os anos, há 26 anos. Desta vez, sem que eu jamais me imaginasse naquela troupe, vi-me envolvido! O professor Antônio Celso, coordenador técnico da caminhada, envolveu-me emocionalmente ao contar coisas de sua experiência com os “andarilhos da natureza”.

O foco da nossa conversa era a casa de Dona Maria do Uru, mãe do meu saudoso amigo João Batista Rodrigues de Morais. Viajei ao passado, há uns 40 anos idos, e achei muito pouco aquele tempo. Aceitei seu convite para estar com os atletas e equipe no momento do almoço da quarta-feira, o segundo dia da marcha, justo na fazenda Uru, à margem do rio do mesmo nome, à beira da GO-070, a Rodovia Jaime Câmara.

Aquele período de poucos dias entre o convite e o feito pareceu-me uma eternidade. Alcancei o grupo a poucos quilômetros da ponte do Uru e já, já paramos o carro diante da casa. Emocionei-me ao encontrar pessoas queridas que não via há mais de três décadas! Eram Mariquinha, Izabel, Sônia, Marcelo... muitas lembranças, referências a pessoas queridas e ainda mais emoção quando os andarilhos chegaram, ao inaugurarem a placa (a matriarca falecera em abril, isto é, há cerca de três meses) e ao trocarem as prosas no intervalo de um ano.

Valeu viver aquilo! Surpresas, alegrias, lembranças... E a tradição iniciada pelo Cristo, isso de se reunir para a refeição, o prazer dos sabores e da boa conversa. Gostei muito de conhecer Paulo Lacerda, o coordenador geral da histórica empreitada de todos os anos, “o homem d’O Popular”, liderando uma expressiva e competente equipe da qual depende todo o êxito da logística indispensável.

A mim, não bastava apenas emocionar-me no reencontro de bons amigos de um ontem distante. O pensamento é, nessas ocasiões, ágil veículo de outra viagem, de partida e chegada instantâneas, essa que nos conduz à mocidade e causa reencontros que só a mente define. Lembrei-me do patriarca criador da (antes) Organização, hoje Grupo Jaime Câmara – um homem de visão empresarial, expert em comunicação, mas diletante na arte apreciável dos que nasceram para servir.

Olhei em silêncio meu interlocutor Paulo Lacerda... Compreendi a harmonia entre ele e o mestre Antônio Celso, a liderança saudável que proporciona segurança a cada um daqueles 29 atletas e revi “seu Jaime” – capaz de firmar-se líder naquele silêncio dos sábios.

Três dias depois, no sábado, aguardei com uma feliz ansiedade a matéria nos telejornais, atestando o que todos esperávamos – a caminhada chegara ao seu destino com todos os itens planejados já realizados. Restou somente a renovação do sonho para a próxima.

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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

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